A prefeitura de Ribeirão Preto, por meio da Secretaria Municipal da Cultura e Turismo, realizou nesta quarta-feira, 24 de janeiro, no Complexo dos Museus, a cerimônia de assinatura da proposta de licitação para construção de reserva técnica e contratação de inventário do acervo dos Museus Histórico e de Ordem Geral Plínio Travassos dos Santos e do Café Coronel Francisco Schmidt, no campus da Universidade de São Paulo (USP).
O prefeito Duarte Nogueira (PSDB) e o secretário da Cultura e Turismo, Pedro Leão, assinaram os documentos, além de apresentarem detalhes do projeto de construção da reserva técnica junto ao presidente do Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural (Conppac), Lucas Gabirel Pereira, e Moacyr Corsi, diretor da empresa Corsi Arquitetura, contratada para elaborar o projeto.
“A construção dessa reserva técnica dos nossos museus resgata a memória afetiva e histórica da nossa cidade. Fortalece a ligação que o ribeirão-pretano tem com a preservação dos patrimônios do município. E tem muito a ver com o que a gente vem falando sobre nossos projetos, de poder falar do futuro. Porque para traçarmos o futuro precisamos conhecer e respeitar o passado”, afirma Duarte Nogueira.
Para o secretário da Cultura e Turismo, Pedro Leão, a aprovação do projeto e autorização para processos licitatórios foram passos importantes para resolver um problema histórico de salvaguarda do acervo, para que as etapas de restauro dos prédios sejam iniciadas. “Foi um processo longo, mas muito eficiente no que diz respeito à preservação do patrimônio público. Nós saímos hoje daqui, muito mais ribeirão-pretanos”, completou.
A aprovação do projeto de construção da reserva técnica aconteceu no dia 15 de janeiro, em reunião ordinária do Conppac com a participação de representantes da prefeitura, da empresa responsável pelo projeto, de especialistas na área de patrimônio e sociedade civil organizada. Será construída atrás da Casa do Colono e terá área total de 1.211,52 m² envolvendo térreo, pavimento inferior e pavimento superior.
O projeto foi desenhado de maneira que o pavimento térreo (intermediário) possa acessar diretamente o nível do Museu do Café e a altura da nova edificação não ultrapasse a altura desta edificação histórica. Estima-se que a obra tenha um custo de R$ 4 milhões.
Durante a cerimônia, foram apresentados detalhes sobre o serviço de elaboração do inventário dos acervos do Museu Histórico e de Ordem Geral e Museu do Café, que irá resguardar e garantir que o acervo seja organizado de forma sistematizada em banco de dados e salvaguardado na reserva técnica que será construída.
Estima-se cerca de seis mil objetos que serão organizados sob uma mesma tipologia, higienizados, etiquetados, catalogados, fotografados e embalados. Para este trabalho, será envolvida equipe de técnicos e especialistas como conservadores, agentes de acervo, inventariantes, fotógrafo, museóloga, historiadora e especialista em obras de gesso e especialista em mitigação de térmitas (controle de pragas).
O valor estimado dos serviços é de R$ 380 mil. De acordo com o presidente do Conppac, Lucas Gabriel Pereira, o projeto segue as readequações solicitadas pelos conselheiros em reunião anterior. Atende aos aspectos ambientais e paisagísticos do entorno, levando em consideração as construções coloniais dos Museus Histórico e do Café e teve aprovação unânime.
“O projeto aprovado foi o melhor possível para o local neste momento, por desrespeitar as normas de sustentabilidade, do meio ambiente e de patrimônio histórico”, diz. “Será um legado para Ribeirão Preto pelos próximos 50 a 100 anos”, ressalta Lucas Gabriel Pereira.
O local, além de abrigar o acervo, poderá também ser utilizado para formação, difusão e como espaço expositivo. Em dezembro de 2021, a prefeitura de Ribeirão Preto anunciou que precisaria de R$ 15 milhões para restaurar os museus.
O projeto de restauro não compreende somente a reforma e restauro dos museus, mas também a Casa do Colono, coreto e belvedere, os jardins e o entorno, inclusive o cercamento do complexo. Além da reserva técnica, também prevê a construção de estacionamento para os visitantes.
Esses novos locais serão incluídos em espaços que não irão interferir no patrimônio histórico. A novela do restauro dos dois museus começou em 2016, quando ambos foram interditados, depois que o forro de um dos cômodos desabou.
Com base em ação civil movida pelo Ministério Público, em outubro de 2017, a Justiça determinou que a prefeitura iniciasse, em até 90 dias, a restauração dos museus, sob pena de multa diária de R$ 1 mil. A administração recorreu da sentença, que acabou sendo mantida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Já em janeiro de 2019, a Justiça determinou que a prefeitura de Ribeirão Preto teria de reformar os museus em até dois anos, sob pena de multa de R$ 10 mil por dia de atraso. Os acervos também deveriam ser restaurados dentro de um ano.
O Complexo dos Museus
Com o objetivo de contar a história do “ciclo do café” em Ribeirão Preto e no Brasil, Plínio Travassos dos Santos começou a recolher e colecionar objetos alusivos a cultura do “ouro verde”. Em 20 de janeiro de 1955, já com um número significativo de objetos, foi inaugurado o Museu do Café, instalado provisoriamente, em três salas e três corpos das varandas que circundam o edifício do Museu Histórico.
O prédio do Museu do Café Coronel Francisco Schmidt foi inaugurado oficialmente em 26 de janeiro de 1957, no campus da Universidade de São Paulo (USP). O Museu Histórico e de Ordem Geral começou a sair do papel em 1938, por iniciativa do seu patrono Plínio Travassos dos Santos. Com o objetivo de criar um Museu em Ribeirão Preto. A criação foi oficializada em julho de 1949.
Em 1950, o município recebeu por empréstimo a casa-sede (antigo Solar Schmidt) da Fazenda Monte Alegre. Este imóvel e a área circundante foram posteriormente doados (em regime de comodato) mediante autorização legal. Em 28 de março de 1951, instalado definitivamente no antigo Solar Schmidt, o museu foi inaugurado, com as seções Artes, Etnologia Indígena, Zoologia, Geologia e Numismática.
Os Museus Histórico e do Café abrigam um dos mais importantes acervos relacionados ao café, formado por cerca de três mil objetos, dentre eles documentos históricos, fotografias, numismática, etnologia indígena, mineralogia, mobiliário, indumentária, além de obras de arte como pinturas e esculturas de artistas de renome como Victor Brecheret, Rodolfo Bernardelli, José Pereira Barreto, Tito Bernucci, Oscar Pereira da Silva, J. B. Ferri, Odete Barcelos, Colette Pujol, muitas com temática histórica.