Tribuna Ribeirão
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Professor doutor Geraldo Noel Arantes 

Edwaldo Arantes *
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No longínquo ano de 1977, na noite do dia três de janeiro, embarcamos em um “São Bento”, deixando para trás, bailes, namoros, futebol e todos os prazeres da cidade natal.

Noel contava quatorze anos, eu, dezesseis, emancipado, pois precisava da minha “maioridade civil” para assumir minhas responsabilidades.

Trazia no bolso o endereço de uma pensão e uma carta de recomendações à proprietária.

Na manhã seguinte, pedi explicações e indicações sobre a melhor escola pública de Ribeirão, todos indicavam: Otoniel Mota, Tomás Alberto Whatelly e Santos Dumont.

Optei pelo Otoniel, antigo Gynásio do Estado, matriculei o mano e consegui meu primeiro emprego, fui trabalhar no UNIBANCO – União de Bancos brasileiros S/A, na Rua São Sebastião, nº 510, da família Moreira Salles, mineiros como eu,   bem, esta é  uma  outra história.

Noel sempre foi, inteligente, talentoso e genial, dono de uma mente brilhante e privilegiada Com dezesseis anos no terceiro ano, já era professor substituto no COC, participando da equipe titular de “Redação” e publicava seu primeiro livro.

No final do ano prestou vestibular, era seu sonho, pela Universidade Federal de Ouro Preto, escolhendo Engenharia Metalúrgica, pois pretendia voltar para Minas.

Foi aprovado, direto da escola pública para a UFOP.

No dia da partida e da viagem a Minas, fiz como minha mãe antes o fizera, passei-lhe todas as recomendações e conselhos, nos abraçamos e ele partiu.

Dois meses após, recebi um chamado do gerente administrativo com a cara “amarrada”,  com o fone a mão, foi logo dizendo:

É o seu irmão!

Pois, a ligação telefônica  foi feita a cobrar.

Noel, curto e monossilábico como era sua característica:

– Quero voltar para Ribeirão e cursar Letras!

Começou como professor do Colégio Universitário, estudando em uma faculdade particular, convidado pelo “Anglo Ribeirão”, ganhando melhor, adquiriu seu primeiro veículo, uma Brasília usada de cor bege.

Prestou novo vestibular pela Vunesp  no curso de letras   na Unesp de Araraquara,  aprovado em primeiro lugar, viajava todas as noites.

Transferiu-se para uma rede privada de ensino em  Campinas, lecionando em diversas cidades da região.

Ingressou na UNICAMP, onde fez uma brilhante carreira, terminando no seu apogeu  como docente. Autor consagrado, considerado o maior especialista brasileiro em “Campos de Carvalho”.

Amigo e parceiro de grandes nomes da intelectualidade, entre eles destaco: Guilherme José Purvin de Figueiredo:

“Fomos colegas de magistério superior na Universidade São Francisco, muito Inteligente, irônico e provocador.  Em 2013, começamos a idealizar a criação da Revista PUB. Noel, entusiasta do projeto,  trouxe  um amigo, Roniwalter Jatobá de Almeida, romancista consagrado. Nossos encontros no “Sujinho da Consolação”, sempre devidamente regados a cerveja, renderam a descoberta de que Noel havia estudado a fundo a obra de Campos de Carvalho, autor de A lua vem da Ásia. Era o que precisávamos para estabelecer a relação entre Advocacia Pública e Literatura”.

Voltemos ao “Anglo Ribeirão”. Noel possuía um ritual, nas suas aulas inaugurais, escrevia na lousa, o “Hino a São Sebastião do Paraíso”, olhava para a turma e indagava: Quem é de Paraíso? Sempre tinha um aluno, na maior parte, muitos no cursinho pré-vestibular

Vamos cantar o Hino a Paraíso. A cantoria sempre terminava sob aplausos.

Abram a apostila na página tal, “Introdução a Literatura”, mas, antes, quero deixar dois lembretes:

Primeiro:
Joaquim Maria Machado de Assis, só não foi Prêmio Nobel, por ser brasileiro.

Segundo:
A inteligência possui limite, é finita, chega ao seu ápice e estaciona. Ao contrário da burrice que é infinita, evolui sem cessar, o sujeito dorme e acorda burro, vai aumentando sua burrice até o fim da vida.

Em uma tarde de outubro, sob o esplendor da primavera, a estrela do gênio começou a se apagar bem de mansinho, diminuindo pouco a pouco, até desaparecer no horizonte do conhecimento.

* Agente cultural 

 

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