Tribuna Ribeirão
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A abdicação da rainha 

Rui Flávio Chúfalo Guião *
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A Rainha Margrethe II, do alto de seus 83 anos de idade, surpreendeu os seus cidadãos ao anunciar, no tradicional discurso de fim de ano, que vai abdicar do trono dinamarquês em favor de seu filho Frederico, no dia 14 de janeiro de 2024, data em que termina seu 52º ano de reinado. Seguiu-se uma tristeza geral no país, pois a rainha é muito estimada por todos e, com seu amplo sorriso e sua vida em constante contato com a população, cativa a todos os dinamarqueses.

O Reino da Dinamarca surgiu no século X e era, originalmente, uma monarquia eletiva, ou seja, morto o rei, seu sucessor era escolhido pelos pares do reino. Foi somente no século XVII, que a monarquia se tornou hereditária. A família reinante hoje é toda descendente dos fundadores, sendo a Casa Real mais antiga do mundo.

Quando o pai da atual rainha faleceu, deixando só filhas, foi necessário mudança constitucional, eliminando a determinação de que somente homens poderiam reinar.

Assim, em 14 de janeiro de 1972, Margrethe ascendeu ao trono. Ela nasceu em 1940, tendo portanto 32 anos quando recebeu a coroa.

A Dinamarca é uma monarquia constitucional, governada por um primeiro ministro e seu gabinete, exercendo a rainha papel de representação. Ela participa de inaugurações, festas, recepções a governantes estrangeiros. Viaja, representando seu país, em visitas oficiais. Margrethe já esteve duas vezes no Brasil.

A monarquia dinamarquesa, ao contrário da sisuda inglesa, é mais aberta. A rainha faz questão de receber seus cidadãos e ouvir deles reivindicações. Era também comum, quando a sua saúde permitia, ver a rainha andando de bicicleta pelas ruas de Copenhagen, sem grande aparato de segurança.

Interessante notar a tradição de se nomear o primogênito Frederico ou Cristiano, para que mantenha este nome, quando assumir o trono. Se o casal real tiver uma filha, será chamada de Margrethe.

A monarquia dinamarquesa é moderna. Recentemente, a rainha suprimiu o título de príncipe dos netos, exceto os filhos do rei ou rainha, bem como os do príncipe herdeiro, como forma de mantê-los mais próximo da realidade da vida, sem os encargos e luxos da monarquia.

A Dinamarca pratica o estado de bem estar social. O governo paga pelo nascimento, educação, saúde, aposentadoria e arca com o funeral de seus habitantes.

Tive oportunidade de ouvir o discurso de fim de ano da rainha, numa das vezes que visitava minha filha, que mora na Dinamarca. A família de meu genro, com minha filha, minhas netas e o avô dinamarquês delas, acercamo-nos da TV. Quando a rainha apareceu, todos se levantaram respeitosamente e ouviram o discurso de pé. Ao final, bebemos uma taça de espumante, já previamente aberto, em homenagem à soberana.

Perguntei, então, ao meu genro, se não era estranho, um país tão desenvolvido, com uma das maiores rendas per capita do mundo, manter ainda uma monarquia. Ele me respondeu com outro pergunta: “Quando você vê a bandeira do Brasil, ela não representa a pátria e todos seus valores ?Nós temos não só a nossa bandeira, como nossa Rainha, que representa nossas tradições e história “.

A Rainha Margrethe deixa um grande legado a seus cidadãos. Seu sorriso ficará para sempre gravado na memória de todos. E tomara que o Reino da  Dinamarca, com seus governos socialistas, continue existindo por, pelo menos, mais 1000 anos.

* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras 

 

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