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O Equador e sua literatura (6): Joaquín Galegos Lara 

Rosemary Conceição dos Santos* 

 

Joaquín Galegos Lara (1909-1947) foi um romancista, contista, poeta e ensaísta social-realista equatoriano cujo pai, Joaquín Gallegos Del Campo, foi fundador de um jornal satírico chamado “El Caustico” em 1895. Além de jornalista, seu pai também escreveu poemas, que sua esposa Emma publicou após sua morte no livro Mis Recuerdos (1912), que continha dois poemas dedicados a ele, seu filho, a saber, “A mi primogenito” e “El primer diente”. Por sua vez, sua mãe, Emma Lara Calderon, embora com dificuldades de locomoção, atuou como militante comunista e intelectual no Equador, participando de batalhas de rua e bloqueios. Sem instrução oficial, Lara, autodidata, falava francês, alemão, italiano e russo quase perfeitamente, começando a escrever poemas por volta dos 10 anos. 

Dentre estes poemas estão incluídos “Al Potro”, “Vieja Despedida” e “Mamá-Jijí” (personagem de seu romance “Las Cruces Sobre el Agua”), entre outros. Publicados nas revistas literárias “Páginas Selectas”, “Variedades”, “Letras y Números”, “Cosmos” e “Ilustración”, levaram o autor a escrever, anos mais tarde, uma poesia social e política, como “Poemas de Miss Equador” (dedicado a Sarita Chacón Zúñiga , a primeira Miss Equador), “Bandera Roja”, “Filme Ferroviario”, “Romance de la rural”, e “Guayas”, publicados em jornais como La Prensa, El Telégrafo e Bandera Roja (jornal oficial do Partido Comunista do Equador). 

Tendo suas narrativas coletadas em “Las Cruces Sobre el Agua”, romance publicado em 1946, que escreveu a lápis aos 21 anos, outras duas foram publicadas postumamente: “Los Guandos” e “La Bruja”. Em 1930, escreveu a coletânea de contos” Los Que Se Van”, juntamente com Demetrio Aguilera Malta e Enrique Gil Gilbert. Integrante do “Grupo Guayaquil”, dedicou-sea o realismo social em seus escritos, desempenhando papel ativo na política de esquerda do país. Em 1947, pouco antes de sua morte, publicou o livro de contos “La Ultima Erranza”. Em 1952, teve publicada sua “Biografía del Pueblo Indio” e, em 1956, um novo livro de contos, “Cuentos completos. Atuando como crítico literário, Lara escreveu apreciações e comentários sobre diversas obras publicadas na época, bem como, prólogos de livros como em “Estatuas en el mar” (1946), de Rafael Díaz Ycaza , “Las Traces de una Raza” (1941), de Marco Antonio Lamota, e “Tierra, son, y tumba” (1945), de Adalberto Ortiz , entre outros. Por adição, também dedicou-se à escrita de resenhas de livros em jornais e revistas, dentre os quais se destacam as voltadas aos livros “Vida del Ahorcado” (1933), de Pablo Palacio, “Los Animales Puros”, de Pedro Jorge Vera, e “Elba” (1946), de Pedro Jijón Salcedo. 

Aos 26 anos, casando-se com Nela Martínez Espinosa, em Ambato, logo divorciou-se, mas soube manter a amizade com a ex-companheira por toda a vida. Tendo deixado um romance inacabado, intitulado “Guandos”, quando morreu em 1947, teve o mesmo concluído pela ex-companheira, Nela Martinez, que o publicou em 1982. Ambos sendo, então,creditados como autores da obra. Em 1944, Lara recebeu a Medalha de Ouro do Município de Guayaquil por seu jornalismo patriótico, vindo a adoecer no início de 1947. Apesar de ter tentado vários tratamentos médicos, nenhum teve sucesso. Seu tio paterno Julián Lara Calderón tentou, então, levá-lo aos EUA para tratamento, mas seu visto foi negado. Indo, então, para Lima, no Peru, foi expulso do país por sua filiação ao partido comunista. Retornando a Guayaquil, ali faleceu em sua própria casa. 

“Quem sai” é um dos livros mais reconhecidos de Joaquín Gallegos Lara, escrito ao lado de outros grandes escritores equatorianos como Demetrio Aguilera Malta e Enrique Gil Gilbert. Atualmente, o livro é considerado um dos textos mais famosos da ninhada equatoriana. O livro pertencia à sociedade literária chamada Grupo de Guayaquil, à qual Alfredo Pareja Diezcanseco e José de la Cuadra se uniram posteriormente. O trabalho consiste em uma compilação de 24 contos, com a intenção de refletir a vida dos camponeses equatorianos. Cada história revela um profundo conteúdo realista e sociológico daquela época na história do Equador. Segundo muitos críticos, este trabalho representa uma peça literária democrática nacional; um livro de depoimento e fortemente influenciado pela história do país. Após a publicação do trabalho, espalhou-se rapidamente nas sociedades intelectuais da época, em revistas, jornais e conferências reconhecidos. Outros autores, não apenas literários, usaram frases deste trabalho em contextos pessoais. 

“Las cruces sobre el agua” baseia-se na greve geral de novembro de 1922, realizada na cidade de Guayaquil. O autor coloca os personagens nas áreas mais humildes do Equador, sendo um dos romances clássicos com mais conteúdo de realismo social e, em geral, sociológico. Além disso, é considerado um dos trabalhos mais relevantes da história da literatura equatoriana. O massacre de 15 de novembro de 1922, ocorrido em Guayaquil, Equador, foi o evento mais importante da obra. O evento consistiu em uma série de saques liderados principalmente pela classe trabalhadora e pelos trabalhadores, como resultado da situação econômica vivenciada. Gallegos mudou alguns personagens da vida política da época para a história do livro. Esses movimentos foram representativos para os socialistas. Por isso, Gallegos Lara sentiu-se tão apaixonado por narrar, como testemunho, os eventos históricos do massacre. “A última erranza” foi um dos últimos livros do autor, escrito em 1947. Este livro inclui todas as histórias do escritor equatoriano de 1930 a 1946. Entre as histórias do livro, há histórias da obra “Aqueles que partem”, como é o caso de “ Era a mãe!” No entanto, nas histórias do texto, nota-se uma mudança na narrativa em comparação com outras obras. O tom é carregado de profundidade e desolação, como é o caso de “El guaraguao” ou “Ultima Erranza”. Neste último livro, o escritor não esqueceu seu senso social e o realismo natural de sua escrita, características que envolvem o texto dessas páginas. 

 

Professora Universitária* 

 

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