Pantera – Se não foi um ano de vitórias, como o anterior, quando garantiram acessos ao Brasileiro da Série B e a A2 Paulista, respectivamente, Botafogo e Comercial também não podem reclamar de 2023. Mesmo sem apresentar um futebol brilhante e conquistar os torcedores, a dupla Come-Fogo conseguiu se manter e promete uma nova realidade na temporada que começa em janeiro.
“Atingimos nossos objetivos. Ficamos entre as oito melhores equipes do estado de São Paulo, em um campeonato que não é fácil. Também conseguimos uma vaga para a Copa do Brasil pelo terceiro ano consecutivo, depois de mais de 20 anos que o Botafogo não jogava a competição, que é uma fonte de arrecadação importante”, afirma o diretor de futebol tricolor Paulo Pelaipe, ressaltando a importância da competição nacional, onde pela primeira vez o time chegou à terceira fase, sendo eliminado pelo Santos.
No Campeonato Brasileiro da Série B, competição que não disputava desde 2020, o Pantera até começou bem, mas não conseguiu manter a regularidade. Salvaram os dois golaços do meio-campista Guilherme Madruga, um deles finalista do Prêmio Puskas, de gol mais bonito do ano.
Em que pese não ter animado a torcida, a campanha não desapontou a diretoria. “Nós tínhamos como meta fazer um Campeonato de Série B tranquilo. A permanência na Série B era importante para que a gente, com calma, pudesse planejar o ano de 2024. E foi o que aconteceu. Nos mantivemos, e agora a torcida está vendo que mudamos o patamar de investimento”, reconhece Pelaipe.
O dirigente tricolor, com o prestígio de quem acumula passagens por Flamengo, Grêmio e Corinthians, acredita num bom ano para o Botafogo em 2024. “O presidente Adalberto Batista, dentro do planejamento do departamento de futebol, nos liberou uma verba importante e nós realmente estamos reforçando a equipe, trazendo jogadores que sabem jogar a Série B, que é o grande objetivo do clube”, afirma Pelaipe, animado com as boas possibilidades para o ano que começa. “A gente não pode prometer para o torcedor que vamos subir, porque isso é dentro do campo que se decide, mas estamos formando um bom time e o nosso pensamento em 2025 é estar na Série A do futebol brasileiro. É com essa motivação e determinação que nós estamos trabalhando dia e noite por aqui neste período de férias”, completa.
Leão do Norte – Não muito distante da arena tricolor, em Palma Travassos, o clima também é de otimismo para 2024.
Neste ano, embalado pelo acesso em 2022, depois de oito anos longe da Série A2, o Comercial até ameaçou brigar por uma vaga na Primeira Divisão. Porém, esbarrou, nas quartas de final, na favorita Ponte Preta – que acabaria conquistando o título.
“Fizemos uma boa campanha na Série A2 do Campeonato Paulista. Chegamos às quartas de finais, com dois bons jogos contra a Ponte Preta. Infelizmente não conseguimos a classificação, mas vejo com bons olhos, porque além de disputarmos a tabela na parte de cima tivemos reais chances de classificação para as semifinais”, analisa o advogado Fausi Henrique, aclamado presidente alvinegro em agosto, depois de participar desde 2020 de diretorias do clube.
Fausi reconhece que o Comercial não realizou uma boa Copa Paulista no segundo semestre, quando venceu apenas um dos 10 jogos disputados. “A diretoria errou na formação da equipe e fizemos uma campanha pífia, que me entristece. Não gosto nem de lembrar”, admite o dirigente, que garante ter aprendido com os erros. “Pretendo não deixar que isso se repita e fazer em 2024 uma campanha bem mais consistente e alegre, que traga alegrias para o nosso torcedor”.
A afirmação tem respaldo. Para o próximo ano, a diretoria trouxe Luiz Carlos Martins, treinador conhecido como Rei do Acesso por ter levado mais de 20 equipes às divisões maiores. “Todos sempre esperaram que voltasse um dia para o Comercial. É um técnico com 100% de aprovação, tanto pela diretoria quanto pelos torcedores e até mesmo pela imprensa”, empolga-se o presidente.
“Estamos montando uma equipe forte. Espero que façamos um excelente campeonato, estou otimista. Quero estar entre os finalistas e, quem sabe, subir o Comercial para a Série A1. Esse é o objetivo”, completa Fausi, sem esconder que sonha com o título. “Trabalhamos para isso. Estamos com as contas e salários todos em dia e focados no Comercial”.
Com a palavra, Luiz Carlos Briza
Jornalista e colunista deste Tribuna. Acompanha a dupla Come-Fogo desde os anos 70.
Botafogo
No futebol, o Botafogo andou devagar em 2023. Contratou mal, planejou mal e fez campanha aquém do que se espera dele por sua tradição. Seu ano foi salvo pela receita da Copa do Brasil e pelos gols inusitados do volante Guilherme Madruga, um deles colocando o Botafogo no cenário mundial, está na final do Prêmio Puskas (gol mais bonito do ano). A guerra Botafogo FC x Botafogo S/A continuou ganhando contornos depreciativos. Para 2024, se não for falácia para despistar algo grave no conturbado relacionamento administrativo, o anúncio de investimento no futebol acena com bom nível de esperança, mas ações equivocadas anteriores dos gestores do futebol geram incerteza por conta de erros nos critérios de escolhas na hora das contrações.
Comercial
A Série A2 do Comercial em 2023 não diminuiu o sofrimento de décadas nas divisões inferiores. A troca de presidente, saída de Ademir Chiari e a entrada de Fausi Henrique, mantém a chama da luta pelo acesso, mas há problemas financeiros a resolver pelo menos para custear o mínimo necessário para alimentar esperança de chegar à Série A1 em 2024. Paralelo a isso há um problema considerado insolúvel para Fausi enfrentar, afastar elementos que se consideram donos do clube e não arredam pé de Palma Travassos. O que seria boa notícia é a dívida do Comercial: cerca de R$ 15 milhões, pagáveis com R$ 7 milhões, situação que todos os clubes queriam (estão afundados em dívidas estratosféricas), difícil é conseguir tal numerário, mas Fausi Henrique vai à luta.
Com a palavra, Roberto Palmieri
Treinador e jornalista. Foi goleiro da dupla Come-Fogo e de times como Bangu, Botafogo-RJ, Figueirense e Fortaleza nos anos 90 e 2000, além de ter tido passagens pela Seleção Brasileira.
Botafogo
Confesso que não tinha visto um time tão distante dos valores e da tradição do Botafogo como neste ano. Assisti algumas derrotas e não vi um dedo na cara, uma discussão. Não vi uma liderança que cobrasse isso de si e dos colegas! E não culpo a gestão e nem os treinadores, responsabilizo 100% os jogadores por essa inércia e desrespeito à profissão que abraçaram! Derrotas pacíficas, assimiladas (pelo menos aparentemente) de forma espontânea pelos jogadores. O futebol da era “box to box”, do “entre linhas”, do “terço do campo”, é cheio de marketing, cabelo na régua, tatuagens e lacração. A bola quase sempre é maltratada. O desafio do Botafogo é se manter no Paulistão e brigar pelo acesso no Brasileiro! Mas para isso precisa montar um time “raiz”, desses formados por homens que entregam a vida e estão sempre desafiando o impossível. “Quem tem medo de ser feliz, morre triste”. Em 2023, vi um time triste em campo e torcedores mais tristes ainda nas arquibancadas! Não é o caso, mas serve para ilustrar: todo time que caísse de divisão deveria sujeitar aos jogadores e comissões técnicas inscritas pelo clube ao descenso. A obrigatoriedade da coautoria e punição (descenso) aos atletas (e ela seria justa) mudaria a concepção e os valores na competição.
Comercial
O retorno à Série A2 é uma ponte de difícil acesso e travessia à felicidade do Paulistão. É a esperança do resgate de cotas melhores e principalmente da dignidade do clube, a salvação deste gigante que ainda sofre das sequelas do mal trato nas séries menores! Culpar quem se expõe, apontar o dedo para quem tem trabalhado na busca deste resgate não me parece algo justo a ser feito, quem quiser fazer melhor que se apresente! Martins é bom e sabe o que faz! A torcida deve prestigiar o time, a atual diretoria e o esforço de quem está à frente dos trabalhos no clube. O paraíso é logo ali, Comercial! O apoio da torcida será um divisor de águas nesta busca! O futebol é imprevisível e dentro do campo tudo anda muito parecido, se o time der liga e o torcedor apoiar, os resultados virão! Mas, o resultado não virá antes do esforço deste tripé: “Torcida, Clube e Mídia”. Ribeirão Preto, assim como o torcedor alvinegro, merece o Comercial no Paulistão! Eu acredito, e você? Boa Sorte ao Comercial em 2024.