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O Equador e sua literatura (4): Jorge Icaza 

Rosemary Conceição dos Santos* 

Jorge Icaza (1906-1978) foi um escritor equatoriano que iniciou sua carreira literária como dramaturgo, logo se tornando nome censurado em seu país. Voltando-se aos romances, tratou das condições sociais no Equador, particularmente da opressão sofrida pelos seus povos indígenas. Com a publicação de “Huasipungo”, em 1934, Icaza proclamou ao mundo as injustiças com as quais os poderosos proprietários de terras, numa aliança profana com o clero, mantiveram subjugada a grande população indígena da nação. Na obra, mostra que a oligarquia do seu país, ao longo da sua história, degradou a condição de vida indígena nacional, violando qualquer direito humano a que esta tinha direito. 

De acordo com a crítica, as duas revisões do romance permitiram a Icaza desenvolver o personagem principal, Andrés Chiliquinga, como um ser profundamente humano e racional. Através do sofrimento que é forçado a suportar, ele, como figura heróica, percebe que o pedaço de terra que sempre trabalhou é uma terra que pertence a todos os que o trabalharam e melhoraram. A sabedoria atávica ensinou-lhe que é preciso opor-se e combater o despotismo. Momento, para ele, de encorajar e exortar o seu povo a confrontar e declarar a sua relutância em continuar a ser submetido a tal iniquidade. Da mesma forma, como as ações do protagonista transcendem comunidades, fragmentam tradições e diminuem atitudes, a mensagem do romance reverberou profundamente numa sociedade impregnada de valores e costumes tradicionais. O esforço de estruturação e recomposição deste mundo narrativo que Icaza realizou nas suas revisões (1953, 1960) contribui tanto para garantir o extraordinário mérito artístico da obra como para fortalecer o tom do romance. Isso permite ao leitor moderno participar efetivamente dessa realidade. Feito isso, Icaza garantiu que “Huasipungo” alcançasse ser um monumento às suas intenções, consolidando o lugar de honra literário que alcançou com o vigor de sua denúncia de 1934. Entre os escritores equatorianos, Icaza é, talvez, o mais conhecido internacionalmente devido, em grande parte, à publicação deste romance em 1934. 

Chegando sua fama à Rússia, Icaza ali foi recebido com entusiasmo pela classe camponesa socialista do país. Seus outros livros incluem “Sierra” (1933), “En las calles” (1936), “Cholos” (1938), “Media vida deslumbrados” (1942), “Huayrapamushcas” (1948), “Seis relatos” (1952), “El chulla Romero y Flores” (1958) e “Atrapados” ( 1973). Embora os dois últimos livros sejam reconhecidos como as maiores realizações literárias de Icaza por especialistas (como Theodore Alan Sackett), “Huasipungo” continua sendo seu livro mais popular, tendo sido traduzido para mais de 40 idiomas. Com este romance Icaza tem sido frequentemente comparado a John Steinbeck e seu “Vinhas da Ira”, de 1939, pois ambos são obras de protesto social. Além da primeira edição de 1934, Huasipungo passou por mais duas edições ou reescritas completas em espanhol, 1934, 1953, 1960, a primeira das quais foi difícil para os nativos de outros países hispânicos lerem, o que torna difícil para os leitores determinarem qual versão estão lendo. Além de ser “indigenista”, o romance, Huasipungo também foi considerado um romance proletário, e isso porque a América Latina teve que substituir a classe trabalhadora europeia pelos índios como modelo, ou personagem, da literatura proletária. Icaza tornou-se internacionalmente popular com base em suas publicações, sendo, por isso, convidado para ministrar palestras sobre os problemas do povos indígenas do Equador em muitas faculdades nos Estados Unidos. 

Um trecho? “Aquella mañana se presentó con enormes contradicciones para don Alfonso Pereira. Había dejado en estado irresoluto, al amparo del instinto y de la intuición de las mujeres —su esposa y su hija—, un problema que él lo llamaba[1] de «honor en peligro». Como de costumbre en tales situaciones —de donde le era indispensable surgir inmaculado—, había salido dando un portazo y mascullando una veintena de maldiciones. Sus mejillas de ordinario rubicundas y lustrosas —hartazgo de sol y aire de los valles de la sierra andina—, presentaban una palidez verdosa que, poco a poco, conforme la bilis fue diluyéndose en las sorpresas de la calle, recuperaron su color natural. «No. Esto no puede quedar así. El poco cuidado de una muchacha, de una niña inocente de diecisiete años engañada por un sinvergüenza, por un criminal, no debe deshonrarnos a todos. A todos… Yo, un caballero de la alta sociedad… Mi mujer, una matrona de las iglesias… Mi apellido…», pensó don Alfonso, mirando sin tomar en cuenta a las gentes que pasaban a su lado, que se topaban con él. Las ideas salvadoras, las que todo pueden ocultar[2] y disfrazar hábil y honestamente no acudían con prontitud a su cerebro. A su pobre cerebro. ¿Por qué? ¡Ah! Es que se quedaban estranguladas en sus puños, en su garganta”. 

Professora Universitária* 

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