Luiz Paulo Tupynambá *
[email protected]
O primeiro grande passo da Revolução Industrial foi o desenvolvimento da máquina a vapor pelo inglês James Watt. Em 1769 ele aperfeiçoou e adaptou um motor movido a vapor para retirar água de minas de carvão inundadas, para movimentar máquinas de tecelagem nas fábricas de Manchester, Inglaterra. Com a nova máquina, a produção se multiplicou sem a necessidade de aumentar o número de operários manuais. A demanda de algodão para os tecidos e de carvão para aquecer a água usada no vapor cresceu rapidamente e gerou um boom econômico naquela região. O motor a vapor de Watt foi adaptado para outras áreas, como a navegação marítima e o transporte sobre trilhos. Esse rápido crescimento econômico foi fundamental para a Inglaterra financiar seus projetos coloniais e se transformar, no século XIX, no maior Império do Mundo, “o império onde o sol nunca se põe”.
O segundo ponto marcante da Revolução Industrial foi o surgimento no final do século XIX, de dois concorrentes que quase extinguiram o uso do vapor como força motriz: a eletricidade e o motor de combustão interna. A eletricidade, energia onipresente nos dias de hoje, pode ser gerada de várias formas, por quedas de água (o Brasil é um país privilegiado nesse quesito) e queima de combustíveis, como o óleo petrolífero, o gás natural e o carvão mineral, nas termelétricas. Também se utiliza radiação solar e ventos. A demanda de energia elétrica é sempre crescente no mundo novo da economia digital. Para constar, o vapor ainda é utilizado para gerar energia elétrica nas usinas nucleares.
É na logística, que conecta todos os cantos do planeta por terra, mar e ar, que vemos a importância do motor de combustão interna para a era industrial e a nova era digital. Tudo que se produz aqui tem que ser transportado por um meio que usa combustível para chegar ao seu ponto de venda ou entrega, seja ele no mesmo município, no mesmo país ou do outro lado mundo, no prazo acertado. O mesmo vale para o que é produzido em outro lugar, para chegar aqui.
Mas, vamos fazer umas continhas simples para entender o que estava em jogo na COP 28 e a redução mandatória do aquecimento global pela redução da emissão de CO2.
Um barril de petróleo tem um volume aproximado de 159 litros. Existem vários tipos de petróleo, dependendo do lugar de onde é extraído, mas, na média o processo de refino de um barril de petróleo gera 64 litros de óleo diesel (40%), 28,5 litros de gasolina (18%), 22 litros de óleo combustível usado em termelétricas e indústrias (14%), 13 litros de GLP, gás de cozinha (8%), 13 litros de nafta utilizada na indústria petroquímica (8%), 6,5 litros de querosene de aviação (4%) e outros subprodutos (8%).
Um Boeing 737-800, modelo muito usado para transporte de cargas, gasta “apenas” 2.800 litros de querosene por hora de voo em média. Um voo de Manaus para São Paulo leva mais ou menos cinco horas. Consome 14.000 litros de combustível no trajeto.
Quando se fala de transporte marítimo, aí é que o bicho pega. O maior navio de contêineres do mundo é o Emma, que pertence à empresa dinamarquesa de transportes e também petrolífera Maersk e está em operação desde 2006. Só esse leviatã metálico pode carregar 15.500 contêineres por viagem. Seu consumo de combustível marítimo (mistura de óleo diesel e óleo combustível) chega a 250 toneladas por dia. Esse super navio, numa viagem entre Xangai, na China, e Roterdã, na Holanda, faz o percurso em 35 dias, gastando a bagatela de 8.750.000 quilos de combustível. E uma emissão equivalente a 11.000 toneladas de CO2 na atmosfera! Na ordem os maiores emissores são as cidades, seguidos dos processos industriais e o transporte.
É quase inimaginável uma nova economia sem combustíveis fósseis a curto prazo, essa é a realidade. Quem pensou que definiríamos 2050 como o ponto de inflexão para acabar rapidamente com o uso dos combustíveis fósseis está fora da realidade. Não vai acontecer. O sistema logístico que atende à economia de hoje está baseado na utilização de combustíveis fósseis, da raiz ao topo. Os atuais candidatos a protagonista, como o hidrogênio líquido, radiação solar e outros ainda estão longe de atenderem aos requisitos necessários. E a energia nuclear, não é sonho, é pesadelo.
Antes de tudo é preciso ocorrer a escolha de um sistema global (não apenas de um combustível) que possa oferecer uma adaptação razoável ao sistema atual, facilitando a transição, com a substituição gradual e economicamente viável da matriz energética global, observando-se a realidade local de cada país ou região. Isso passa pelo empoderamento e capacidade de dissuasão dos blocos econômicos sobre seus membros para que cumpram as metas acordadas. Metas essas, tanto de emissão quanto de financiamento para as nações menos desenvolvidas e as mais ameaçadas pelas mudanças climáticas. O foco é na redução da emissão de CO2, esse sim o problema a ser enfrentado de imediato. E fazer com que os grandes emissores de CO2, torradores de carvão mineral e os grandes “lucradores” do combustível fóssil paguem a maior parte da conta da redução de CO2 e da transição energética.
Se tem dinheiro para fazer uma guerra nova a cada ano, tem que ter dinheiro para enfrentar o problema, senão LOGO, enfatizo mesmo, não vai sobrar pobre para jogar bomba em cima dele. E sombra de árvore vai custar mais caro que ingresso de jogo da Seleção Brasileira
* Jornalista e fotógrafo de rua