Tribuna Ribeirão
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Veneza e Il Prete Rosso 

Rui Flávio Chúfalo Guião * 
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Antônio Lúcio Vivaldi nasceu em Veneza, em 04 de março de 1678 e faleceu em Viena, no dia 28 de julho de 1741, aos 63 anos, deixando um fantástico legado musical, que permanece até hoje como integrante das grandes obras universais. 
 
Quando Vivaldi nasceu, Veneza já tinha perdido sua importância como centro comercial e político da Europa. Fundada no século V, na foz dos rios Pó e Piave, que ali formam uma grande lagoa  com  117 ilhotas , hoje ligadas por canais e pontes, a cidade teve seu apogeu na Idade Média e no Renascimento, tornando-se potência marítima e comercial.  
 
Ligada ao Império Romano do Oriente, com capital em Constantinopla, recebeu dele vários benefícios que a enriqueceram comercial e militarmente, fazendo florescer grandes corporações comerciais e uma vida musical de primeira grandeza. Ponto de parada das cruzadas e centro da ligação ocidente-oriente, a República de Veneza tornou-se um dos mais expressivos estados europeus. 
 
Com a queda de Constantinopla para os muçulmanos ( 1453 ), que barrou o enorme fluxo de seu comércio e as descobertas marítimas de Cristóvão Colombo (1492 e de  Vasco da Gama ( 1498 ), abrindo outros caminhos para se atingirem as riquezas das Índias, a cidade foi perdendo sua posição de liderança. 
 
Em 1797, foi invadida pelas tropas de Napoleão Bonaparte, que acabou entregando a cidade para o domínio do Império Austro-Húngaro, retornando esta, em 1866 para o Reino da Itália, onde permanece até hoje como parte da República Italiana. 
 
A cidade é riquíssima em monumentos, estátuas, igrejas, tem um famoso carnaval onde as pessoas se fantasiam e exibem máscaras artísticas, cheia de bailes e atividades culturais, sendo hoje um dos destinos mais procurados pelos turistas. 
 
Destacam-se a Catedral de São Marcos e o Palácio dos Doges. 
 
A catedral foi reconstruída e consagrada em 1094, depois que um incêndio destruiu a igreja original, esta feita especialmente para conter os restos mortais do evangelista São Marcos. Tem a forma de uma cruz grega ( seus braços são de tamanhos iguais, ao contrário da cruz latina, mais conhecida ) e revestida com pastilhas e mosaicos de ouro, com suas cúpulas bizantinas. Exibe os célebres cavalos gregos em sua fachada, cavalos estes feitos no IV século antes de Cristo. Foram levados a Roma, depois Constantinopla, de onde foram roubados e trazidos para Veneza. 
 
O Palácio dos Doges, como eram chamados os dirigentes da República, é cheio de arte, nele se destacando o famoso quadro de Tintoretto, A Crucificação, que, com seu tamanho de 5,18m por 12,24m toma toda a parede frontal do grande salão. 
 
Foi convivendo com todas estas maravilhas que o jovem Vivaldi iniciou-se no universo musical. Seu pai, Giovanni Battista Vivaldi, era violinista e músico profissional e deve ter dado as primeiras lições  ao filho, que, logo aos 10 anos, já  mostrava sua facilidade em manejar o instrumento e, eventualmente, substituía o pai na orquestra da Basílica de São Marcos. 
 
Aos 15 anos, ingressa no seminário, onde, dez anos depois, recebe suas ordens sacerdotais. Possuindo vasta cabelereira ruiva, passa a ser conhecido como ilPreteRosso e logo assume a direção musical do Ospedale dela Pietá, instituição que recebia órfãos abandonados e tinha um coro feminino de grande prestígio. 
 
No Ospedale inicia a composição de sua vasta obra de mais de 500 exemplares, entre música sacra, cantatas, óperas, sinfonias e outras mais. 
 
Na já cosmopolita Paris, em 1728, apresenta sua obra mais conhecida, as Quatro Estações, onde, com maestria leva o ouvinte a perceber as mudanças da Terra, reproduzindo, no violino, o canto das aves e o tropel dos cavalos. 
 
Vivaldi morreu em Viena, pobre e desamparado. Sua música caiu no ostracismo e somente no século XX seria redescoberta e se tornaria conhecida. 
 
* Advogado e empresário, é presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e Motos e Secretário-Geral da Academia Ribeirãopretana de Letras 

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