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O Brasil na lanterninha da educação mundial. Por quê? 

José Antônio Lages *

Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) 2022 foram divulgados, no último dia 5, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), pelo Ministério da Educação e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O destaque entre os resultados ficou para o baixíssimo nível de desempenho dos estudantes brasileiros, principalmente em matemática. Ao todo, 81 países foram avaliados. Participaram do estudo no Brasil 10.798 estudantes de 599 escolas das redes pública e privada.

O Pisa avalia a cada três anos como está a educação nos países nas áreas de matemática, leitura e ciências. A cada edição, uma dessas três áreas é enfatizada no questionário com mais perguntas. Dessa vez, foi a matemática. A pesquisa é feita pela OCDE e, aqui no Brasil, é aplicada pelo Inep. De acordo com os resultados do Pisa 2022, o Brasil atingiu a pontuação de 379 em matemática, em contraste com a média dos países da OCDE, que foi de 479. Considerando o ranking geral em matemática, o Brasil ficaria entre a 62ª e 69ª posição.

Já nas áreas de leitura e ciências, a diferença não é tão significativa em comparação à média dos países da OCDE, e, também, há bem menos estudantes em nível abaixo do básico. Em leitura, o Brasil pontuou 410 e a média foi 476. O resultado foi semelhante entre países da América Latina. Em ciências, o Brasil obteve 403 pontos e a OCDE 485. “Nem as escolas particulares estão com uma boa avaliação de matemática […]. Há um grande desafio em relação a matemática. Claro que o melhor resultado entre os três é em leitura, mas ciência também é desafio enorme”, afirmou o ministro da Educação, Camilo Santana.

Estes resultados repercutiram muito na última semana. Mas a relação entre o Pisa e a qualidade da educação não é tão simples, nem tão automática quanto parece. O Pisa precisa ser encarado pelo que ele é: uma prova de avaliação do desempenho em áreas específicas do conhecimento. E que, por isso, não capta todos os ângulos do fenômeno educacional que, entre nós, é marcado pela falta de estrutura de grande parte das escolas, que não têm as mínimas condições para funcionar. Sem falar na má formação docente que se insere professoras e professores no mercado de trabalho distantes da dura realidade dos estudantes, e ainda diversos outros fatores.

Para o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, a discussão central deveria ser o investimento por aluno. “O Brasil investe por aluno ao ano, em média, de três a quatro vezes menos do que os países mais desenvolvidos, quando o estudante brasileiro precisaria de um investimento muito maior do que o aluno desses outros países porque ele tem um histórico de acesso à educação prejudicado, inclusive em termos familiares”, afirma. Se o país quer mesmo melhorar sua posição nesse exame que é tão somente um ranking, o caminho é implantar uma boa política de educação.

Mas é importante apontar aqui que Pisa tem a sua lógica própria. Na aplicação, ele é rigoroso, mas, na prática, ele é um projeto de colonialismo educacional. Compara países que estão em situações e processos de desenvolvimento muito distintos. Usa critérios de igualdade e não de equidade. Contextos diferentes em caixotinhos iguais! O Pisa é muito conectado a uma lógica econômica da educação. O exame tem mostrado um sucesso dos países asiáticos, porque eles têm vinculado a política de educação à sua política de industrialização. Isso acaba gerando uma relação favorável nas respostas do exame. Cingapura, Japão e Coreia do Sul são os três melhores neste ranking.

De qualquer forma, o Pisa não avalia a educação como um todo. A educação é um fenômeno muito mais complexo vinculado à cidadania. Para Daniel Cara, “é preciso implementar o custo aluno qualidade inicial (CAQi) que consta no Plano Nacional de Educação que vai dizer quanto o Brasil precisa investir para alcançar uma educação com padrão mínimo de qualidade a partir das instituições públicas de ensino”. Implementar uma política de carreira docente, ter escolas com estrutura adequada, número adequado de alunos por turma, internet banda larga, biblioteca, laboratório, banheiro, merenda nutritiva, transporte escolar digno, etc. Só assim, o Brasil vai melhorar no Pisa. Não há outro caminho!

* Consultor técnico-legislativo e ex-vereador em Ribeirão Preto (Legislatura 2001-2004) 

 

 

 

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