Tribuna Ribeirão
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A Revolta da Chibata e a Luta por Dignidade 

André Luiz da Silva * 
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Durante uma reunião nos estúdios da Rádio Nova Ribeirão, em conversa com Francisco Carvalho, o Poeta e outros comunicadores, tratamos sobre a importância de resgatar fatos e pessoas relevantes para história do Brasil. Lembrei que no meu canal do YouTube, apresento o Programa Mais Consciência que tem justamente esse condão. Na oportunidade, recebi a agradável incumbência de falar sobre João Cândido e a Revolta da Chibata. 
 
Semelhante com o que ocorre na atualidade, no início do século XX, o Brasil era marcado por profundas desigualdades sociais e injustiças que ecoavam principalmente entre a população negra e pobre, majoritariamente relegada a trabalhos braçais e de baixa remuneração, enfrentava também a discriminação institucionalizada, como era evidenciado nas forças armadas. Foi nesse contexto que surgiu a Revolta da Chibata, um levante militar, muitas vezes omitido ou pouco divulgado.  
 
A Revolta da Chibata ocorreu entre 22 e 27 de novembro de 1910, no Rio de Janeiro, e foi liderada por João Cândido Felisberto, conhecido como o “Almirante Negro”. Os membros da Marinha do Brasil, em sua maioria negros e provenientes das camadas mais pobres da sociedade, estavam submetidos a condições desumanas e a castigos físicos cruéis, conhecidos como chibatadas, como forma de disciplina. 
 
Sob a liderança de João Candido os marinheiros rebelados, conseguiram controlar vários navios de guerra e ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro caso suas demandas não fossem atendidas. O governo, temendo uma escalada do conflito, optou por negociar, resultando na assinatura da “Lei da Anistia” em 27 de novembro de 1910. Essa lei concedeu anistia aos revoltosos e aboliu as chibatadas na Marinha, marcando uma importante vitória para os direitos humanos e trabalhistas no país. 
 
Após a Revolta, João Candido, caiu no ostracismo e expulso da Marinha, sobreviveu da venda de peixes e da solidariedade de companheiros marinheiros. Alguns projetos para inscrever seu nome no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria foram apresentados no Congresso Nacional. O mais recente é o Projeto de Lei do Senado n° 340/2018, já aprovado naquela Casa Legislativa, agora tramita na Câmara dos Deputados, onde encontra resistência de alguns deputados que insistem em negar o justo reconhecimento. 
 
O comportamento dos comandantes da Marinha daquele tempo não pode ser dissociado do contexto de racismo e preconceito estrutural. As chibatadas, além de serem métodos cruéis de punição, eram aplicadas de forma desproporcional contra os marinheiros negros. Essa prática refletia uma mentalidade discriminatória que permeava as instituições brasileiras da época e, guardadas as proporções, continuam até hoje, com as chibatas invisíveis do racismo e do preconceito. 
 
É imperativo que, ao revisitar eventos como a Revolta da Chibata, também busquemos resgatar outros heróis negros brasileiros cujas contribuições foram muitas vezes apagadas pela marginalização histórica. Essa revisão é fundamental não apenas para corrigir distorções na narrativa histórica, mas também para inspirar as gerações futuras a lutar por um Brasil mais justo e igualitário. 
 
João Cândido, o “Almirante Negro”, deve ser lembrado não apenas como um líder militar, mas como um símbolo de resistência contra a opressão e a injustiça. Seus feitos na Revolta da Chibata ecoam como um chamado à consciência social e à luta contínua por direitos humanos e igualdade, reafirmando a importância de reconhecer e celebrar os heróis negros que moldaram a história do Brasil. 
 
* Servidor municipal, advogado, escritor e radialista 

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