Tribuna Ribeirão
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Neurociência da vida cotidiana (1): Longevidade 

José Aparecido Da Silva* 

(Este artigo é dedicado ao Dr. André Filipe Junqueira dos Santos, geriatra e grande estudioso da longevidade humana) 

Durante décadas, pesquisadores têm buscado esclarecer a relação entre inúmeras variáveis, internas ou externas ao indivíduo, e a boa saúde e a longevidade, independentemente dos diferentes riscos de saúde, necessidades locais e populacionais. Pesquisas atentam que apenas igualar as disponibilidades dos cuidados e dos recursos em saúde não equipara os seus usos. Além disso, indivíduos menos educados e de baixa renda, procuram cuidados médicos preventivos (distintos de cuidados curativos) menos frequentemente que os melhores educados, u mais afluentes, mesmo quando estes cuidados são gratuitos e livres.  

Certamente, todos nós queremos médicos inteligentes e nunca comentam erros (o Dr. André, dentro de sua humildade e modéstia, enquadra-se entre eles). Mas, cabe à nossa inteligência, e julgamentos, a responsabilidade pela manutenção, e controle, de nossa própria saúde. Isto porque, anterior aos cuidados médicos, somos nós próprios atuando preventivamente, os nossos melhores provedores em cuidados de saúde. Cuidar da própria saúde, lidando, principalmente, com doenças crônicas (por exemplo: asma, hipertensão, diabetes), requer  constante julgamento tanto na aplicação de velhos conhecimentos, quanto no reconhecimento e solução de novos problemas. A contínua necessidade de aprender na carreira de paciente indica, na verdade, que o auto-cuidado depende fortemente, mas não exclusivamente, de nossa habilidade cognitiva em entender que cuidar da saúde é uma tarefa complexa que se faz ao longo de toda a vida. 

Tempos atrás adentrando ao consultório do Dr. André, surpreendeu-me ele, sumariando na tela de seu computador, o estudo realizado por Banach M, Lewek J, Surma S, et al. (Eur J Prev Cardiol. 2023) mostrando a forte associação entre contagem diária de passos e mortalidade cardiovascular por todas as causas: uma meta-análise.  Disse-me ele, vou lhe mostrar porque é importante contar os seus passos diários, e você não deixe de registrá-los: diariamente. Imediatamente me lembrei de Sir Francis Galton (1822-1911) quando ele certa vez afirmou enfaticamente: sempre que puder conte.  

Maciej Banach, MD, PhD (Universidade Médica de Lodz, Polônia, e Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, Baltimore, MD), autor principal da meta-análise descrita neste estudo, apontou que ela fornece evidências do mundo real em um grande conjunto de dados de quase um quarto de milhão de pessoas. Na realidade, como cardiologista preventivo, Banach viu em primeira mão como às vezes pode ser difícil convencer os pacientes a praticarem exercícios com mais regularidade quando o objetivo é dar pelo menos 6.000 ou 7.000 passos diários, ou melhor, ainda, 10.000. “Para muitos deles foi simplesmente desanimador porque não conseguiram fazê-lo. Eles gastaram muito tempo e trabalho, e assim por diante”, disse ele. Além disso, alguns pacientes simplesmente não tinham o nível de aptidão física no início para atingir esses objetivos.  

O que os seus cálculos mostraram, no entanto, é que coisas boas podem surgir com apenas algumas centenas de passos, ou seja, alguns poucos passos diários podem controlar o risco de mortalidade. Em outras palavras, mesmo em níveis que podem ser considerados “sedentários”, realizar alguns passos diários adicionais parece reduzir o risco de morte por todas as causas e cardiovasculares (CV). A mortalidade por todas as causas começa a cair aos 4.000 passos e a mortalidade CV em torno de 2.300. Portanto, as evidências indicam, claramente, que ser fisicamente ativo traz benefícios muito antes da meta frequentemente promovida de 10.000 passos por dia e até mesmo abaixo do limite de 5.000 passos normalmente usado para definir um estilo de vida sedentário. “Podemos dizer aos nossos pacientes agora: ‘Não se preocupem com a sua linha de base: o número de passos que você está realizando logo no início. Pode ser até 4.000. Mas, tente o seu melhor para melhorar, tente aumentar esses números, porque cada acréscimo de 500 [ou] 1.000 pode estar associado adicionalmente a [reduções adicionais de mortalidade] de 7% a 15%’”, aconselhou Banach.  Em adição, disse ele: “Não espere até completar 50 ou 60 anos de idade ou até ter uma doença arterial coronariana estabelecida”.  

Os resultados foram semelhantes para homens e mulheres e em diferentes climas (zonas temperadas, subtropicais, subpolares e mistas). No entanto, os indivíduos com 60 anos ou mais tiveram uma redução menor no risco de morte (redução de 42% com 6.000-10.000 passos por dia) do que os pacientes mais jovens (redução de 49% com 7.000-13.000 passos por dia). Você não precisa de muitos passos para se tornar mais saudável e cada passo conta! Conta também ter ao seu lado um estudioso inteligente mostrando-lhe dados confiáveis e válidos. A vida é bela e o caminhar lhe permite ver várias facetas dela. 

Professor Visitante da UnB-DF* 

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