Tribuna Ribeirão
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Emoção (23): Raiva 

José Aparecido Da Silva* 

Encontramos em David Myers (1998; Introdução à Psicologia Geral) as seguintes citações: “A raiva, dizem os sábios, é “uma loucura breve” que “leva a mente para longe” e pode ser “muitas vezes mais perniciosa do que a causou”. Mas outros dizem que “a nobre raiva” “transforma qualquer covarde em bravo” e “traz de volta…a força”. Para descobrir o que nos deixa com raiva, James Averill pediu à várias pessoas para se lembrarem, ou manterem registros meticulosos, de suas experiências com raivas. A maioria delas registrou ter sentido, pelo menos, uma ligeira raiva várias vezes por semana. Porém, alguns ficaram com raiva várias vezes ao dia. Para muitos, a raiva era simplesmente uma reação a delitos percebidos de pessoas amigas ou amadas. A raiva era especialmente comum quando o ato da outra pessoa parecia intencional, injustificado e evitável. Todavia, contrariedades eventuais, casuais, sem um culpado, como por exemplo, cheiros desagradáveis, temperaturas alta (como estas que ora estamos vivenciando), engarrafamentos, derrotas da seleção brasileira (jogando mal) também têm o poder de nos deixar com raiva. 

Por outro lado, quando a raiva alimenta atos agressivos, em termos verbais ou físicos, de que mais tarde nos arrependemos, então ela é inadaptativa. Não obstante a amostra estudada por Averill, estudiosos recordaram que, ao sentirem raiva, muitas vezes reagiam de maneira apositiva, em vez de perniciosa. A raiva os levava com freqüência a discutir as coisas com a pessoa ofensora, reduzindo assim a ofensa. Portanto, essas expressões controladas de raiva são mais adaptativas do que as explosões hostis ou a interiorização de sentimentos de raiva. Novas pesquisas indicam que a raiva pode ajudar as pessoas a superar desafios, ou obstáculos, que possam atrapalhar as suas ambições. Em outras palavras, a raiva pode aumentar a eficiência para resolver problemas. Assim, há uma íntima relação entre a emoção (raiva) e a inteligência humana (resolução de problemas). Logo, se você quer atingir seus objetivos, fique com raiva. 

De fato, um estudo publicado recentemente no Journal of Personality and Social Psychology, 2023, 30 de Outubro (comentado brilhantemente na Folha Corrida por Reinaldo José Lopes, Folha de S. Paulo, 10 de novembro de 2023) descobriu que os participantes que completaram uma variedade de tarefas desafiadoras em estado de raiva tiveram melhor desempenho do que os participantes que sentiram outras emoções, como tristeza, desejo ou diversão. Heather Lench, principal autora do estudo e professora de ciências psicológicas e do cérebro na Texas A&M University, disse que as descobertas sugerem que as pessoas podem usar a raiva como motivador. “Descobrimos que a raiva levava a melhores resultados em situações desafiadoras e que envolviam obstáculos aos objetivos”, disse Lench. Mas a raiva não melhorou o desempenho das pessoas quando se tratava de tarefas mais fáceis, de acordo com o estudo. 

O estudo consistiu em seis experimentos, cada um testando se a raiva ajudava as pessoas a realizar tarefas específicas. Lench disse que o resultado mais interessante veio do primeiro experimento, que mediu o número de quebra-cabeças de palavras que os participantes conseguiam resolver em diferentes estados de emoção. Os resultados mostraram que os participantes irritados resolveram mais quebra-cabeças do que os participantes que sentiram qualquer outra emoção. Mais notavelmente, os alunos irritados completaram 39% mais quebra-cabeças do que os alunos que se sentiam neutros. Os participantes que sentiram raiva também demonstraram maior persistência, gastando mais tempo tentando resolver os quebra-cabeças. “Quando as pessoas estavam com raiva e persistiam, era mais provável que tivessem sucesso”, disse ela. “Mas em todos os outros estados emocionais, quando persistiam, eram mais propensos a falhar. Portanto, parece sugerir que as pessoas eram persistentes de forma mais eficaz quando estavam com raiva.” 

Outros experimentos testaram se a raiva poderia motivar os alunos a assinar uma petição, ajudá-los a obter pontuações altas em um videogame ou levá-los a trapacear em quebra-cabeças de lógica e raciocínio para ganhar prêmios. Em todas as situações desafiadoras, os participantes no estado de raiva tinham maior probabilidade de atingir o objetivo desejado. A raiva é sempre uma coisa boa? Ora, nem todas as formas de raiva são úteis para atingir objetivos, segundo especialistas em psicologia. 

Professor Visitante da UnB-DF* 

 

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