Tribuna Ribeirão
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Democracia racial: viva Zumbi dos Palmares! 

José Eugenio Kaça *  
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O eurocentrismo é um conceito que coloca a Europa como protagonista da história da humanidade, e este protagonismo criou uma linha direta entre “Deus” e a nobreza branca europeia, que afirmaram sua superioridade com o sangue azul. A auto superioridade e a proximidade com “Deus” foi a carta autorizativa para essa gente que se julga superior, única e exclusivamente por ter a pele branca, e com isso achavam que podiam dispor como conviesse de outros seres humanos que julgavam inferiores. A expansão comercial dos séculos 15 e 16 , mostrou ao capitalismo incipiente a necessidade de mão de obra barata, e se fosse escravizada melhor ainda, pois como seres humanos superiores podiam dispor da vida de outros seres humanos, que na visão deles eram inferiores, e assim em nome dos lucros extraordinários, os negros africanos foram escravizados. 
 
Segundo as Escrituras Sagrada, todos são filhos de “Deus”, e a salvação da alma sempre foi a prioridade para a Igrejaentão como justificar a escravização dos povos africanos? A ideia foi simples e diabólica, como a prioridade da Igreja sempre foi salvar as almas, portanto, afirmar que os negros africanos não tinham alma foi a justificativa para que a escravização não sofresse nenhum impecílio, e com a proteção de “Deus” se espalhou pelas Américas. O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão, mas este processo de libertação não deu aos negros libertos, a liberdade de ir e vir, que todo ser humano tem direito.  
 
Mas o povo preto não aceitou passivamente a escravidão, lutou e resistiu durante quase quatro séculos, e continua resistindo. A crise europeia, gerou multidões de desempregados e famintos, e como sempre acontece no capitalismo: “toda crise gera uma oportunidade de negócios”, e com uma mão de obra abundante e barata resolveram substituir a mão de obra escrava, e para isso acontecer promoveram a abolição. E depois de quase quatro séculos de trabalho forçado, os negros e suas famílias foram jogados ao relento, sem direito a nenhuma indenização, tendo que viver como pedintes nas beiras de estradas e nas periferias das cidades, mas a reação dos homens de “Deus” foi imediata, pois essa gente maltrapilha não poderiam circular livremente tentando ganhar a vida, e a Lei da vadiagem foi aprovada, e todos que estivessem nas ruas sem um emprego fixo seriam presos, e foram.  
 
Nomes como Luiz Gama, José do Patrocínio, Luisa Mahin, André Rebouças Cosme Bento, Tereza de Benguela entre muitos outros, que foram negros escravizados ou filhos de escravizados tiveram expressiva participação na conquista da “liberdade” dos escravos. Mesmo sendo considerado pela “elite” branca e cristã, como seres humanos inferiores, a mão preta esteve e está presente em todos os setores da economia brasileira, da intelectualidade ao fazejamento, pois não há nenhuma edificação que não tenha participação da mão preta, e mesmo assim a mácula do racismo estrutural tenta apagar o valor histórico dos negros na sociedade brasileira. 
 
Tebas, foi um escravizado que era arquiteto e engenheiro, que construiu a torre da velha Igreja da Sé e da Igreja do Carmo, fez o primeiro sistema de água encanada da cidade de São Paulo, no entanto seu nome não aparece nas placas dos autores da obra. Na música, no futebol, na culinária, nas ciência exatas e humanas, os negros estão presentes, mesmo não tendo as mesmas oportunidades, destinada as “elites” brancas. A política de cotas está mostrando que com oportunidades iguais os negros têm os mesmos resultados, e muitas vezes superiores aos das classes privilegiadas, que sempre tiveram seus lugares nas melhores universidades garantidos. 
 
No entanto, o pensamento eurocêntrico que faz parte do modo de vida da “elite” branca que tem o poder nas mãos, não permite que a democracia racial ocupe todos os espaços da sociedade brasileira. Infelizmente a força do racismo estrutural está no âmago da maioria da população brasileira. Dos mais de quatro mil mortes pelas polícias no Brasil, teve uma média de mais de 80% de negros, sendo que grande parte dos policiais também são negros. Como disse Paulo Freire: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”. 
 
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação  
 

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