Tribuna Ribeirão
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É analfabetismo funcional, ou mau-caratismo?    

José Eugenio Kaça *  
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A evolução humana não foi uma linha ascendente ao longo do tempo, ao contrário os momentos de involução e retrocesso estiveram sempre presentes, e com isso chegamos aos dias de hoje com um retrocesso inimaginável há algumas décadas, pois com a evolução tecnológicas imaginávamos um mundo melhor, mas algo deu errado. Acontece que a evolução é um processo alicerçado na educação, tanto na formal como na informal, sendo a educação formal que acontece no ambiente escolar a responsável pela formação da cidadania, que acontece principalmente na educação básica, pois é nessa fase da vida dos educandos que os direitos e deveres se afloram, e com isso a cidadania será plena na idade adulta.  
 
No entanto a segregação que a chamada “elite branca” tutelada desde a sua origem pelo eurocentrismo, e depois pelo Império do Norte, e isso criou uma classe dominante que tem como marca registrada lamber as botas do poderoso da vez, e replicaram por aqui o que aprenderam de pior com a velha nobreza europeia, e depois com o poderes o Império do Norte, e neste diapasão a escravização dos povos africanos, e a segregação impiedosa contra os pobres escancarou a crueldade que faz parte do modo de vida dessa gente que se julga superior. 
 
O Brasil figura nas últimas posições das avaliações internacionais da educação básica, no entanto, têm os maiores teóricos, reconhecidos internacionalmente – então por que estamos tão mal assim? Há um ditado antigo que diz: “santo de casa não faz milagres”. Acontece que durante séculos a corte da velha oligarquia, com seus privilégios garantidos por herança e pela cor da pele promoveu uma política diabólica, que cuida com muito carinho para que as pedagogias autônomas e progressistas dos santos de casa não façam seus milagres e consigam ultrapassar os muros das unidades escolares. 
 
Paulo Freire, um dos educadores mais citados em trabalhos acadêmicos pelo mundo, define a educação como um ato de amor: “A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa”.O ataque virulento da frente parlamentar do agronegócio contra três questões do Enem 2023, mostra que a educação bancária é a espinha dorsal de um modelo de educação onde refletir e debater as diversas com autonomia é uma questão ideológica. Quem lê um texto, e não consegue interpretar é considerado um analfabeto funcional, e que alguns pseudo intelectuais atribuem aos oriundos da escola pública esta pecha, no entanto a interpretação dos parlamentares desta frente nos mostra que a origem é outra.  
 
A questão 70 do Enem 2023 atribui ao agronegócio uma parcela de culpa pelo avanço do desmatamento na Amazônia, principalmente com o avanço da cultura da soja, mas também pelo tripé: grileiros, madeireiros e pecuaristas, que é uma verdade. No Brasil, de 1999 a 2018 a produção de soja cresceu 165%, enquanto a produção de arroz caiu 51,6%, a de feijão caiu 39% e a de mandioca 25%. Em um país que 60% da população vive em insegurança alimentar, e 15% passam fome, índice que era de 4% até 2015.  
 
É primordial que o debate sobre a produção de commodities (mercadorias) para exportação, e a produção de alimentos para o consumo interno seja de alto nível e transparente, coisa que não acontece. Há uma disparidade colossal entre o financiamento da soja. 76% dos investimentos governamentais em tecnologia são direcionados aos produtores de soja, e 52% do crédito rural, enquanto  os produtores de feijão tem acesso  a 1% a extensão rural. O governo investe na Ferrogrão, uma ferrovia para escoar a produção de grãos para exportação, enquanto os pequenos produtores não conseguem ter centros regionais para a escoação e comercialização da produção de alimentos. 
 
Os liberais gostam de falar que não existe almoço grátis, mas no Brasil existe, pois quando um setor banca os subsídios do outro, está havendo o almoço grátis. A nossa juventude tem direito a ter informações realistas, isso não tem nada a ver com ideologia. Já fomos o maior produtor mundial de cana de açúcar, borracha, café, cacau e agora a soja. Nunca é demais relembrar a história. Nossa juventude tem o direito de conhecer a realidade do país em que vive!  
 
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação  
 
 

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