Tribuna Ribeirão
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Dia do Juízo – O lado palestino

Luiz Paulo Tupynambá * 

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A região onde estão Israel e a Palestina sempre foi uma área de constante mudança de mandatários. Antes fora chamada por Heródoto da Síria Filistina. Sim, a expressão Filistina evoluiu para Palestina, como a chamamos hoje. Roma entrou aqui por volta de 37 A.C., para expulsar os Partas, império inimigo de Roma, e restabelecer o reino judeu, comandado por Herodes. Já no ano de 70 D.C. Roma expulsou os judeus da região, ocasionando a Segunda Diáspora. Em 324 Constantino reunificou o Império Romano e trouxe a região para seu Império cristão. Começou aí uma época de prosperidade para a Palestina. No ano de 614, porém, os Persas invadiram e destruíram Jerusalém. Muitos judeus que viviam na região, foram perseguidos e expulsos por terem apoiado a invasão persa, colocando-se contra os cristãos do Império Bizantino. 

O surgimento do Islamismo trouxe o amálgama que faltava para unir os povos de religiões antigas e culturas diferentes sob a bandeira de Alá. Em 636, o Califa Omar tomou a região da Palestina e da Jordânia, impondo a religião islâmica. Foi ele quem construiu, em Jerusalém, a Mesquita de al-Aqsa. A região continuou a passar de mão em mão entre os sucessivos Califados que a dominaram, até a chegada do Império Otomano (Turco) em 1512. Este império governou a Palestina até a Primeira Guerra Mundial, terminada em 1918.  Com a derrota do Império Otomano, França e Inglaterra receberam mandatos especiais para organizar o Oriente Médio politicamente. A França ficou com a parte norte, incluindo a Síria e o Líbano. Já os britânicos receberam os países árabes ao sul, até o Egito.

O primeiro Congresso Palestino foi realizado em Jerusalém em 1919, ao mesmo tempo em que se realizava o Conferência de Paz de Paris. Um dos fatos que motivou esse Congresso Palestino foi a presença, na Conferência de Paris, do ativista sionista Chaim Weizmann, que reivindicava a implantação de um Estado Judeu na Palestina. Ao contrário do Movimento Sionista, que tinha voz nos meios diplomáticos, os palestinos não tinham e a ideia de um Estado Palestino não foi para frente na época. Portanto o “nacionalismo palestino”, já existia no inicio do século XX.

Com o fim do prazo do Mandato Inglês, em 1948, acontece na ONU a criação do Estado de Israel sem uma discussão real sobre a possibilidade da existência de dois Estados, um judeu e outro palestino. Isso foi o estopim para décadas de ações violentas e guerras, onde o ódio se sobrepõe a qualquer razão ou argumento. 

Recém- fundado e atacado militarmente pelos estados árabes, Israel, fez uma guerra de sobrevivência e depois de expurgo, destruindo vilas palestinas, expulsando pequenos agricultores e moradores de cidades maiores. A partir daí todos os governos israelenses, com mais ou menos vontade, implantaram uma política de ocupação sistemática da terra, desprezando os moradores de outra etnia ou religião.

Em 1967, na chamada Guerra dos Seis Dias, em uma campanha relâmpago em que se saiu totalmente vitorioso, Israel anexou a Cisjordânia, a Faixa de Gaza, o Sinai no Egito, as Colinas de Golã na Síria, a parte oriental de Jerusalém e a cidade velha. Em 1979, nos acordos de Camp David, em que assinaram a paz Israel e Egito, Israel devolveu a região do Sinai para os egípcios. Porém, a parte do acordo que previa uma Palestina autônoma e com governança própria, sob a supervisão da Jordânia, nunca saiu do papel.

Israel continua com sua política de fazer acordos bilaterais com os países árabes ao seu redor, reduzindo assim a ameaça de enfrentar um inimigo unido. E foi a mesma política que aplicou em Gaza e Cisjordânia em relação aos palestinos. Na Cisjordânia, fez um acordo com a Organização para a Libertação da Palestina, OLP, que depôs suas armas. Mahmoud Abbas, ex-combatente da Fatah (o braço armado da OLP) hoje controla administrativamente a Cisjordânia, mas tem enfrentado crescente oposição de outros grupos palestinos, pois a política israelense de controle rígido e expropriação de terras para a instalação de colonos judeus na região tem se intensificado, o que não é aceito pelos palestinos que ali vivem.

Já em Gaza, é o que estamos vendo hoje. Um verdadeiro “gueto”, onde mais de dois milhões de pessoas se espremem em uma área minúscula, entre o deserto e o mar. O Hamas, que nunca foi grupo político e sim grupo armado de resistência inimigo declarado de Israel, é quem controla a população. Assim, Israel tem uma boa desculpa para justificar o cerco imposto há tantos ali. Nada entra em Gaza se não for permitido por Israel. Água, comida, remédios, combustível, tudo tem que ter o carimbo israelense de permissão. É uma população confinada em uma prisão gigantesca a céu aberto.

Sendo um grupo armado muito bem conhecido por Israel, parecia muito fácil seu controle pelo tecnológico e extremamente bem informado serviço de segurança de Israel, por muitos anos considerado o melhor do mundo. Por que será que, de repente, assim da noite pro dia, o Hamas conseguiu atacar Israel com tanta contundência, virulência e maldade? 

Com a palavra o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e seus serviços secretos.

Mas a política, essa venenosa realidade, parece estar à frente de tudo. Antes de explicar, melhor destruir. Antes de conversar, melhor assassinar. Em nome de Deus ou de Alá, à sua escolha, como queira.

* Jornalista e fotógrafo de rua 

 

 

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