Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Manoel Penna nasceu em Areias, na porção paulista do Vale do Paraíba, no dia 16 de fevereiro de 1889, filho do fazendeiro José Joaquim Ferreira Penna e da professora primária Emília Silva Leme Penna. Foi o quarto filho do casal.
Aos sete anos fica órfão de seus pais e éacolhido por tios, que assumem a responsabilidade de criá-lo e a seus irmãos.A adolescência de Manoel Penna é vivida na frequência à escola e no trabalho no armazém do tio que o acolhe.
Percebendo que o Vale do Paraíba já mostrava sinais de sua decadência, começa a alentar a ideia de vir para o novo Eldorado paulista, a cidade de Ribeirão Preto.
Usando todas as suas economias, suficientes para mantê-lo por trinta dias, Manoel Penna vem para nossa cidade e consegue uma entrevista com Antônio Diederichsen, que o contrata como auxiliar de balcão do Antigo Banco Construtor. Sua função é manter a limpeza da loja e repor no estoque as mercadorias pegas pelos balconistas, assim chamados, à época, os vendedores. Trabalhador, ciente de suas responsabilidades, cheio de vontade de progredir, Manoel Penna inicia vitoriosa carreira, que chama a atenção de Diederichsen: balconista, chefe de balcão, gerente geral da loja, culminando com o convite para se tornar sócio de seu empregador.
Embora Diederichsen tenha lhe delegado a gestão do empreendimento, nada faz ou decide sem antes colher a sua opinião.
Desde cedo, abraça as causas assistenciais do seu amigo. Assim, torna-se tesoureiro da Santa Casa de Ribeirão Preto, cargo que exerce por mais de 30 anos e ocupa-se de atender às necessidades do Asilo Padre Euclides, conduzido pelo seu amigo Alfredo Porto, além de inúmeras benemerências que faz, sempre cercadas de sigilo.
Com a morte de Diederichsen, em 1955, Manoel Penna torna-se titular da empresa e continua a sua obra, cumprindo as diretrizes de seu sócio: atender às necessidades dos clientes, aperfeiçoar a equipe e antecipar as tendências do mercado.
Até quando a saúde permite, Manoel Penna é presença central na empresa, preparando seus sucessores, dando vida a seu lema: “A vida é uma transferência “.
Aos 80 anos, faz uma viagem sentimental a Areias, onde revê os marcos de sua infância e juventude e, depois, transfere a gestão da empresa para seus netos. Sempre assistido por suas filhas Nice e Vera, netos e bisnetos, vive até seus provectos 101 anos, falecendo em 16 de agosto de 1990.
Em sua homenagem, a cidade de Ribeirão Preto deu seu nome a um dos seus bairros.
Manoel Penna foi meu grande mestre. Confirmou a importância da responsabilidade e da honestidade que aprendi em casa; iniciou-me na arte do comércio; plantou na minha cabeça a ideia de que atender às necessidades do cliente é a chave de qualquer empreendimento; deixou-me ver que, sem investir no desenvolvimento da equipe, não se vai longe; clareou o conceito de que a vida é uma eterna transferência e que é preciso estar preparado para ceder o bastão. Finalmente, deixou claro que todos estes conceitos só sobrevivem se tivermos uma família unida e feliz.
Manoel Penna era pessoa afável, de fácil comunicação, um gentleman, sempre bem vestido, perfumado e de bom humor. Diariamente, dava expediente na Tesouraria da Santa Casa, das 8 às 10h, depois visitava o depósito central da empresa, assenhoreava-se do desempenho do dia anterior e dirigia-se para a sede, onde chupava suas duas laranjas seletas. De bem com a vida, tinha sempre uma palavra de incentivo para as filhas, os netos e bisnetos. Permaneceu casado com Esther D’Ávila Penna por 54 anos.
* Advogado, empresário, presidente do Conselho da Santa Emília Automóveis e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras