Tribuna Ribeirão
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Emoção (19): Felicidade 

José Aparecido Da Silva* 

As pessoas buscam a felicidade por várias razões. Há também razões práticas sobre o porquê de as pessoas perseguirem a felicidade. Podendo refletir a extensão na qual a vida de uma pessoa está indo bem, ser feliz implica sucesso, enquanto não o ser implica fracasso. Há também razões hedônicas para valorizar a felicidade. Cidadãos comuns, incluindo muitos que jamais leram Aristóteles, reconhecem que felicidade é prazer e que infelicidade é desprazer. Considerados similares, felicidade e prazer lhes parecem ser, portanto, elementos vivenciados conjuntamente. De fato, todas as pessoas são motivadas a abordar coisas que trazem prazer e a evitar outras que causam dor. As pessoas, de modo geral, reconhecem a importância das emoções em suas vidas. Se, por um lado, a busca da felicidade é tão antiga quanto a raça humana, por outro, a existência de pesquisa científica rigorosa acerca de quem é feliz e do quê faz uma pessoa feliz é relativamente nova. As décadas do cérebro e do comportamento têm aberto as portas para examinar a biologia do prazer e da felicidade, bem como, da depressão e da ansiedade. Perguntamos: pode a ciência dar-nos respostas para questões tão antigas quanto aquela sobre o quê, realmente, determina e mantém um alto nível de bem-estar? 

Estudos variados têm procurado identificar os fatores que conduzem as pessoas a alcançarem felicidade. Especificamente, estudos começaram a identificar os preditores do alto bem-estar subjetivo ao qual esta se congrega. Contudo, recentemente, os estudiosos reconhecerem que felicidade não é o estado final resultante de quando as coisas vão bem. Ao contrário, felicidade pareceu-lhes ser algo funcional, o que lhe acarreta outras consequências, além do comumente conhecido “sentir-se bem”. Felicidade tem implicações no trabalho, no amor e na saúde, de tal modo que, pessoas, consideradas felizes, recebem avaliações empregatícias mais elevadas, por parte de seus supervisores, obtendo os mais prestigiosos trabalhos. As pessoas ditas mais felizes têm renda mais elevada que aquelas ditas infelizes, mesmo muitos anos após as avaliações iniciais. As pessoas mais felizes são, em geral, mais felizes em seus casamentos, expressam emoções mais positivas e, também, vivem mais longa e saudavelmente que suas contrapartes consideradas infelizes. Felicidade ou estados mentais similares, semelhantes a esperança, otimismo e contentamento, parecem reduzir o risco ou limitar a severidade de doenças cardiovasculares, pulmonares, diabetes, hipertensão, gripes e infecções das vias respiratórias superiores. 

A literatura recente tem identificado e decomposto empiricamente três constituintes da felicidade: 1) prazer (ou emoção positiva), 2) engajamento e 3) significado. A primeira rota para uma maior felicidade é hedônica, ou seja, vinculada ao prazer, aumentando com as emoções positivas. A menção, durante um diálogo, de se estar feliz é o tipo de “felicidade” presente nesta rota. Dentro de certos limites, podemos aumentar nossas emoções positivas sobre o passado, cultivando a gratidão e o perdão, sobre o presente, fomentando a sabedoria e a obediência, e, também, sobre o futuro, cultivando a esperança e o otimismo. A segunda rota para a felicidade envolve a busca da “gratificação”. O elemento-chave de uma gratificação é aquele que engaja-nos completamente. Inserimo-nos nesta rota quando nos gratificamos em participar de uma grande conversação, consertar uma bicicleta, ler um bom livro, ensinar uma criança, tocar um violino e em realizar uma tarefa complexa no trabalho, ou mesmo, em participar de atividades políticas. Esta rota pressupõe que é preciso nos envolver completamente nas mesmas para fomentar nossas potencialidades pessoais, tais como, a criatividade, as inteligências analítica e emocional, senso de humor, perseverança e apreciação da beleza e da excelência. Embora a busca de gratificações envolva, fundamentalmente, as nossas potencialidades, uma terceira rota para a felicidade origina-se do uso das mesmas para pertencer e colocar-se a serviço de algo maior do que a si mesmo; algo como conhecimento, bondade, família, comunidade, política, justiça ou um poder espiritual mais alto. A terceira rota é a do prazer que dá significado à vida. Ela fornece um propósito para esta e é um antídoto para a síndrome de inquietude até morrermos. 

É certo que as pessoas, diferentes que são entre si, diferem, também, em suas tendências para se basear numa ou em outra rota em busca da felicidade. Algumas pessoas buscam-na fomentando as emoções positivas, ou seja, “a vida prazerosa”; outras a buscam nas gratificações, “a vida agradável”; e outras, ainda, buscam-na fazendo uso de suas potencialidades para alcançar alguma coisa muito maior que elas mesmas, “a vida significativa”. As pessoas que utilizam estas três rotas para buscar felicidade alcançam o que se convencionou chamar de “vida completa”. E, nestes casos, evidências empíricas atuais sugerem que esta, uma vez alcançada, gera uma intensa satisfação de viver.  

Entendemos que é discernindo e buscando os diferentes determinantes que fazem a vida feliz, assim como, o modo pelo qual o fazem que possam ajudar as pessoas a repensarem suas prioridades e melhor entenderem como construir um mundo que, feliz, enriquece, muito mais, o bem-estar-humano. 

Professor Visitante da UnB-DF* 

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