Tribuna Ribeirão
Artigos

O Chile e sua literatura (39): Alejandro Zambra 

Rosemary Conceição dos Santos* 

Poeta e narrador chileno, Alejandro Zambra (1975-…) é considerado um dos 39 escritores latino-americanos jovens mais importantes da contemporaneidade. Licenciado em Literatura Hispânica pela Universidade de Chile, Zambra iniciou sua carreira literária como poeta, seguindo para o gênero narrativo. Seus primeiros livros de poemas foram “Bahia Inútil” (1998) e “Mudança” (2003). Três anos depois, a editora espanhola Anagrama lança o primeiro romance do autor, “Bonsái”, que logo alcançou sucesso de público e de crítica. Traduzido a vários idiomas, o romance foi adaptado para o cinema e apresentado no Festival de Cannes de 2011. Tendo sido um dos diretores da revista de poesia Humo, tem colaborado com críticas literárias e colunas em diversos jornais e revistas, como, por exemplo, em Las Últimas Notícias, onde, por três anos, escreveu a coluna Hoja por hoja, além dos periódicos El Mercurio, La Tercera e The Clinic e de suas contribuições ao suplemento literário Babelia do El País, a revista espanhola Turia e a mexicana Letras Libres. 

Acometido por enxaquecas tensionais constantes, levou a experiência dolorosa da mesma ao seu protagonista na obra “Formas de voltar a casa”. Em 2015, foi agraciado com uma bolsa, pela Biblioteca Pública de Nova York, para que trabalhasse num livro sobre bibliotecas chamado “Cemitérios pessoais”. Tendo trabalhado muito tempo como crítico literário antes de tornar-se ficcionista, Zambra tem a cidade de Santiago, as casas chilenas e o seu país como temas recorrentes de sua obra. De acordo com especialistas, Zambra defende ser preciso a todos indagar quais os lugares ocupados pela literatura, e o que significa ler e escrever hoje em dia, para compreender a condição humana no mundo. Seu livro mais recente, publicado no Brasil, é “Múltipla escolha”, romance que reflete sobre memória, educação, relacionamentos, política e desigualdade, utilizando o formato da Prova de Aptidão Verbal, aplicada no Chile de 1966 a 2002 para avaliar as universidades no país. De sua autoria destacam-se, também, “Facsímil” (poesia); “A vida privada das árvores”, “Formas de voltar a casa”, “Poeta Chileno” (romances); “Meus documentos” (contos); “A montanha russa” (ensaio), em seleta de ensaios, e “Não ler” (críticas literárias). 

De acordo com estudiosos de sua obra, em “Bonsai”, conduzido pelos dilemas amorosos e literários de um casal de estudantes de letras, antes mesmo de saber os nomes dos protagonistas (Julio e Emilia), o leitor é informado, logo na primeira linha, de que “no final ela morre e ele fica sozinho”. Logo mais, o narrador esclarece: “O resto é literatura”. Romance que trata da escrita, da leitura e da literatura, “Bonsai” abriu caminho para as traduções dos trabalhos seguintes do autor. Nas palavras do autor, “Antes de me encontrar com o “Bonsai” romance, escrevi um grande poema, um livro brevíssimo que se chama “Mudanzas” e que, creio, está conectado com “Bonsai” e com os livros seguintes, e que efetivamente tem um tom muito narrativo. (…) Me interessava o bonsai, a ideia de que cuidar de um bonsai era parecido com escrever. Pensava, por exemplo, nesse poema de Rubén Darío, “eu persigo uma forma que não encontra meu estilo.” Meu método consiste em mergulhar em imagens que me interessam, e eu digo a verdade quando escrevo que não sei bem para onde vou; é justamente isso o que dá sentido à escrita. (…) “Estou escrevendo com demasiada facilidade, é preciso desconfiar disso”, disse por aí, lindamente, Clarice Lispector. Eu penso assim também”. 

Indagado, em entrevista a um grande jornal brasileiro, sobre como era, para jovens escritores chilenos, conviver com a presença tão forte de Roberto Bolaño sempre que se falava de literatura contemporânea do Chile, bem como, se existia alguma influência perceptível, o autor respondeu: “Para mim, Bolaño é como um irmão mais velho que chega em casa muito tarde da noite e começa a contar suas aventuras. E, ainda que você tenha vontade de viajar e experimentar essas mesmas aventuras, de algum modo você sabe que o que resta a você é ficar onde está, esgotar uma paisagem única, se aprofundar em algumas poucas ruas que você conhece de cor. A obra dele me interessa muito, foi muito importante para mim. E não me diga que ele morreu, porque não vou acreditar em você. Agora, a respeito de sua influência sobre os mais jovens, a verdade é que eu já não sou jovem, mas posso ver com bastante clareza que, sim, essa influência existe. A começar porque agora os jovens chilenos escrevem romances. Aos 20 anos, já escreveram dois ou três romances, enquanto eu, quando tinha a idade deles, nem pensava em algo assim”. 

 

Professora Universitária*

Postagens relacionadas

O Paulinho que não era ‘da Viola’

Redação 1

O Natal e a Sagrada Família!

Redação 1

Você é cúmplice da tragédia Yanomami?

William Teodoro

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com