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Dia do Juízo – O lado judeu

Luiz Paulo Tupynambá *
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“Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, esqueça-se a minha mão direita da sua destreza. Apegue-se-me a língua ao céu da boca, se não me lembrar de ti, se eu não preferir Jerusalém à minha maior alegria (Salmos 137:5-6).” – é dito que esse salmo surgiu nas margens dos rios da Babilônia, entoado pelos judeus expulsos de sua terra na Primeira Diáspora.

Imagine você um país com uma área menor do que a área do menor estado brasileiro. Ou seja, menor que o estado de Sergipe. Um país com um décimo do tamanho do Equador, só que não tem sequer onde plantar bananas, pois é um misto de desertos, terras áridas e pouca água. Que é vizinho de países riquíssimos, com petróleo vazando aos baldes de suas areias escaldantes, mas não tem petróleo como eles.

Esse país está numa localização geopolítica estratégica e é o centro espiritual das três maiores religiões monoteístas do mundo. Duas delas tem em suas escrituras sagradas textos que preveem que esta região será o local da batalha final entre o Bem e o Mal: o Judaísmo e o Cristianismo. A terceira religião, o islamismo, não tem em sua escritura sagrada a previsão de um dia do juízo final, mas tem essa previsão em outras escrituras, os “hadits”, que são contos que teriam sido ditados pelo profeta Maomé, com visões sobre o futuro dos homens. Como no Cristianismo, prevê a chegada de um falso profeta, que trará a dissidência e a guerra, num mundo mergulhado na corrupção e na libertinagem. Assim acontecerá o “al-Din”, o dia do Juízo Final, seguido pelo “al-Qiyamah”, o dia da Ressureição dos Justos. Para os muçulmanos, a grande batalha final acontecerá entre muçulmanos e judeus e seus aliados cristãos. Essa batalha entre o Bem e o Mal é prevista, nas três religiões, para acontecer na região onde hoje se situa Jerusalém.

Mas, por que, se não tem recursos minerais nem grandes áreas próprias para a agricultura, essa região sempre foi o foco de disputas violentas entre as nações?

Delimitada ao sul pela parte continental do leste do Egito e pela Turquia ao norte, ao leste pelo Mar Mediterrâneo e no Oeste pela Mesopotâmia, ela é o centro de convergência da humanidade desde os primeiros tempos da civilização como a conhecemos. O comércio mundial até hoje depende dela para fluir. Ali está o Canal de Suez, por onde passa cerca de sete por cento do comércio mundial e dez por cento de todo o petróleo transportado no mundo. Grandes oleodutos, como os de Sumed no Egito, que liga diretamente as regiões produtoras no Mar Vermelho com o Mediterrâneo, sem passar pelo Canal de Suez e o oleoduto Bacu-Tiblíssi-Ceyhan, que liga o Azerbaijão e o Mar Cáspio, com o Terminal de Ceyhan, na Turquia. Todo o transporte oceânico que vem ou vai pelo Mar Negro passa por ali, em sua conexão única com o Mediterrâneo. Essa ligação é essencial para o transporte de grãos alimentícios e de fertilizantes minerais saídos das regiões agrícolas da Ucrânia e da Rússia. Desde tempos quase imemoriais, a região é o coração do comércio mundial e portanto sempre foi objetivo de conquista de impérios e nações estrangeiras. Egípcios, hititas, babilônios, persas, gregos, romanos, árabes, otomanos, ingleses e vários outros povos dominaram esse pedaço do Oriente Médio.

Os judeus sempre consideraram a região hoje chamada de Palestina, bem no centro da região que trato neste texto, como a Terra Prometida por Deus para o povo eleito (os judeus). Todo mundo conhece a história de Moisés e a fuga do povo de Israel do domínio do faraó egípcio. Moisés não chegou a pisar na Terra Prometida, a tarefa coube a Josué e seu braço direito, Caleb, que lideraram o povo hebreu na conquista. A tomada da terra não foi pacífica e correu muito sangue dos dois lados, com a vitória final dos hebreus que subjugaram os derrotados cananeus. Séculos depois, Israel estava dividida em dois reinos e acabou invadida pelos assírios e babilônios, que promoveram a Primeira Diáspora, levando o povo hebreu para a Babilônia, com uma volta gradual dos hebreus para a Terra Prometida. Em 63 A.C. os romanos invadiram a Judéia e subjugaram seu reino. Cem anos depois, uma sangrenta guerra aconteceu entre judeus e romanos. Estes últimos venceram e, como vingança, expulsaram todos de sua terra. Desta vez os judeus tiveram que se espalhar pelo mundo, fugindo da perseguição romana e de outros povos que eram seus inimigos. Foi a segunda diáspora.

Essa dispersão durou até o Holocausto. O horror provocado pela “Solução Final”, tentativa insana e maligna proposta e quase perpetrada pelos nazistas de eliminar todos os judeus do mundo, deu o motivo para que as organizações de autodefesa dos judeus espalhadas pelo mundo e seus braços políticos em diversos países, pressionassem para a volta dos judeus à sua Terra Prometida. Em 14 de maio de 1948, a Assembléia Geral das Nações Unidas permitiu a criação do Estado de Israel, na mesma região de onde tinham sido expulsos, quase dois mil anos atrás pelo Império Romano. E, novamente, a Terra Prometida já estava ocupada pelos descendentes dos cananeus, os atuais palestinos e por outros grupos árabes. E novamente houve a guerra, vencida agora pelos descendentes de Moisés, Josué e Caleb.

Na próxima semana quero falar sobre o lado palestino da questão, não quero ser a favor de um ou outro lado, não sou judeu, nem descendente de palestinos. Também não professo nenhuma das três religiões citadas aqui. Até lá.

* Jornalista e fotógrafo de rua 

 

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