Tribuna Ribeirão
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O dilúvio, o domingo, a manhã e a bola

Edwaldo Arantes * 
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Era um sábado de muito sol e um calor abrasador em Ribeirão, um jogo marcado entre o time do Sócrates e a Ponte Preta. 
 
Dois escretes formados por craques inesquecíveis, a Ponte  coroada de representantes do naipe de Carlos,  Oscar, Polozzi, Dicá, Vanderley, Marco Aurélio, Rui Rei,  o  do Magro,  Lorico, Mineiro, Wilson Campos, Zé Mário, Aguilera, talentos dos dois lados. 
 
Mesmo como Bafudo eterno sempre fui bem recebido em Santa Cruz, ia rumar para lá, quando desabou uma chuva torrencial, digna da Arca de Noé, um dilúvio de arrancar árvores, entornar rios e fazer “cachorro beber água” em pé. 
 
O jogo foi  transferido para a manhã seguinte, domingo, às 11h, caso bom tempo. 
 
Manhã linda, sem sequer uma nuvem no firmamento, o céu da cor do manto celestial, um sol de confundir os olhares e embaralhar a visão, o astro rei soltava seus raios amarelos como bolas de fogo. 
 
Acordei e subi a Costábile Romano, lá chegando, direto ao bar, com um detalhe contado pelos fofoqueiros de plantão mexericando que o Sócrates havia passado a noite inteira em um  reduto dele e de muitos boêmios, jornalistas, notívagos e  toda a galera etílica nas esquinas das ruas  Garibaldi e  Quintino Bocaiúva, nas costas do HC/USP. 
 
Iniciada a partida, o tempo correndo, só dava o timaço campineiro que estava mesmo com a macaca, Magro andando em campo, seu pai, o inesquecível Raimundo Vieira, costumava gritar quando ele estava praticamente fora do jogo, mas em campo. 
 
Aqueles antigos como eu se lembram da sombra da arquibancada, refletida no campo que atrapalhava a visão, principalmente em televisores brancos e pretos.< span class="LineBreakBlob BlobObject DragDrop SCXW249729128 BCX0"> 
 
O Magrão ficava grudado andando de cá para lá, na tal faixa, protegendo-se do Sol sob os gritos do Senhor Vieira: 
 
Sai da sombra, oito! 
 
Sai da sombra, oito! 
 
Fim do primeiro tempo 0 x 0, OxO (ôcho)”, como dizia Walter Abraão, com o  time campineiro  mandando e desmandando em campo. 
 
Começa o segundo tempo e nada, fotocópia perfeita do tempo inicial, Aguilera pegando tudo, até pensamentos, como se  diz na gíria dos boleiros, Dicá, um maestro do meio campo, comandando a orquestra. 
 
Falta na meia lua, Dicá busca o ângulo, bem onde a “coruja dorme”, o couro cobre a barreira, mas choca-se com o  travessão, na magistral cobrança onde ele  era catedrático. 
 
O jogo caminhando, arrastando, penando, o sol queimando, quem é de Ribeirão entende uma imensa fogueira tal qual um  “São João” no Céu. 
 
Aos 39 o Doutor deixou a sombra e foi caminhando até o meio campo, Mário roubou uma bola, entregou ao Lorico que lançou, Sócrates dominou e desceu pela intermediária avançando, Polozzi foi ao encalço e levou uma bela caneta, Oscar saiu da área e levou um drible desconcertante, um verdadeiro pedido para dançar, como nos bailes de antigamente, Carlos saiu da meta, um corte para o lado e deu rede. 
 
Aos 43, escanteio, o Doutor matou no peito, na entrada da grande área, aplicou um “sombrero” no Vanderley, líbero na frente de uma zaga de não deixar dormir centroavante, Polozzi saiu em socorro, tomou
uma meia lua quarto crescente, o Magro ficou cara a cara com o Carlos que permaneceu parado, ele não chutava, a massa desesperada gritando chuta! Chuta! Chuta! Até que
o  Carlão abriu as pernas e a pelota passou entre elas rumo ao barbante.
 
 
Como dizia Jorge Curi, “fim de papooooooooo”. 
 
Magrão foi atuar no terceiro tempo lá nos gramados do “Juca’s Bar”. 
 
* Agente Cultural 

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