Tribuna Ribeirão
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Emoção (16): Duas cabeças são realmente melhores que uma? 

José Aparecido Da Silva* 

 O Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucional o marco temporal das terras indígenas, ou seja, a maioria entendeu que as terras indígenas, mesmo não demarcadas, devem ter proteção do estado. O julgamento foi concluindo com 9 a 2 votos, indicando uma vitória para os povos indígenas. Interessante, neste contexto, é o fato de que a tomada de decisão foi realizada de forma coletiva. No sistema legal de muitos países, as decisões sobre temas e casos importantes são tomadas não por um simples juiz, mas por um júri composto por 11 ou 12 (no caso do Brasil por 11 grandes magistrados). O que se espera é que 11 (ou 12) cabeças sejam melhores que uma, porque suas emoções conflitantes cancelar-se-ão mutuamente, deixando a razão pura ser o árbitro final. Em outras palavras, supõe-se que uma maneira de encontrar uma decisão mais pura é institucionalizar o processo de tomada de decisão, transformando-a de uma ação puramente individual (dita, algumas vezes, emocionalmente enviesada) numa decisão coletiva.  Acredita-se, sempre, que duas cabeças são melhores que uma porque se espera que elas sejam menos emocionais. Outros exemplos podem ser encontrados na Ciência, na qual o processo por revisão por pares tem o papel de filtrar as emoções conflitantes dos vários participantes, de modo que eles possam alcançar uma concordância baseada em razões puramente racionais, cognitivas.  

Por outro lado, quando consideramos que as emoções afetam a tomada de decisões racional, poderíamos entende, de imediato, que isto é inerentemente uma coisa ruim. Porém, nem sempre será o caso. Há benefícios em basear nossas decisões sobre fatores emocionais em muitas situações que realizamos ao longo da nossa bela jornada de vida. Se a Ciência progride melhor devido a sua tomada de decisão coletiva, e se a Justiça é mais bem servida pelos juízes de forma coletiva do que por juízes individualmente, isto ocorre porque o coletivo é mais emocional do que o individual, não menos como se pensa. Talvez, isto ocorra porque um Tribunal Coletivo, por natureza, julga muito melhor os acusados, ou mesmo as instituições de Estado, do que faz um juiz isoladamente, porque 12 ou 11 corações são melhores que um. 

Estudiosos também têm analisado o poder de grupos sociais para amplificarem as emoções, mas tendem a vê-lo com suspeição muito mais do que com admiração. Por exemplo, todos nós vemos emoções exacerbadas durante as invasões que ocorrem aos nossos poderes constituídos no dia 8 de janeiro deste ano.  Não vamos aqui fazer qualquer análise psicológica. Muito recentemente, outros estudiosos têm especulado que líderes demagógicos, ou populistas, alcançaram e mantiveram seu poder, em parte, tomando vantagens de uma “mente primitiva”, na qual a emoção coletiva sufoca, afoga, abafa, excluir, a voz individual da razão, da cognição, da inteligência analítica, Emoção coletiva poder emanar uma força poderosa, mas muitos pensadores, com medo das massas não educadas, entendem que este poder pode ser mais perigoso do que libertador. 

Temos ainda muito a compreender e, principalmente, a investigar. Seria a tendência para emoção ser amplificada nos grupos sociais explicada somente por fatores ambientais, contextuais envolvendo crises econômicas, pandêmicas, sociais, desigualdades e muitas outras? Você nomeia. Ou as razões para a nossa susceptibilidade emocional seriam evolutivas, genéticas, ou uma combinação de fatores? Há razões biológicas para o poder do nosso contágio emocional? Reflita. Alguém disse, alhures, que a razão não é sempre escrava da paixão. Algumas vezes nossas cabeças são vazias de emoções, e é então que nós podemos fazer alguns dos nossos trabalhos mais elegantes e analíticos. Algumas vezes, a força das nossas emoções força-nos a sermos extremamente criativos, e muitos trabalhos emana uma beleza que somente pode ser explicado pela emergência de nossas emoções. 

Idealmente, nós não somos nem completamente racionais nem completamente emocionais, mas manejamos entre os dois e por isso nos referimos como inteligência emocional. 

 

Professor Visitante da Universidade de Brasília – DF* 

 

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