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Tesla lá e Lula cá

Luiz Paulo Tupynambá *
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O nome da principal empresa de Elon Musk é uma homenagem ao engenheiro sérvio Nikola Tesla. Ele foi, talvez, o principal desenvolvedor dos sistemas elétricos que poderiam ser aplicados de maneira eficiente e economicamente viáveis nas indústrias, empresas e casas. O trabalho de Tesla foi a semente e o fruto da revolução econômica e social causada pelo domínio da eletricidade como fonte motriz, coisa que impulsionou a Revolução Industrial já no final do século XIX. Tesla era um visionário, com ótimas ideias e sólida formação em engenharia e física. Curiosamente a sua invenção de um motor de corrente alternada foi feita na época em que trabalhava para aquele que viria a ser seu maior desafeto e difamador, o estadunidense Thomas Edison. Edison era um verdadeiro “tycoon”, um empresário que passava por cima de tudo e todos. Não acreditou nas ideias do seu empregado sérvio, que contrariavam a sua convicção de que a corrente contínua seria o futuro, dispensou-o. Tesla não teve dúvida, associou-se a outro “tycoon”, George Westinghouse e deu no que deu. A famosa “Guerra das Correntes” acabou em vitória do sistema proposto por Tesla, mas o dinheiro gerado pelas patentes acabou no bolso de Westinghouse. Já o engenheiro sérvio acabou seus dias na miséria, desacreditado.

O senhor Musk tem muito de um e outro, Tesla e Edison. Acredita num futuro tecnológico e sustentável, para os ricos, enquanto age como um “tubarão dos negócios” em seus empreendimentos. Elon Musk é um poço de vaidade num turbilhão de contradições pessoais. E quando se pensa que está indo para trás, puxa uma carta da manga e salta na frente outra vez.

Depois de um primeiro semestre onde teve que lidar com a sua confusa compra do Twitter (agora X), a briga de comadres que travou com Mark Zuckerberg, da Meta e os atrasos do seu projeto StarLink, parece que os ventos mudaram por um tempo. Foi lançada uma biografia escrita por Walter Isaacson, respeitado jornalista e biógrafo, que, se não chega a ser elogiosa, também não é contundente. Nasceu seu terceiro filho do casamento com a cantora Grimes que, como os irmãos, tem um nome pra lá de esquisito: Tau Techno Mechanicus. De brinde recebeu a notícia de que a sua empresa Tesla foi valorizada em seiscentos bilhões de dólares, pela recomendação de vários bancos estadunidenses. Isto porque Musk anunciou que o seu supercomputador, batizado de “Dojo” (nas empresas japonesas, local onde acontecem treinamentos).

Este supercomputador vai fazer com que Musk deixe de ser refém de uma potencial competidora no mercado futuro de carros auto-dirigíveis, a Nvidia, antes uma parceira no desenvolvimento de componentes para seus carros. O Dojo foi desenvolvido em conjunto com a TSMC, maior fabricante de chips do mundo. Na verdade, ele vai “treinar” os sistemas de Inteligência Artifical que serão usados nos carros da Tesla e de outros fabricantes. Mas não pense que vai ser usado só nos carrões, ao contrário disso, o foco é no transporte de mercadorias, bens e pessoas. Sim, num futuro próximo em vez de Uber, teremos o Uberrobot, em vez de caminhões de entrega teremos truckbots, em vez de moto-boys, teremos moto-roboyts. Um mercado potencialmente avaliado em dez trilhões de dólares nos próximos vinte anos. Como se vê, nem tudo na vida de um bilionário como Musk é tristeza e perrengue com seus desafetos. Tem seus dias bons também.

Lula lá, na ONU

Num discurso bem recebido na abertura da Assembleia Geral da ONU o presidente brasileiro mostrou que seu governo está atento não só às eternas mazelas locais, bem conhecidas de todos nós, mas está antenado com a situação mundial que passa por um período de mudanças drásticas, sejam elas econômicas, geopolíticas, ambientais ou sociais. São desafios urgentes: o advento do novo mundo digital e as mudanças que trará, principalmente na distribuição de renda e do emprego num ambiente que certamente provocará uma concentração maior de recursos financeiros e decisórios nos países que hoje dominam a nova tecnologia; o relacionamento estratégico e político que exige um novo desenho, pois o modelo que aíestá, que ainda é uma reprodução do mundo no fim da Segunda Guerra Mundial; a urgência de uma governança climática mundial, com poder decisório, para o enfrentamento da crise ambiental e por fim, eleger o controle do desenvolvimento e aplicação da Inteligência Artificial, em nível mundial, como prioridade dos organismos transnacionais.

A reunião bilateral com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mostrou que a grande preocupação hoje é com o relacionamento capital/trabalho num mundo em que o desemprego irá crescer rapidamente nos países “periféricos”, com a exponencial substituição empregados humanos por bots e cobots, em todas as áreas da atividade econômica. Bom saber que algumas pessoas mais inteiradas no assunto andam soprando no ouvido dos senhores presidentes o que realmente está acontecendo e não é a disputa por subsidiar ou não as próprias “commodities”. A Alemanha deu o poder para Hitler, no voto, quando o desemprego lá bateu em vinte e cinco por cento. Agora o que está em jogo, no mendo, é a própria democracia-liberal, forma de governo que surgiu junto com a Revolução Industrial. Sabe-se lá o que vai aparecer como forma de governo no tsunami da revolução tecnológica. Que a conversa entre eles continue e seja muito produtiva.

 

* Jornalista e fotógrafo de rua 

 

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