Perci Guzzo *
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Ciclovias e ciclofaixas são essenciais na cidade pós-Covid e pré-catástrofe climática. Tempo de uma década, talvez uma década e meia. As decisões de agora em diante devem ser acertadas na gestão urbana visando preparar as cidades para emitir menos carbono, adaptar-se à hostilidade dos extremos climáticos e, se possível, constituir resiliência ecossistêmica às intempéries ambientais. No mesmo espaço de tempo, no mesmo espaço urbano, uma cultura impregnada de responsabilidade com as futuras gerações deve aflorar e se fortalecer.
Estão fadadas à curta durabilidade, as intervenções ultrapassadas e equivocadas.
O sistema de ciclovias que vem sendo implantado em Ribeirão Preto deve ocupar parte das faixas de rolamento dos automóveis, aproveitando o solo já impermeabilizado. Diferencia-se o piso em coloração vermelha, reduz-se a largura das faixas para automóveis, induzindo assim velocidades menores que as atuais. Nos canteiros de avenidas e áreas marginais aos cursos d’água, incrementa-se a arborização, projetando mais sombra para o futuro, visando maior conforto térmico. Somente assim, novos adeptos à locomoção por bicicletas serão seduzidos a usar o sistema de ciclovias da cidade.
Colocar a ciclovia nos canteiros centrais ou nas marginais de cursos d’água, provoca os seguintes impactos: nova onda de impermeabilização do solo, reduzindo área de infiltração de água pluvial; prejuízos significativos ao sistema radicular das árvores existentes, proporcionando maior vulnerabilidade a fenômenos atmosféricos bruscos; extrações indesejáveis e equivocadas de árvores localizadas no traçado da ciclovia; redução de espaço disponível para novos plantios de árvores; indução dos pedestres para caminhada no canteiro central como ocorre na Avenida do Café, gerando conflitos de uso; risco de subsidência dos solos de aluvião às margens dos córregos e por fim, maior risco de acidentes, visto contato imediato da bicicleta com os veículos que circulam em velocidades altas.
A meu ver, sinceramente, a projeção do sistema cicloviário em canteiros de avenidas e às margens dos córregos é opção equivocada. Talvez dê tempo ainda de evitar tal erro em obras futuras, ou mesmo reverter situações já constituídas. Creio que valha a pena também, pesquisa e monitoramento junto à população sobre o possível uso e a efetiva adesão das ciclovias na condição como estão sendo implantadas.
Outra intervenção urbana prestes a ocorrer que precisa ser avaliada com muito cuidado é a instalação/substituição de 80.000 lâmpadas em logradouros públicos. Três possíveis impactos me ocorrem que devem ser objeto de atenção: o impacto na fauna silvestre que ocorre no ambiente urbano, sobretudo aves e espécies de comportamento noturno; a geração indesejada de uma nova onda de poda de árvores para instalação dos postes e luminárias; e os efeitos fisiológicos à população a partir do possível excesso de iluminação (sono, metabolismo, sistema imune etc.).
Com o advento recente da nova lei de parcelamento, uso e ocupação do solo – LC 3.175/2023 – há uma ampliação significativa, ou até mesmo absurda, da área de expansão urbana do Município. Nada de “smart city” nesta decisão, meus caros! Creio que seja necessária uma avaliação estratégica criteriosa dessa decisão perante o cenário d
e emergência climática.
Percebam que o nosso futuro vai se tecendo com decisões atuais. Percebam que prudência e conhecimento não fazem mal a ninguém.
* Ecólogo e Mestre em Geociências. Autor do livro “Na nervura da folha”, lançado em 2023 pelo selo Corixo Edições