Valdir Avelino *
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Parte de um pacote de obras da Prefeitura Municipal foi concluído recentemente com a inauguração do túnel José Bonifácio, uma obra no centro de Ribeirão Preto que abrange quatro quarteirões e liga avenidas centrais. Segundo o governo, o túnel é uma das obras “mais importantes para o programa de mobilidade” pois “48.000 veículos e 19.000 passageiros de ônibus circularão diariamente pelo local”.
Ainda não se pode dimensionar os potenciais impactos que essa importante, cara e demorada obra poderá exercer sobre a mobilidade urbana em nossa cidade. Mas uma das certezas é que o benefício proporcionado não estará igualmente disponível para todos. O que se observa é que o pacote de obras de mobilidade urbana levado a efeito pelo governo é socialmente desigual e espacialmente concentrado em determinadas partes da cidade.
O governo, nos últimos anos, se ocupou essencialmente em construir túneis, tacitamente incentivando o aumento do transporte individual motorizado, mas não procurou iniciar um debate amplo sobre os desafios mais importantes para dotar nosso município com um sistema de mobilidade mais qualificado. Na verdade, as condições de mobilidade da população vêm se degradando muito com o incentivo exclusivo ao transporte individual, principalmente em função do crescimento dos acidentes de trânsito com vítimas, dos congestionamentos urbanos e também dos poluentes veiculares.
Os carros respondem por 72,6% da emissão total de gases do efeito estufa, enquanto transportam apenas 30% da população, de acordo com o Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte Rodoviário de Passageiros emitidos pela Cetesb. E mesmo com essa motivação, o governo não procurou ouvir aqueles que defendem uma menor participação dos automóveis na rotina da cidade.
A proliferação de túneis, obras e buracos não se revela uma solução de médio e longo prazo saudável e segura para Ribeirão Preto. Em São Paulo, capital do Estado, não faltam pontes, viadutos e túneis para desafogar o trânsito, mas o fato concreto é que os gravíssimos problemas de mobilidade por lá nunca foram amenizados por canteiros de obras.
As condições de mobilidade da população continuarão se degradando muito em Ribeirão Preto enquanto o foco dos governantes for o transporte individual em áreas centrais. É fácil perceber que toda reforma confusa, cara e demorada do sistema viário de nossa cidade na área central foi desenhada para o carro. Celebrar o automóvel só fará aumentar o transporte individual em carros de passeio, o que não é uma alternativa sustentável, nem racional, para uma cidade do porte de Ribeirão Preto. Infelizmente, os últimos governos não têm feito nada para que as pessoas migrem para o transporte coletivo e para que ele passe a ser usado por todas as classes sociais.
Os servidores públicos municipais e o Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto estão prontos e preparados para debater aprofundadamente o papel que a mobilidade deve ocupar em nossa sociedade, para que tenhamos um transporte integrado, mais democrático e que atenda, de fato, ao conjunto da população. Túneis e buracos concentrados nas áreas centrais de uma cidade completamente desigual, dispersa e desconectada, contribuirão para que os deslocamentos de pessoas continuem a ser um desastre cotidiano – sobretudo para as populações já desassistidas. Para além da construção de túneis, precisamos de governos que também pensem na ampliação de alternativas para a redução do uso de automóveis. Um governo que ouça os seus próprios servidores, no sentido de pensar como a vida e os deslocamentos no município poderão ser mais sustentáveis, saudáveis, eficientes e seguros.
* Presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis