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Histórias de algumas canções de Paulo César Pinheiro

Um dos maiores letristas e compositores da música popular brasi­leira na atualidade é Paulo César Pinheiro. Começou a compor preco­cemente aos 13 anos, e aos 14 anos compôs uma canção maravilhosa chamada “Viagem” em parceria com João de Aquino.

O compositor conta que João Aquino gravou a melodia em uma fitinha, que ainda estava meio inexata e de andamento rápido demais. Levou para casa e a letra foi ralentando a canção, transformando-a em valsa e definindo as notas. Era meio-dia e pouco e a canção estava pronta. Cantou mais um pouco para decorar e saiu.

Só mais tarde percebeu a beleza do que fizera. Virou seu cartão de visitas, e é, talvez, a mais gravada das que ele fez e a que dá mais direito autoral.

Para lembrar da música, o início é o seguinte: “Ó, tristeza me desculpe estou de malas prontas, hoje a poesia veio ao meu encontro já raiou o dia vamos viajar. Vamos indo de carona na garupa leve do ven­to macio, que vem caminhando desde muito tempo, lá no fim do mar”.

A história da composição da música “Até eu” de Paulo César e Baden é bem inusitada e vale a pena ser contada. Baden fazia uma tem­porada em São Paulo com Márcia e Os Originais do Samba e convidou Paulo César a vir a uma das apresentações. Ao chegar ao teatro, Baden estava trancado, tocando, quando ouviu a voz de Paulo, gritou por ele e disse que estava com a ideia de um samba na cabeça.

Dali a pouco tempo, Baden tinha acabado a primeira parte da música e estava eufórico. Juntou o grupo, chamou Márcia e cantou até se ouvir o primeiro sinal nos bastidores. Aí, sacanamente, fez um desafio a Paulo. Se você fizer a letra durante a primeira parte do show, na segunda agente canta para o público.

Todos já haviam decorado a melodia. Baden sabia que o compositor não fugiria da raia, e, sorrindo, o largou sozinho em seu camarim. Paulo César pegou o papel de músi­ca, o único que tinha, a caneta preta de Baden, e se concentrou. No que pintou o tema o resto fluiu.

Quando eles voltaram no intervalo do show, e era curto o tempo, o samba estava pronto. Ali mesmo ensaiaram rapidamente e todos correram para o palco, enquanto o compositor ficou escrevendo a letra em várias folhas o pedaço feito, para distribuir para cada um. Paulo César entrou no palco, começou a cantar e na terceira passada a plateia já cantava junto e não deixava parar. Foi uma apoteose.

Outra história interessante de Paulo César Pinheiro é a da libe­ração da música “Pesadelo”, dele e de Maurício Tapajós pela censura durante o regime militar. Paulo dizia que era uma batalha para driblar os caras da censura, mas com paciência, inteligentemente se defendia e a caravana passava.

Segundo o compositor, um dia, cansado de tanto entrevero judicial, resolveu chutar o balde e virar a mesa. Propôs a Maurício Tapajós um canto de guerra. Uma canção em que não usassem metáforas, em que dissessem claramente o que pensavam, diretamente, sem subterfúgios, sem firulas, sem máscaras.

Maurício topou e eles botaram naquele po­ema o sentimento de revolta que afligia toda cabeça pensante de uma geração atormentada pela mudez, intimidada pelas armas, sufocadas pelo arbítrio. Depois de pronta pediram para o MPB-4 gravar, mas todos sabiam que ela não passaria pela censura.

Com esse desafio enorme, Paulo partiu para suas artimanhas. Conversou com amigos que cuidavam desse departamento na Odeon, e ficou sabendo que alguns compositores eram visados e outros não. Alguns discos demoravam para voltar e outros eram rapidíssimos. Descobriu que o repertório de alguns cantores eram examinados minuciosamente.

Dos bregas, dos românticos, do pop, nem se davam ao trabalho de ler. Carimbavam de imediato e despachavam. Foi nessa observa­ção que ele pegou a música “Pesadelo” e enfiou na pasta de letras do LP de Aguinaldo Timóteo, com a conivência do encarregado desse serviço, companheiro dele de sinuca. A pasta chegou com a liberação na outra manhã.

A música foi gravada pelo MPB-4 e nos shows do grupo era o pon­to alto. Virou a música mais poderosa de contestação que se apresentou durante a ditadura. Foi o hino da guerrilha do Araguaia.
Salve Paulo César Pinheiro, grande compositor brasileiro!

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