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O apagão e a sociedade eletrodependente

A lâmpada elétrica chegou ao Brasil em 1789, o mesmo ano em que foi inventada e lançada por Thomas Edison, nos Estados Unidos. Durante décadas foi o único consumidor de eletricidade nos lares brasileiros, a maioria das vezes instalada na ponta de um fio compri­do pendente do telhado, que permitia iluminar até todos os cômodos da casa, levando-a manualmente entre os compartimentos.

Só depois de muitos anos popularizou-se a colocação de uma (ou mais) lâmpadas em cada cômodo como se faz hoje. Depois vieram o rádio, o aquecedor de água, cafeteira, geladeira, fogão, ventilador, condicionador de ar, televisão, computador e tudo o que hoje conhe­cemos e utilizamos. A eletricidade, outrora dispensável para muitos, tornou-se artigo de primeira necessidade; viver sem ela é impossível.

A cada ano precisamos mais do abastecimento elétrico. Sua falta cria problemas e prejuízos de toda ordem para as cidades, os negócios e até para o cidadão e sua família. O apagão de terça-feira (15/08) parou, total ou parcialmente, 25 Estados brasileiros e o Distrito Fede­ral. Só o Amapá ficou fora, porque não faz parte do sistema elétrico integrado brasileiro, que serve todo o resto do País.

Desde que nos tornamos eletrodependentes, já tomamos grandes sustos com os apagões. Por muitos anos, apesar da política energética agressiva e da construção de centenas de usinas hidrelétricas que utilizam a água dos rios para a geração da eletricidade, as paralisa­ções do sistema levam ao caos. Praticamente todos os anos temos falhas no abastecimento. Um dos episódios mais lembrados ocorreu em março de 1999 quando, segundo o apurado pelos operadores, um raio caiu numa das linhas de transmissão da subestação da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) em Bauru/SP e provocou o desligamento da eletricidade em 60% do território nacional (dez esta­dos das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além do Distrito Federal, Acre e parte do Paraguai).

Ocorreram manifestações e quebra-quebra em São Paulo e outros grandes centros, fenômeno habitual quando o desabastecimento acontece no período noturno, hora em que a população saiu do trabalho e está retornando para casa. Nas épocas de Copa do Mundo e outros eventos esportivos de grande porte, o maior temor dos operadores do sistema elétrico é a possibilidade de apagão na hora do jogo, que poderá causar a irritação do torcedor e distúrbios. Por isso, eles adotam medidas de prevenção e até desligam o fornecimento de indústrias e outros consumidores de elevada demanda.

O SIN (Sistema Integrado Nacional), criado em 1998, reúne num só bloco os subsistemas Sudeste/Centro-Oeste, Sul, Nordeste e Norte. Sua função é abastecer e trocar energia entre as regiões de forma que os excedentes de uma área possam suprir a falta de outras onde esteja ocorrendo seca intensa ou outra razão de escassez. Isso melhora o abastecimento mas, do outro lado, fragiliza o processo porque, quan­do ocorre um problema, o desligamento pode ser nacional, como o da última terça-feira, cuja causa ainda é pesquisada pelos técnicos.

A eletricidade gerada pela água responde com 67% da produção nacional, em mais de mil usinas, entre as quais 219 de grande porte. Os movimentos da economia brasileira buscam maior consumo de eletricidade, notadamente se eclodir a implementação do carro elé­trico. Hoje o país possui o sistema de termoelétricas que reforçam o abastecimento nas épocas de pouca água e crescem os aproveitamen­to de energia de geração eólica e de placas fotovoltaicas que captam a eletricidade do vento e do sol. Precisamos de providências e investi­mentos para ampliar a disponibilidade elétrica e, principalmente, ter um sistema confiável.

Há que se encontrar soluções técnicas para que a existência do sistema nacionalmente interligado cumpra o papel de garantir a ele­tricidade das regiões onde ele é farto para a distribuição nos pontos críticos. E, ao mesmo tempo, encontrar soluções técnicas para que não ocorra o contrário que é o desligamento de todo o sistema provo­cado por inconformidades em qualquer ponto. A interligação tem de produzir efeitos positivos e evitar os negativos, como o ocorrido nesta terça-feira.

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