Milagreiro dos Campos Elíseos
Apareceu no bairro dos Campos Elíseos um cidadão que se dizia iluminado pelos céus para curar o povo pobre. Falava muito bem. Era envolvente e contava com a colaboração de sua esposa com diversos filhos para atrair a vizinhança. Começou com uma barraca em um pequeno quintal, coberta com lona plena de buracos, que logo foi substituída por uma construção mais concreta, com a ajuda daqueles que, inebriados com suas melífluas palavras, diziam ver curas inéditas por parte daquele “enviado”. As sessões eram concorridíssimas e os carros de vários bairros da Ribeirão Preto de outrora se acumulavam na estreita via. Os participantes juravam que viram “com os olhos que a terra há de comer” manifestações espirituais as mais incríveis e inimagináveis. Era cura de tumor na cabeça, regeneração de fígado doente, rins que voltavam a funcionar milagrosamente, etc.
Água, bênção e doações
Logo na entrada do “templo” havia um número grande de copinhos com “água santa” e uma faixa multicolorida com imagens dos “mentores” que deveria ser beijada pelos visitantes. Eram velhos, crianças, mulheres e homens e até jovens incrédulos. Todos se acotovelavam na sala que não era ampla, mas acolhedora. O “iluminado” começava fazendo uma oração ininteligível, que só ele entendia em um linguajar que dizia ser dos seus mestres. Em seguida, passava por um Pai Nosso e entrava em êxtase, arregalando os olhos e colocando suas mãos como o irradiar energia por sobre os doentes, para as curas sob os olhares de todos que já haviam multiplicado os feitos do novo “curador”. Em dado momento ele retirava gazes com pedaços de carne como se saíssem da boca da pessoa benzida. Mostrava ao público como se tivesse feito a cura. Neste momento a sacola solidária era passada com muitas doações.
HOSPITAIS PREOCUPADOS
Alguns hospitais que acompanhavam pacientes com quadro de doenças graves começaram a constatar que muitos que saíam das sessões eram iludidos e pensavam que haviam recebido a graça da cura e depois de um tempo morriam pelas consequências do não tratamento iniciado. Um jovem médico que fazia estágio em um dos nosocômios resolveu ir ao local para verificar a situação junto com um repórter. A tudo assistiram. Em seguida o recém-formado médico pegou as “doenças” extraídas dos doentes, não sem antes discutir com o “santo”, mas levou para o laboratório para análise. Nada mais eram que pedaços de carne bovina, de fígado, rim e até de cérebro de boi.
Deu pinote
No dia seguinte em famoso programa de rádio o resultado do laboratório foi levado ao ar, com explicações do jovem médico. Não houve tempo de a polícia agir. O dito curador “amanheceu e não anoiteceu”, colocou sua mudança em um caminhão e desapareceu, deixando só a mulher e as crianças maltrapilhas no local dos milagres. Ninguém teve mais notícias dele. Garantem que ele foi para a região de Jataí, onde montou um outro “QG DOS CÉUS” para o povo pobre daquela região.