Uma nova terapia fotodinâmica poderá ser mais uma alternativa do Sistema Único de Saúde (SUS) para o diagnóstico e o tratamento não invasivo de pacientes com carcinoma basocelular, o tipo de câncer de pele mais frequente no Brasil e no mundo. Neste tipo de tumor a primeira opção de tratamento é a cirurgia para a retirada das lesões.
A recomendação para o uso da terapia no serviço de saúde pública do paÍs foi feita, em junho, pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).
O novo dispositivo tem baixo custo, fácil produção e sua a técnica de aplicação foram desenvolvidos por pesquisadores vinculados ao Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
“A indicação para incorporação no SUS é uma grande conquista. Se concretizada, pelo nosso conhecimento, o Brasil será o primeiro país a oferecer a terapia fotodinâmica no sistema público de saúde. Esse resultado demonstra a importância do financiamento à pesquisa básica e aplicada que contribuem para o desenvolvimento e implementação de novas tecnologias para a saúde”, avalia Cristina Kurachi, uma das autoras da técnica.
De acordo com a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias a proposta de incorporação pelo SUS é resultado de um case de sucesso da inovação tecnológica no país. “As universidades brasileiras têm papel central na inovação, reconhecendo as necessidades do SUS, impulsionando a pesquisa, desenvolvimento e inovação, produzindo evidências clínicas, capacitando os serviços de saúde e participando do processo de incorporação e oferta de uma nova tecnologia no SUS”, afirma a diretora do Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde (DGITS), Luciene Bonan.
No dia 28 de junho, os membros da Comissão, observaram que há bom resultado da terapia fotodinâmica para pacientes com câncer de pele não melanoma do tipo carcinoma basocelular superficial e nodular e que ela se mostra como alternativa segura e eficaz para os casos em que a intervenção cirúrgica não é recomendada.
A comissão também observou que, nos casos de pacientes que não podem passar pela cirurgia ou que foram diagnosticados com tumores de baixo risco, há vantagens do procedimento em relação à cirurgia pelo fato de se tratar de um procedimento ambulatorial e não demandar grande infraestrutura.
Além disso, considerou-se na recomendação final favorável à incorporação no SUS que já existem profissionais capacitados e estrutura instalada com o equipamento em dezenas de serviços públicos de saúde. A incorporação da tecnologia foi recomendada pela Comissão conforme Protocolo de Uso do Ministério da Saúde. A decisão, agora, será da secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde do Ministério.
Testes validaram a técnica
Por meio de um projeto piloto foram feitos ensaios clínicos para a validação da técnica em 72 centros de saúde em todo o país. No Hospital Amaral Carvalho de Jaú, por exemplo, foram tratadas com o novo método mais de 2 mil lesões de pacientes atendidos pela instituição e treinados 40 grupos de médicos para usar a técnica. Além dos hospitais, ambulatórios e clínicas no Brasil, foram realizados estudos clínicos em outros nove países da América Latina.
Os resultados dos ensaios clínicos mostraram que o tratamento foi capaz de eliminar cerca de 85% dos tumores, sem efeitos colaterais, causando apenas leve vermelhidão no local e sem a formação de cicatriz. Um novo protocolo desenvolvido pelo grupo, com as duas aplicações em uma única sessão clínica, atinge a eliminação de 93% dos tumores.
Segundo os pesquisadores existe uma grande quantidade de pacientes que necessitam viajar longas distâncias para ter acesso a um centro hospitalar que tenha o tratamento cirúrgico ou que moram em municípios com extensas filas de espera para a cirurgia. Nesses casos, a possibilidade de tratamento pela terapia fotodinâmica, que é um procedimento ambulatorial, se torna uma relevante opção terapêutica, segura e efetiva.
O tratamento
O equipamento utilizado foi desenvolvido com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e fabricado pela empresa MM Optics, em São Carlos. É composto por um dispositivo capaz de promover uma melhor discriminação visual do câncer de pele, aumentando o contraste de visualização das margens da lesão.
Após a identificação da lesão, é aplicada no local uma pomada à base de um derivado do ácido 5-aminolevulínico. Passadas três horas de contato com a pele, o composto é absorvido e dá origem, no interior das células com o tumor, da protoporfirina – pigmento fotossensibilizante “primo” da clorofila.
Depois da remoção da pomada da lesão, a região é irradiada por 20 minutos com um dispositivo contendo uma fonte de luz Led vermelha. A luz ativa a protoporfirina e desencadeia uma série de reações nas células tumorais, gerando espécies reativas de oxigênio capazes de eliminar as lesões. Já os tecidos sadios são preservados.
Após o procedimento, são geradas imagens de fluorescência – também por meio do equipamento – para verificar a resposta do tratamento. O tratamento ocorre em duas sessões, repetindo o mesmo procedimento, com intervalo de uma semana entre elas.