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Histórias de Minas e Brasília

Comecei muito cedo minha labuta, com nove primaveras trabalhan­do na alfaiataria do meu tio, Geraldo Borges Campos, “Maestro Lalado”.

Minhas tarefas consistiam em varrer a oficina, limpar os móveis, manter tudo limpinho, brilhando e principalmente entregar as camisas, calças e ternos confeccionados pelo talento e mãos do Maestro.

Antes do meu primeiro compromisso, procurando com garbo e eficiência entregar um terno novinho, de casimira inglesa ao Dr. Epami­nondas Carvalho, empresário, rei do café e Coronel da cidade.

Antes de sair para a minha primeira tarefa meu tio contou-me uma passagem, que guardo até hoje nas lembranças da aurora da minha vida.

Um certo doutor, médico, após sua graduação escolheu a cidade como moradia, iniciando sua clínica e atendimentos, estabelecendo seu consultório em um local muito carente.

Destacou-me que ele nunca mais deixou seu torrão natal a não ser para um importante e imprescindível compromisso no Rio de Janeiro onde nunca esteve.

Ao chegar, deixou sua mala no hotel, arriscando um passeio pelas imediações, saltitante e festivo como criança na manhã do dia 25 de dezembro.

Em poucos minutos se viu perdido, no exato instante que passa por ele um garoto vendendo frutas em uma carriola pequena de madeira.

Assaltou-lhe então uma ideia para livrá-lo do desespero, o doutor mais que na hora o interrompeu:

Garoto! Quero comprar umas frutas e tens que entregar no hotel em meu nome.

Tirou do bolso do paletó um papel onde estava anotado o nome do hóspede, endereço e até o telefone do local.

O doutor então selecionou as frutas, pagando em seguida.

Assim que o jovenzinho deu os primeiros passos, o médico começou a segui-lo, aliviado e livre da vergonha de encontrar-se perdido em tão pouco tempo.

Qual não foi sua surpresa quando o vendedorzinho percorreu uns cinquenta metros, dobrou a esquina entrando no hotel.

O nosso Clínico Geral, ruborizado e humilhado, trancou-se no quarto, só saindo para o compromisso, com o táxi esperando na porta, escoltado até a rodoviária no seu retorno a Minas.

Lembrei-me deste fato, voltando dos braços da felicidade, convi­dado que fui para a posse do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu primeiro mandato como Chefe do Executivo Federal.

Ficaríamos uns três ou quatro dias após a posse na Capital Fede­ral, solicitei a um encarregado do hotel, um chofer que pudesse ficar a nossa disposição, sempre que necessário.

Foi indicado o senhor Domingos Ferreira, simpático e jovial português, vindo de Cascais para residir em Brasília.

Marquei uma visita ao Ministério da Cultura para uma conversa e café com amigos.

A recepção localizou o senhor Domingos que prontamente nos atendeu, notei que não havíamos percorrido uma longa distância, quando o gajo parou em um ponto de táxi, conversando confiden­cialmente com um senhor que após breve colóquio, dirigiu-se a nossa janela e falando comigo com um forte sotaque luso, cumpri­mentou-nos com educação e comunicou que o senhor Domingos iria seguir o táxi dele até o Ministério.

Naquele instante sorri para a Taís, que não estava entendendo bulhufas, transportei-me em um estalo de dedos, ao primeiro ofício e à história do meu tio.

Não voltei a ver o querido senhor Domingos Ferreira, acho que ainda está em Brasília, me parece que com o tempo e a cordialida­de conhece toda a cidade e os caminhos de JK, Niemeyer, Lúcio, Filgueiras, Sayão e tantos outros que souberam preparar a terra para edificar o árduo caminho da liberdade.

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