Recente trabalho de pesquisa constatou que árvores sadias, sem podas, de médio e grande portes, atenuam até 7ºC a temperatura do ar quando comparado com locais desprovidos de sombras generosas. O estudo foi realizado em três bairros distintos de Ribeirão Preto (SP): Campos Elíseos, Jardim Recreio e Condomínio Les Alpes. Embora seus nomes ensejem o frescor, o lazer e até o frio, as calçadas desses bairros somente são confortáveis aos pedestres quando há a presença de árvores em boas condições.
Um ano atrás – 19 de julho de 2022, o aluno de graduação em Ecologia da UNESP, Campus de Rio Claro (SP), Guilherme Barone Pires, instalou quinze data loggers – pequenos aparelhos que tomam medidas de parâmetros climáticos – em calçadas ribeirãopretanas. Nove desses aparelhos foram colocados em galhos mais baixos de árvores com diferentes tamanhos e seis, em situação exposta a sol pleno próximo às mesmas árvores. Medidas de temperatura e de luminosidade foram feitas das 7 às 18 h desse dia de céu limpo, pouco vento e temperaturas relativamente elevadas, embora no pleno inverno.
O maior gradiente térmico foi constatado no período da tarde, das 13 às 16 horas, em calçadas do Jardim Recreio. Enquanto a temperatura em dois pontos não sombreados, ultrapassaram 35ºC, em dois pontos sombreados – um por Sibipiruna e o outro por Pau-brasil, ambas não podadas, a temperatura oscilou entre 26 e 27 graus. Esse resultado encontra similaridade com estudo feito para Campinas em 2015 quando se constatou que o benefício do conforto térmico é significativo com espécies de médio e grande porte, como sibipirunas, tipuanas, mangueiras, mirindibas e bisnagueiras.
Quanto mais seco o ar, maior a amplitude térmica, pois as partículas de água em suspensão na atmosfera têm a capacidade de receber e armazenar o calor do Sol, funcionando como uma barreira à radiação solar. As folhas verdes funcionam como bombas lançadoras de umidade no ar. Para que isso ocorra de modo satisfatório é preciso também haver boa disponibilidade de água no solo.
Para os três bairros estudados, as temperaturas foram mais altas nos locais sem sombra, mas os gradientes foram menores quando as árvores são de pequeno porte ou quando podadas em demasia. O Inventário amostral de arborização feito em 2021 pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Ribeirão, revelou que das 26.669 árvores encontradas nas calçadas, mais de 20.000 possuem altura igual ou inferior a 6 metros.
Conforme os dados levantados, isso ocorre por dois motivos: o primeiro diz respeito ao largo uso de arbustos ou espécies arbóreas de pequeno porte; o segundo está relacionado às podas que controlam sistematicamente o desenvolvimento natural das copas. Depreende-se dessa informação o grau de descobertura vegetal ou carência de sombreamento em nossas calçadas. Este é um fator crucial para o desempenho da mobilidade ativa de pedestres na cidade.
O manejo inadequado de copas e de raízes compromete a função microclimática da arborização de calçadas e avenidas. O desconforto nos induz a usar o automóvel até mesmo para pequenas distâncias. Será que nossa opção de cidade é abrir mão do ar natural em espaços abertos ao céu e cada vez mais nos aprisionarmos em ambientes fechados onde o ar é condicionado? Quero acreditar que não.
Tive a oportunidade de coorientar o trabalho de pesquisa do Guilherme e pudemos constatar com alguns dados que nossas calçadas estão muito longe de serem espaços atrativos e confortáveis para quem caminha por Ribeirão Preto.
Te desafio a sair do seu carrão e andar dez quarteirões pela cidade uma vez na semana. De preferência circule por locais e horários diferentes entre uma semana e outra. E sinta, e observe…