Tribuna Ribeirão
Política

Tributos – PEC da reforma vai para o Senado

LULA MARQUES/AG.BR.

Após mais de dez horas de sessão, a Câmara dos Depu­tados aprovou, em primeiro turno, o texto-base da reforma tributária por 382 votos a 118, com três abstenções. A Propos­ta de Emenda à Constituição (PEC) reformula a tributação sobre o consumo. A aprovação em segundo turno ocorreu já na madrugada, aproximada­mente à 1h40 da manhã desta sexta-feira, 7 de julho.

Apesar do avançado da hora, o quórum estava firme: foram 375 votos a favor e 113 contrários à PEC. Na tarde de ontem, os deputados rejeita­ram três dos quatro destaques do Partido Liberal (PL) que su­primiam pontos do texto apro­vado na madrugada. O partido se posicionou contra a aprova­ção da reforma.

O texto agora segue para o Senado, onde vai precisar de 49 votos dos 81 possíveis para ser aprovado. A sessão começou às onze horas de quinta-feira (6), com debates em torno do texto. Por volta das 18 horas, come­çou a votação. Um requerimen­to do PL para adiar a votação foi derrotado por 357 votos a 133 e os debates seguiram enquanto os deputados votavam.

A PEC em primeiro turno foi aprovada quando o relógio se aproximava das dez da noi­te. O número de votos a favor, além da própria aprovação, provocaram efusivas comemo­rações entre a base governista. O presidente Arthur Lira (PP­-AL) também foi celebrado. Antes de proferido o resulta­do, Lira chegou a se licenciar da presidência da sessão para discursar no púlpito, onde fez uma defesa firme da reforma.

Para ampliar a base de apoio, o relator da proposta na Câmara, Aguinaldo Ribei­ro (PP-PB), fez mudanças de última hora. O texto traz al­gumas mudanças em relação à proposta apresentada há duas semanas, como maiores redu­ções de alíquotas, isenção para alguns produtos da cesta bá­sica e mudanças no Conselho Federativo, órgão que decidirá as políticas fiscal e tributária.

Alterações
Após quase duas horas de discussões e de ameaças de adiamento da votação da refor­ma tributária, Aguinaldo Ribei­ro apresentou a última versão do parecer. Em relação à cesta básica, o novo parecer zera a alíquota do futuro Imposto sobre Valor Adicionado (IVA) para itens a serem incluídos em lei complementar, além de fru­tas, produtos hortícolas e ovos.

Essa lei criará a “cesta básica nacional de alimentos”. A mu­dança diminui resistências de alguns estados em abrir mão de arrecadação porque não esti­mularia uma nova guerra fiscal em torno de produtos alimen­tícios, já que a lista valerá para todo o território nacional.

O relator também aumen­tou, de 50% para 60%, o re­dutor de alíquotas do IVA que incidirão sobre alguns produtos e setores com tratamento dife­renciado. Transporte público, saúde, educação, cultura e pro­dutos agropecuários fora da cesta básica nacional pagarão 60% a menos de IVA, imposto que unirá a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), arreca­dada pela União, e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de estados e municípios.

Além dos produtos da cesta básica nacional, a CBS não será cobrada sobre medicamentos para doenças graves e sobre serviços de educação superior (Prouni). Os demais produ­tos pagarão a alíquota cheia de IVA, que será definida após a reforma tributária.

Regimes especiais
O relator manteve regimes específicos de arrecadação para combustíveis, operações com bens imóveis, planos de assis­tência à saúde, serviços finan­ceiros e apostas. No entanto, incluiu os seguintes setores: ser­viços de hotelaria, parques de diversão e parques temáticos, restaurantes e aviação regional.

Esses regimes preveem tratamento diferenciado nas regras de creditamento (apro­veitamento de créditos tribu­tários) e na base de cálculo; e tributação com base na receita ou no faturamento (em vez do valor adicionado na cadeia). Como adiantado na quarta­-feira (5) pelo ministro da Fa­zenda, Fernando Haddad, o Conselho Federativo, encarre­gado de gerir o IBS, terá o mo­delo de votação alterado.

O conselho será formado por 27 representantes, um de cada unidade da Federação, mais 27 representantes dos mu­nicípios. Dos representantes municipais, 14 serão eleitos por maioria de votos igualitários entre os entes e 13 com base no tamanho da população.

As decisões do conselho só serão aprovadas caso obte­nham, ao mesmo tempo, votos da maioria numérica dos esta­dos e dos representantes que correspondam a mais de 60% da população do país. Os votos dos municípios serão apurados com base na maioria absoluta. O Distrito Federal terá duas cadeiras no conselho: uma de unidade da Federação e outra do município.

Imposto seletivo
A versão final do relatório modificou o Imposto Seletivo, que será cobrado sobre bens e serviços prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, como cigarros, bebidas alcoólicas e bebidas e alimentos com ex­cesso de açúcar. Esse imposto não poderá ser cobrado sobre itens que paguem IVA reduzido.

A medida evita que o Im­posto Seletivo incida sobre itens da agropecuária que se­riam prejudiciais ao meio am­biente, como agrotóxicos e de­fensivos agrícolas. A mudança havia sido pedida pela Frente Parlamentar do Agronegócio como condição para aprovar a reforma tributária.

O PSOL apresentou destaque para derrubar a mudança, mas o governo argumentou que discu­tirá, em uma lei complementar, o detalhamento dos insumos agrícolas. Isso permitiria, em tese, a cobrança do Imposto Seletivo sobre agrotóxicos e defensivos.

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