Por Daniel Silveira
O Brasil é referência mundial quando o assunto é telenovela – desde os anos 1970, quando A Escrava Isaura rompeu as fronteiras, o País se consolidou como grande exportador de títulos graças à qualidade e à popularidade das suas produções, vistas até nos lugares mais remotos do planeta. A Globo, por exemplo, tem folhetins exibidos em mais de 150 países. E o sucesso é medido também pelas produções que ganharam o Emmy Internacional: o Brasil é o país com o maior número de vitórias na categoria Melhor Novela: oito.
Curiosamente, o brasileiro gosta tanto de novela que até mesmo as estrangeiras fazem sucesso por aqui – desde os anos 1980, as telenovelas latinas conquistaram o interesse dos telespectadores nacionais. Naquela década, o SBT (quando ainda se chamava TVS) começou a exibir as primeiras produções importadas do México. Nessa década e nas seguintes, também tiveram espaço criações venezuelanas, colombianas, chilenas, argentinas, americanas e algumas de Portugal. Mais recentemente, produções turcas, coreanas e indianas têm obtido sucesso, especialmente no streaming.
Tramas
Mas o que explica o êxito das produções estrangeiras em um país especialista no gênero? O segredo, segundo consumidores, estaria na dramaturgia, a forma como as tramas são contadas. “A forma como é narrada a história, na qual nem tudo é 100% explicado, dá abertura para o espectador imaginar, pensar sobre o texto”, diz Manu Gerino, 38, criadora de conteúdo e fã das narrativas coreanas. Ela é tão apaixonada que tem um canal no YouTube dedicado às produções asiáticas.
“São muitos os detalhes que chamam a atenção nessas produções. As histórias são mais curtas, por exemplo, e não se perdem facilmente ou não demoram para ‘embalar'”, ressalta a criadora de conteúdo. “Alguns dramas chegam a ter 100 episódios, mas é incomum.”
Manu não é a única. A empresária Ingrid Santos, 29, e a recepcionista Críz Ribeiro, 42, concordam. As duas são fãs de novelas turcas e dizem que, entre tantas diferenças, a forma como as tramas se desenvolvem é uma coisa que chama a atenção. “As novelas daqui estão cansativas, é sempre a mesma coisa, uma enrolação para chegar a um fim determinado”, comenta Críz. “Acho que as turcas são mais diretas, por isso gosto mais”, continua.
Outro aspecto defendido por Críz é que as novelas turcas são menos explícitas. “O palavreado não é tão escrachado”, opina. Na mesma linha de pensamento, Ingrid conta que tem preferido assistir às produções da Turquia por serem novelas com menos cenas de sexo. “O que me incomoda é que as brasileiras são um tanto vulgares”, comenta. “Acredito que o contexto sexual das novelas nacionais está demasiado, enquanto as turcas não trazem tantas cenas de sexo, o que eu prefiro.”
Além disso, para Ingrid, assistir às novelas estrangeiras é uma forma de “viajar” a outros lugares, conhecer novas culturas. “Fico pensando em como é morar lá e como seria se eu tivesse a chance de visitar”, observa. “Também me divirto com os nomes diferentes.”
Turcos
Os folhetins turcos não são exatamente uma novidade para os telespectadores. As produções já tiveram lugar na programação da Band, no Globoplay e, mais recentemente, também podem ser conferidas na programação do TNT Novelas, novo canal do TNT, disponível no cardápio de TV por assinatura desde a segunda-feira, 26 de junho.
“As novelas conquistam audiência há décadas por apostar na emoção dos episódios diários, e as estrangeiras têm grande aceitação entre o público latino-americano, especialmente as turcas, por sua qualidade técnica e temas universais emocionalmente ressoantes”, explica Mônica Pimentel, VP de conteúdo da Warner Bros. Discovery, empresa de mídia responsável pelos canais TNT.
A programação da TNT Novelas traz conteúdos de sucesso seguidos por milhões de telespectadores em todo o mundo. O destaque são produções turcas como Será Isso Amor?, Um Milagre, Iludida, Meu Lar, Meu Destino e Amor Sem Fim.
Streaming
Apesar de antigo, o sucesso das produções estrangeiras foi impulsionado pela ascensão das plataformas de streaming, segundo observa Thaiane Machado, doutoranda que pesquisa consumo de telenovelas no Grupo A-Tevê, da Universidade Federal da Bahia. Se antes era preciso esperar que os canais comprassem uma novela e exibissem nas suas faixas de horários – que muitas vezes coincidiam entre as emissoras -, agora elas estão acessíveis em computadores, celulares, tablets e até mesmo nas televisões.
“Assistimos a narrativas estrangeiras há muito tempo: foi com os seriados ‘enlatados’ que tivemos a aproximação com esse tipo de produto; mas acredito que houve um momento de virada que foi impulsionado pela pandemia”, acrescenta a pesquisadora. “Ficamos mais tempo em casa e, com isso, buscamos mais produtos audiovisuais.” Segundo ela, essa nova fase de consumo de novelas estrangeiras também ganhou um importante impulso quando o Globoplay inseriu em seu catálogo folhetins estrangeiros.
Outras plataformas de streaming também ajudam a divulgar as narrativas de outros países. Produções turcas podem ser vistas no HBO Max, além do Globoplay, que também traz novelas portuguesas em seu catálogo. Os dramas coreanos são destaque na Netflix, no Viki e no Kocowa. Estes dois últimos são os lugares onde Manu mais acessa seus doramas favoritos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.