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Serviço público: água, energia, transporte

A primeira grande e forte encampação (desapropriação) dos serviços públicos prestados por empresas multinacionais, que eram chamadas de trust, uma de ener­gia (Bond Share), aconteceu quatro meses do início do governo de Leonel Brizola no Rio Grande do Sul (1959/1963); e a outra de comunicação, a Cia Telefônica Rio­grandense (IT&T – International Telephone & Telegraph), dois anos depois desse começo. Na verdade, eram dois paquidermes, cuja ineficiência era incompatível com o compromisso governamental de desenvolvimento do Estado. Bairros da capital e cidades às escuras com frequência, e a telefonia era aquele atraso.

Leonel Brizola, o multiplicador de escolas como Prefeito e como Governa­dor, de cuja coragem cívica o Brasil está necessitando hoje, antes notificou a em­presa de energia, que exigiu a renovação da concessão por 35 anos e aumento de tarifas. Como o processo teve, por início, levantamento de auditoria, definindo o quanto usurpava o povo, através da má qualidade dos serviços prestados e base­ado nos contratos de concessão, procedeu-se à revogação da primeira concessão, no dia 11 de maio de 1959.

Que escândalo nacional e internacional! Ele dizia “colaram uma barba em mim” já que a Revolução Cubana acontecera cinco meses antes, sem a definição ideológica declarada posteriormente.

O governo norte-americano interveio, como sempre intervém protegendo seus investimentos e suas empresas privadas, ao contrário do Brasil que adota a política da desnacionalização, como país satélite, justificando-a com o impera­tivo neoliberal, segundo o qual o Estado deve ser mínimo, o que nunca existiu e nunca existirá. Veja-se que após a crise de 2008 a política neoliberal entrou em parafuso no mundo todo, mas aqui no Brasil ela se mantém com a mediocridade que ocupou o vazio de um sentimento de Nação, que deveria empolgar civis e militares, empresas e empregados e a cidadania em geral.

Essa reflexão geral vem a propósito dos exageros cometidos pela empresa de transporte coletivo de Ribeirão Preto, que sempre está defasada, em relação ao conforto e a regularidade de seus ônibus, que acumulariam multa e multas e multas, sem que houvesse uma efetiva adequação entre ela e a qualidade do serviço prestado, que constitui, por lei, serviço essencial.

Essa dissonância é acrescida pela atuação da Câmara Municipal, cuja insurgên­cia se restringe, corajosamente, a prometer a sua ida apressada ao Ministério Público, para contar tudo, Tim-Tim por Tim-Tim, sem que haja determinação própria e coletiva e majoritária para refletir o Poder que constitui a Câmara Municipal.

E o Poder Municipal, desprezando a Constituição que lhe deu a força desse “PODER”, não trata o assunto nem com a coragem nem com uma decisão corajo­sa. E o ato de se omitir nos discursos a possibilidade de um decreto de intervenção municipal no transporte coletivo, que é possível e legal, constitui o medo de que tal medida poderia gerar, nas mentes malformadas ideologicamente, como um aviso prévio do consumo certo das carnes das criancinhas. Esse medo é diretamente proporcional à ausência de um sentimento de nação, que colocaria o interesse pú­blico como início da atuação de um executivo que dele cuidasse como prioridade.

E, sem se referirem à possibilidade legal da intervenção do Poder Público na empresa, prefeitos, secretários de transportes e pesquisadores, discutiram (2019) com representantes da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) e Fórum Nacional de Secretários e dirigentes de Mobilidade Urbana, políticas públicas relativas ao transporte público, para um plano de emergência, e concluíram que a excelência delas estaria definida no respeito a três pilares principais, ou seja, qualidade, preço acessível e transparên­cia respeitando-se o cinco pontos, a saber: 1) Equilíbrio econômico e financeiro; 2) Melhoria da qualidade do serviço prestado aos usuários; 3) Qualificação da infraestrutura para o transporte por ônibus; 4) Transparência e 5)Transporte público como instrumento de desenvolvimento social.

Entre uma época e outra, está naquela um sentimento de nação que invadia governos e instituições, movidos pela proposta nacional-desenvolvimentista, que tinha o Estado como indutor das políticas do desenvolvimento social. Hoje, a ca­rência desse sentimento gera a gritaria por um Estado mínimo, que é Estado ne­nhum e que nunca existiu. Aliás, serve para tentar a destruição da solidariedade social e suas instituições, mesmo com a advertência das desgraças vivenciadas, a da crise financeira de 2008, acudida pelo Estado, e a pandemia pelo covid-19, quando o Estado esteve presente em todo instante. O divino mercado, quando a desgraça existe, sendo pequena, grande ou grandíssimo, ele se recolhe, já que ela não dá lucro, só prejuízo. Mesmo assim a ideologia individualista não se dá por vencida. As mamas do Estado estão servindo de comida à ambição desenfreada, e querem mais isenção como ataque eficaz.

Finalmente, recorda-se o debate das questões nacionais e a defesa de nossas riquezas, através da Frente Parlamentar Nacionalista, formada por representantes de vários partidos políticos, e a atuação de empresários, empregados, civis e militares.

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