Os ipês roxos (Handroanthus impetiginosus) não falham com os ribeirão-pretanos em seu aniversário junino. Novamente a paisagem está revestida de flores que nos calam, tamanha a beleza! Receba, Ribeirão Preto, gratuitamente, seu mais nobre presente.
O incômodo sentido por parte da população pela carência de vegetação na cidade, revela uma percepção ambiental correta. É verdade que muitos bairros, inclusive o Quadrilátero Central, possuem índices de cobertura vegetal inferiores a 5%. Tais valores quando associados aos dias com tipo de tempo (atmosférico) quente e seco, proporcionam sensação de deserto. Além disso, demonstram que a prioridade no espaço urbano, nestes locais, não é de modo algum, o verde, seus tons e as cores que ele traz.
Mas, essa não é a realidade da cidade em todos os bairros. Conforme estudo realizado nos anos de 2021 e 2022 pela Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto (PMRP), temos 12,7% da área urbana coberta por vegetação de portes arbóreo e arbustivo. Isso não é desprezível, de modo algum; mas é pouco para nossa cidade. Recomenda-se que cidades de porte médio e grande tenham, no mínimo, 30% de cobertura vegetal. Somente assim ocorrerá um efeito benéfico no balanço térmico do ecossistema urbano. Isso na escala local, ou seja, na cidade como um todo.
O estudo informou também que temos alguns setores urbanos com índices superiores a 20%; e que três deles possuem mais de 30% de cobertura vegetal. Esta situação sim, se fosse realidade para toda a cidade, nos daria, provavelmente, a percepção de cidade bem arborizada.
O referido trabalho, intitulado “Inventário amostral da arborização de acompanhamento viário, obtenção de índices de cobertura vegetal na área urbana e implantação de banco de dados relacionado ao verde urbano de Ribeirão Preto (SP)”, pensado e desenvolvido pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente com recursos do Fundo Pró-Meio Ambiente a partir de aprovação do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (COMDEMA), revelou ainda um diagnóstico e um prognóstico para a arborização de calçadas.
Considerando os 290 quilômetros (km) lineares de calçadas inventariadas (10% do sistema viário), temos 92 árvores/km linear. Já os “vazios arbóreos”, ou seja, os espaços onde cabem novas árvores, perfazem 99/km linear. O déficit encontrado soma-se a outros dois desafios.
O primeiro se refere às podas excessivas ou mal executadas nas árvores existentes. A remoção sistemática de partes das copas afeta substancialmente o serviço ecossistêmico (sombreamento, evapotranspiração, abrigo da avifauna etc.) no ambiente urbano. O segundo se refere ao espaço exíguo das calçadas para abrigar espécies de médio e grande portes. Estas sim, contribuem significativamente com a melhoria do microclima.
Em síntese, para alcançarmos um padrão de arborização viária que dê conforto ao pedestre e que contribua para a resiliência ecossistêmica perante os extremos climáticos, é necessário investir nas seguintes diretrizes: a) ampliar a largura das calçadas em direção às ruas, onde isto for possível e viável; b) substituir a fiação aérea convencional por fiação emborrachada ou subterrânea; c) evitar e punir podas drásticas, excessivas e desnecessárias; d) reerguer guias rebaixadas e não permitir novos rebaixamentos, a não ser para vagas exclusivas de cadeirantes; e) estimular a diversificação de espécies junto aos produtores de mudas.
Como fazer tudo isso? Decisão governamental e investimento, já que conhecimento técnico a PMRP possui. Uma política pública institucionalizada, focada, para o verde urbano.
Mas (dizem que sempre tem um “mas”), assim como as flores do ipê, estas linhas serão esquecidas tão logo passe a efeméride de aniversário da cidade.