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Câmara adia título de Bolsonaro

FOTO: MAX GALLÃO MESQUITA

A Câmara de Ribeirão Preto adiou por duas sessões a vota­ção do decreto legislativo que pretende conceder título de cidadão ribeirão-pretano para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A votação da honraria, com base em projeto do presi­dente do Diretório Municipal do Partido Liberal, Isaac Antu­nes, estava na pauta da sessão desta terça-feira, 13 de junho.

Com o adiamento, o projeto só voltará à pauta por decisão do atual presidente da Câmara, Franco Ferro (PRTB) – é uma competência exclusiva da presi­dência da Mesa Diretora do Le­gislativo. O Tribuna apurou que caso fosse levado à votação, o projeto transformaria o plená­rio do Palácio Antônio Macha­do Sant’Anna em arquibancada.

Torcidas organizadas e rai­vosas, pró e contra a proposta, se mobilizaram para o ato. Vá­rios grupos planejavam ocupar as 320 cadeiras do plenário Jor­nalista Orlando Vitaliano para pressionar os 22 vereadores so­bre como deveriam votar.

Para a aprovação de títulos de cidadania são necessários dois terços de votos favoráveis. No caso de Ribeirão Preto, que tem 22 cadeiras, são 15. Especula-se ainda que a proposta não teria o total de votos necessários para a aprovação. A justificativa de Isaac Antunes para conceder o título a Bolsonaro é polêmica, afinal, des­tinar verbas para os municípios é uma prática – e um dever – co­mum entre todos os presidentes.

Diz que, como presiden­te da República, entre 2019 e 2022, Bolsonaro enfrentou di­versos desafios, em especial, to­das as dificuldades provocadas pela pandemia de coronavírus. É notório e de conhecimento mundial que o ex-presiden­te desdenhou da ciência e das vacinas, chamou a covid-19 de “gripezinha” e ironizou as mais de 600 mil mortes que ocorre­ram em seu governo.

Demorou para encomendar imunizantes e foi contra o uso de máscara facial. Jamais evitou aglomerações. Ainda trocou de ministros da Saúde como quem troca de roupa e bateu de frente com dois deles exatamente por causa das medidas de enfrenta­mento da covid-19: Luiz Henri­que Mandetta e Nelson Teich.

Também comprou briga com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que defendiam o lockdown. Bolsonaro pode até merecer o título de cidada­nia por outras ações realizadas durante sua passagem pelo Palácio do Planalto, mas sua postura em relação ao enfrenta­mento da covid-19 é polêmica.

Para convencer seus pares, Antunes cita que “no exercício de sua função pública como presidente, prestou grande apoio a Ribeirão Preto; nota­damente, no âmbito da Saúde, enviando recursos que foram imprescindíveis para que a ci­dade pudesse enfrentar os di­fíceis impactos trazidos pela Pandemia, proporcionando um melhor atendimento à população de nossa cidade.”

Argumenta também que esse apoio se estendeu às enti­dades filantrópicas e aos pres­tadores de serviços da saúde da cidade, como Hospital Santa Lydia e a Santa Casa de Mise­ricórdia, que receberam para enfrentamento da pandemia, cerca de R$ 27,1 milhões, se­gundo dados de fevereiro de 2021 listados no projeto.

Por fim a justificativa con­clui que durante seu mandato, Bolsonaro esteve no município participando de importantes eventos, ouvindo as demandas e necessidades, demonstrando a atenção e consideração com a cidade e a região.

Contrária à proposta a ve­readora Perla Müller (PT), di­vulgou, na segunda-feira (12), um comunicado público defen­dendo que a Câmara rejeitasse o projeto de decreto legislativo. No documento, pedia a seus pares que votassem contrariamente à concessão da honraria por en­tender que o ex-presidente nada trouxe de benefício para a cidade e nem ao Brasil. Cita as milhares de mortes enquanto negava a gravidade da doença, a necessi­dade do isolamento social e do uso de máscaras e a eficácia da vacina contra a covid-19.

Na avaliação de Perla Mül­ler, a proposta é uma afronta ao povo brasileiro. “O governo Bolsonaro não fez nada para merecer nenhum título, prin­cipalmente, aqui em Ribeirão Preto. A gente só viu escânda­los, omissão com programas sociais, descaso com o meio ambiente, saúde, educação, ha­bitação, pesquisas científicas, por exemplo”, declarou.

“Acho que o momento era de a Câmara se colocar para ajudar a população, com projetos que fortaleçam Ribeirão Preto e a classe trabalhadora e não estar se preocupando em agraciar quem nem de longe fez por merecer tal honraria”, completa a vereadora do PT. A também petista Duda Hidalgo usou as redes sociais para convocar a militância a comparecer na sessão.

Jair Bolsonaro foi alijado do poder em outubro do ano passa­do. No segundo turno das elei­ções gerais, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu a eleição para a Presidência da República com 60.345.999 votos (50,90% dos votos válidos). Já o ex-presidente teve 58.206.354 votos (49,10%).

Ribeirão Preto
Em Ribeirão Preto deu Jair Bolsonaro com 206.363 votos, 59,62% dos válidos. Luiz Inácio Lula da Silva obteve 139.784 votos, ou 40,38% da prefe­rência do eleitorado. Brancos somaram 5.824 (1,58%) e nu­los outros 15.030 (4,1%). No primeiro turno, o atual presi­dente recebeu 180.226 votos (ou 52,56%) na cidade, segui­do pelo ex-mandatário com 125.555 (ou 36,62%).

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