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O perigo do frio para o coração

Adriana Dorazi – especial para o Tribuna Ribeirão

“Quem bate? É o frio!”. Essa frase de uma antiga pro­paganda ficou na memória popular e logo vem à mente quando chegam os dias mais gelados. Este ano, ainda no outono, já é preciso enfren­tar temperaturas bem baixas, algo que o ribeirão-pretano não está acostumado.

O que muita gente não sabe é que, além dos incômo­dos e doenças respiratórias comuns do período, o frio também pode provocar alte­rações importantes no fun­cionamento do sistema car­diovascular. É o alerta do Dr. Vitor Engrácia Valente, Pós­-Doutorado em Fisiopatolo­gia, professor da Universida­de Estadual Paulista (Unesp).

Temperaturas bem baixas, algo que o ribeirão-pretano não está acostumado

O médico alerta que bai­xas temperaturas aumentam as microlesões no coração por estresse. “Tem um estudo de­senvolvido aqui na universida­de no qual acompanhamos ra­tos expostos à temperatura de zero grau por trinta minutos. Vimos que uma das estruturas que dão energia às células, as mitocôndrias, já são lesiona­das nessas condições. Isso faz crescer o risco de problemas cardíacos especialmente em pessoas que têm problemas de hipertensão, níveis elevados de colesterol e diabetes”, explica.

Segundo o médico Vitor Engrácia Valente, frio pode provocar alterações importantes no funcionamento do sistema cardiovascular

Os sintomas podem incluir dor no peito quando o pacien­te está exposto ao frio. “É uma dor do lado esquerdo que pode irradiar para o pescoço, om­bro, braço e até dar náusea. São indícios que pode haver um infarto”, detalha Vitor.

A prevenção está baseada em se proteger do frio intenso, evitando sair de casa sem ne­cessidade quando as tempera­turas estão muito baixas. Sen­do inevitável ter que ficar em lugares abertos, o fundamental é proteger todo o corpo e con­trolar a presença prolongada direta no vento gelado.

As crianças também cor­rem risco, em destaque aque­las com problemas cardíacos congênitos que ficam mais vulneráveis. “A tensão mus­cular causada pelo frio e uma menor movimentação do corpo eleva o estresse porque como proteção o músculo vai tentar evitar perder energia, ficando rígido, inclusive a musculatura do coração”, re­lata o professor.

Quando a pessoa já tem idade mais avançada a massa muscular é menor e a saúde mais comprometida, aumen­tam o perigo desses proble­mas cardíacos relacionados ao frio. “Todos devemos evitar o choque térmico, ou seja, a in­versão brusca de temperatura, como sair de um banho quente para o vento gelado. Isso tam­bém causa estresse em nível de neurônios, atingindo todos os nervos. A pessoa então pode sentir tontura, paralisia, perder temporariamente a sensibili­dade e sentir formigamento que interfere na percepção da dor”, completa.

Moradores em situação de rua são mais suscetíveis

Trabalhadores no frio e pessoas em situação de rua
Quem trabalha ao ar livre ou mora nas ruas está mais expos­to e em maior risco. Pode acon­tecer, nesses casos, aumento significativo de casos de inter­nações por doenças cardíacas, como arritmia. Além de casos de morte súbita, decorrente de infarto do miocárdio.

De acordo com a America- Heart Associatio- (AHA), os quadros de arritmias cardíacas, morte súbita, infarto agudo do miocárdio e Acidente Vascular Cerebral (AVC), crescem em até 25% durante esta época. Em países mais frios, por exemplo, pesquisas realiza­das em Londres indicam que, a cada grau a menos em um único dia, há aumento de 200 casos de infarto.

Quadros de arritmias cardíacas, morte súbita, infarto agudo do miocárdio e Acidente Vascular Cerebral (AVC), crescem em até 25% durante época de frio

No Brasil, estudo feito pela Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, entre os meses de junho e agosto, mostrou que as internações nos hospitais públicos da cidade de São Paulo por insuficiência cardíaca e infarto chegam a ser 30% maiores do que na estação do verão.

A vasoconstrição, processo que reduz o diâmetro das artérias, causando aumento da pressão arterial, também sofre efeito das temperaturas mais baixas. Então há toda uma movimen­tação do corpo para que haja compensação da perda de calor. Esse ajuste dificulta a circulação regular do sangue, acarretando disfunções significativas do sistema cardiorrespiratório.

No frio os receptores nervosos da pele também são ativados e enviam mensagem ao siste­ma nervoso, que desencadeia maior liberação de adrenalina. O hormônio, por sua vez, é respon­sável, entre outras funções, pela contração dos vasos sanguíne­os, aumentando as chances de infarto ou um AVC.

Gripes e resfriados afetam o coração


Quando se trata da saúde do coração, gripes e resfriados podem ser fatores que aumentam os riscos de infarto. As doenças virais podem causar inflamações no coração, capazes de romper as placas de gordura nas artérias. Afetadas pelo espaço comprometido pelas placas de gordura, as artérias terão menor espaço para a circulação do sangue.

Além de se aquecer, é indispensável realizar o acompanhamento clínico com o cardiologista e fazer com regularidade os exames cardiovasculares capazes de detectar alterações ainda que silenciosas no coração. Confira algumas dicas práticas que podem colaborar para manter o sistema cardiovascular saudável e equilibrado:

– Use roupas adequadas para a estação e mantenha-se aquecido, mesmo dentro de casa

– Evite esforços repentinos ou exercícios intensos ao ar livre

– Evitar tirar os agasalhos mesmo se sentir calor durante os exercícios e procurar respirar sempre pelo nariz, pois ele tenta aquecer o ar gelado que chega ao corpo

– Mantenha uma alimentação leve, hidratação em alta e boa imunidade

– Controle a pressão arterial com frequência

– Realize check-up preventivo

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