Em um passado recente, grande parte dos bairros periféricos não contava com escolas e diversas escolas não possuíam bibliotecas. Com raras exceções, as bibliotecas escolares não eram dotadas da quantidade ou a qualidade de títulos necessários para atender à demanda, de tal sorte que restava aos alunos procurar as duas da região Central: a Padre Euclides e a então chamada Altino Arantes. Os que tinham recursos utilizavam a “jardineira”, antigo apelido dos ônibus do transporte coletivo, mas muitos iam caminhando mesmo.
Levar um livro para casa era interessante e cumprir o prazo estipulado no cartãozinho dentro do envelope colado à obra era motivo de orgulho. Ao chegar nas bibliotecas as pessoas se encantavam com a arquitetura, o acervo e com os cuidados para efetuar as pesquisas. Era necessário torcer para o livro procurado estar disponível e muitas vezes os trabalhos eram feitos ali mesmo, a partir de anotações manuscritas em cadernos ou folhas de papel almaço pautado.
As bibliotecas continuam cumprindo seu papel principal na educação e cultura e, além de disponibilizar inúmeros livros físicos, atualmente permitem acesso a livros digitais, internet e meios de impressão. Também se tornaram local de encontros literários e artísticos em geral, com apresentações, debates, rodas de conversa e tudo que o circuito do saber pode contemplar.
Para nossa alegria, a Biblioteca Padre Euclides – mais antiga da cidade – está completando 120 anos ininterruptos de serviços e fica localizada no primeiro andar do edifício homônimo, na confluência das ruas Visconde de Inhaúma e São Sebastião. Quem frequenta as salas comerciais, escritórios e consultórios ou quem passa apressado pela calçada não tem noção de que ali está um espaço com o invejável acervo de 18 mil títulos que vão de relíquias do século XIX até lançamentos.
Tudo começou com o padre Euclides Gomes Carneiro (1879- 1945), a partir de seu acervo particular. Podemos afirmar que a BPE – Biblioteca Padre Euclides possui a história entrelaçada com a cidade de Ribeirão Preto, apesar de muitos ignorarem que se trata de uma entidade privada, que possui utilidade pública municipal, estadual e federal e merece uma maior atenção das lideranças econômicas e principalmente políticas.
Necessário consignar que ao longo do tempo várias figuras se devotaram à manutenção do espaço. Atualmente podemos destacar Fatu Antunes e Alfredo Rossetti que ao lado de uma reduzida, mas competente equipe, são os “guardiões” daquele templo sagrado do saber. Segundo os próprios, a BPE é um polo convergente da cultura e da formação cidadã que, adequado às mudanças temporais, tornou-se centro de profusão cultural.
Já passou da hora do grande público compreender que uma biblioteca vai muito além do empréstimo de livros e se reencontrar com a querida BPE. Nas celebrações do centésimo vigésimo aniversário da Biblioteca Padre Euclides, estão sendo realizadas apresentações musicais, palestras, saraus, oficinas de produção de fanzines e exposições. Também estão comemorando o primeiro aniversário da Gibiteca Padre Euclides & Zineteca Glauco Villas Boas.
Conhecedores da fundamental importância do livro e da leitura para o crescimento intelectual dos indivíduos e o desenvolvimento de toda sociedade, devemos preservar, incentivar e valorizar espaços como a BPE. Para quem é da cidade ou da região metropolitana, vale a pena acompanhar as novidades pelas redes sociais da biblioteca e programar uma visita ao local. Certamente serão grandes descobertas com momentos inspiradores e inesquecíveis.