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A ‘nova’ guerra – parte 1

“Conheça o seu inimigo como a si mesmo e não precisa temer o resultado de cem batalhas.” (Sun-Tzu)

Desde os primeiros passos dados sobre este nosso planetinha azul, o ser humano desenvolveu a Política como ferramenta de sobrevivência, convivência, objetividade coletiva e regramento dentro de um sistema gregário, composto por inúmeros indivíduos com personalidades e interesses muitas vezes distintos entre si. Outros mamíferos vivem gregariamente, como lobos e chimpanzés, mas sempre em número muito menor, onde cabe a um macho ou uma fêmea alfa, caso das hienas, exercer o papel de liderança para conseguir meios de sobrevivência, abrigo e defender a sua territorialidade. Espécies gregárias não hesitam em lutar até a morte para defender aquilo que entendem como perten­cente ao bando, seja o seu território de caça ou o curso de água onde bebem.

Nós, humanos, vivemos em agrupamentos sempre muito maiores que os grupos de animais silvestres. Assim a Política se tornou mais complexa entre nós. Desde os primórdios grupos diferentes lutaram para ter o poder, com lideranças distintas. A separação geográfica criada com as migrações de grupos humanos na Pré-História acabou por ser a semente civilizacional das atuais nações que, por motivos semelhantes, entravam em guerra sempre que uma tentava pegar os recursos de outra.

A guerra no padrão humano tem sempre o componente da cobiça por trás dela. Tomar à força territórios que possam trazer mais riqueza e poder para um ou outro povo e sua classe dominante, sempre foi o motivo real para o início das guerras entre nações.

Após milhares de anos de desenvolvimento, a maneira de se lutar uma guerra chegou a um padrão que mostra que um país só vence ocupando o território alheio, e nos casos mais extremos, exterminando a cultura do povo conquistado, substituindo-a pelos padrões culturais do conquistador. Para ganhar materialmente uma guerra é necessário contar com armamento capaz de se opor e superar ao do adversário, seja por quantidade ou por qualidade; ter efetividade superior e contar com elementos humanos capazes de preencher a ocupação do território inimigo. Além disso, é preciso desenvolver estratégias e táticas eficientes. Estes dois últimos componentes são fundamentais para evitar o caminho do fracasso. Mas para que tudo isso dê certo são necessárias infor­mações precisas e conhecimento para usá-las corretamente.

Informações exatas sobre o inimigo, qual é o efetivo dele, seu armamento, onde está localizado, qual será sua movimentação e quais são seus objetivos são cruciais em qualquer guerra. Os armamentos atuais são várias vezes mais precisos e fatais do que cinquenta anos atrás e a movimentação de tropas, armas e recursos podem ser feitas com mais velocidade. Portanto, conseguir informações corretas se tornou o principal componente na concepção de estratégias e táticas. Tendo essas informações é possível criar a estratégia ideal e aplicar táticas corretas nas batalhas para vencer com o mínimo de baixas entre as próprias fileiras.

Em tempos passados essas informações chegavam via espiões, depois por balões e aeronaves de observação, todos eles facilmente identificáveis e acabavam virando alvos do inimigo. Hoje satélites, balões sub-orbitais, aeronaves invisíveis aos radares comuns e principalmente interceptação da comunicação adversá­ria por captura de suas redes digitais são os instrumentos principais para obter informações em quantidade mais volumosa e precisa. Na era digital, informações transformam-se em dados capazes de serem processados por sistemas de avalia­ção e análise. É aqui que entra a Inteligência Artificial aplicada ao uso militar.

Os sistemas inteligentes podem analisar, classificar, propor estratégias e táticas muito mais rápido que qualquer análise feita por conselheiros militares. São capazes de sugerir diversos cenários táticos em questão de minutos, poden­do fazer isso em tempo real, conforme são abastecidos pelos dados colhidos nas diversas frentes da guerra. Outro uso para a IA militar, é a divulgação de infor­mações e notícias falsas, para criar engodos que confundam o inimigo e abatam o moral da tropa adversária e da população do país envolvido. Nós, brasileiros, já servimos de cobaia para o desenvolvimento de alguns desses sistemas, basta lembrar o bombardeio de fake news que sofremos nos últimos anos.

As armas da Nova Guerra estão evoluindo com sistemas de tiro preciso de longa distância, bombas que não erram o alvo, mísseis hipersônicos, drones e sistema de defesa aérea e naval “inteligentes”. A guerra na Ucrânia tem servido de laboratório para isso tudo e pelo que se viu até agora, o lado da Otan, que fornece armamento e sistemas inteligentes para a Ucrânia, tem levado vanta­gem justamente pelo uso da IA. A Rússia tem mostrado falhas sérias em seus sistemas de organização, logística e formulação tática,
demonstrando que fazem pouco ou mau uso da Inteligência Artificial. Quanto ao lado “ocidental”, os Estados Unidos continuam mostrando que seus sistemas de inteligência militar são fracos em termos de segurança digital. Basta ver o recente caso de Jack Teixeira, militar subalterno da Guarda Aérea de Massachusetts, que vazou do­cumentos sigilosos do Pentágono às pencas em um fórum de games na Internet.

Continuarei falando sobre isso na próxima semana. Até lá.

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