Sob a presença de mais de dois mil convidados, o rei Charles III e a rainha consorte Camilla foram coroados no sábado passado, 6 de maio, em Londres, em uma cerimônia que não acontecia havia 70 anos. Embora a coroação seja apenas uma formalidade, visto que ele se tornou rei automaticamente após a morte da rainha Elizabeth II, aos 96 anos, em setembro, é um rito simbólico de passagem que formaliza o compromisso do monarca com a Coroa Britânica.
Desafio
Charles III terá o desafio de manter o respeito da maioria dos britânicos pela família real, e consequentemente, pela monarquia. No sábado, um grupo de manifestantes se vestiu de amarelo para destoar das cores do evento e alcançar maior visibilidade, em protestar contra o novo rei. O local para a reunião do grupo de mais de 1.500 pessoas não foi aleatório.
Prisão
A polícia prendeu Graham Simth, líder do grupo antimonarquista Republic, e mais 51 pessoas no centro de Londres. Seus integrantes começaram a ser liberados na noite de sábado, após 16 horas sob custódia. Na intenção de enviar um alerta histórico a Charles III, os manifestantes se encontraram na Trafalgar Square.
Lá está uma grande estátua de bronze do rei Charles I, o monarca do século 17 deposto pelo Parlamento e executado em 1649. Eles gritaram “Não é meu rei” quando a procissão real passou. “Tentamos manter a atmosfera leve, mas nosso objetivo foi torná-la impossível de se ignorar”, disse Smith.
Emprego
A coroação, disse ele, é “uma celebração de uma instituição corrupta. E é uma celebração de um homem assumindo um emprego que não mereceu”. Os ativistas republicanos há muito lutam para criar impulso para acabar com a monarquia de 1.000 anos do Reino Unido.
Mas eles veem a coroação como um momento de oportunidade. A rainha Elizabeth II, que morreu em setembro após 70 anos no trono, era amplamente respeitada por sua longevidade e senso de dever. Charles é outra questão, um homem de 74 anos cujas rixas familiares e opiniões firmes sobre tudo, desde arquitetura até o meio ambiente, têm sido manchetes por décadas.
Pesquisas
As pesquisas de opinião sugerem que a oposição e a apatia à monarquia estão crescendo. Em um estudo recente do Centro Nacional de Pesquisa Social, apenas 29% dos entrevistados consideram a monarquia “muito importante” – o nível mais baixo nos 40 anos de pesquisa do centro sobre o assunto. A oposição era maior entre os jovens.
“Acho que está definitivamente mudando”, disse Smith, cujo grupo quer substituir o monarca por um chefe de Estado eleito. “As pessoas ficam muito felizes em criticar Charles de uma maneira que não estavam necessariamente dispostas a fazer em público sobre a rainha.” Milhões no Reino Unido assistiram às transmissões quando Charles foi coroado na Abadia de Westminster.
Show
Dezenas de milhares foram às ruas e bairros de todo o país para celebrar. Mas outros milhões ignorararam as cerimônias. Alguns participaram de eventos alternativos, incluindo um show em Glasgow da banda Scottish Sex Pistols, recuperando o espírito dos punks que cantaram “God save the queen, the fascist regime” durante o jubileu de prata da falecida rainha em 1977.
A Newington Green Meeting House de Londres, um local que há 300 anos é utilizado como encontro para dissidentes religiosos e radicais, realizou uma “festa comunitária alternativa”, completa com comida, bebida e música “radical e republicana”. A cerimônia de coroação britânica é o único evento remanescente desse tipo na Europa.
Mais de seis mil membros das forças armadas participaram, incluindo representantes de pelo menos 35 países da Commonwealth, tornando-se a maior operação cerimonial militar no país das últimas sete décadas. A coroação é um serviço religioso anglicano e tem sido realizada, nos últimos 900 anos, na Abadia de Westminster – William, o Conquistador, foi o primeiro monarca a ser coroado lá, e Charles foi o 40º.
No entanto, ao contrário da última coroação, realizada em 1953, este foi um evento mais reduzido em resposta à crise do alto custo de vida que assola o Reino Unido. Aos 74 anos, Charles tornou-se rei no dia 8 de setembro do ano passado, após a morte da mãe, a rainha Elizabeth II, que ficou no poder durante 70 anos, no maior reinado do trono britânico. Como príncipe, visitou o Brasil em quatro ocasiões (1978, 1991, 2002 e 2009). Em todas, foi à região amazônica. Foi o 40º monarca a receber a coroa.