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Aplausos para Rita Lee

O cenário cultural nacional ressente a perda da cantora, compositora, instrumentista e escritora Rita Lee, que em sua autobiografia imaginou como seria a repercussão pela sua morte, onde haveriam manifestações de carinho, rádios tocando suas músicas gratuitamente, colegas declarando que fará falta no mundo da música e até dariam seu nome para uma rua sem saída.

Por enquanto só falta acontecer a última. Uma previsão em forma de pedido chamou a atenção: “nenhum político se atreverá a com­parecer ao meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los”. Apenas Eduardo Suplicy teve coragem de ir, apresentou suas justificativas e não foi vaiado.

Substantivo feminino que expressa descontentamento, desaprovação ou desprezo, em relação a uma coisa ou pessoa, a vaia é expressa através de gritos e barulhos. Segundo historiadores, seria originária da Grécia, durante a celebração anual em homenagem ao deus das festas, Dionísio. Quem opta pela vida pública está sujeito a recebê-la, assim ocorre com cantores, atores, atletas e políticos, entre outros.

Nesta semana o brasileiro está com muitos motivos para vaiar os joga­dores de futebol envolvidos no escândalo dos sites de apostas esportivas; os congressistas que insistem em convocar o ministro da justiça para au­diências públicas e passam vergonha com suas contundentes respostas; os integrantes do governo passado flagrados em articulações para a frustrada tentativa de golpe de estado; o discurso da ex-primeira dama e atual presi­dente do PL Mulher contra as cotas de gênero nas eleições proporcionais e as onze deputadas que votaram contra o projeto que institui a obrigatorie­dade da igualdade salarial e remuneratória entre mulheres e homens para a realização de trabalho de igual valor ou no exercício de mesma função, não podendo haver distinção de sexo, raça, etnia, origem ou idade.

Ficando com os dois últimos temas, observamos que a legislação atual prevê que na disputa eleitoral os partidos reservem vagas na proporção de no mínimo 30% (trinta por cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo. O Senado já aprovou um projeto que determina uma porcentagem mínima de cadeiras na Câmara dos Deputados, assembleias legislativas estaduais, Câmara Legislativa do Dis­trito Federal e nas câmaras municipais de vereadores a ser preenchida por mulheres. São avanços importantes, frutos de lutas históricas e que agora sofrem forte resistência de mulheres que se intitulam conservadoras. Diante da péssima repercussão do discurso, Michelle gravou um vídeo tentando reposicionar sua fala.

Com relação à igualdade de remuneração para quem exerce a mesma função, uma das justificativas das deputadas que votaram contra, foi de que “o projeto poderá desestimular a contratação de mulheres, causando um efeito contrário à iniciativa da proposta”. Além de machista, a tese nasce morta por si só, já que atualmente, a diferença salarial entre homens e mulheres está na média de 21% e mesmo assim elas são a maioria dos desempregados. Por mais incrível que possa parecer, as que deveriam defender as mulheres são as primeiras a prejudicá-las.

Falando em defesa da mulher, Rita Lee, não se declarava militante do movimento feminista, tão pouco empunhava bandeiras ou cartazes, mas em suas ações, manifestações e canções tratou de temas que eram tabus como drogas, sexo e menstruação. Mais do que lotar plateias e vender discos, proporcionava reflexões e alertava que o chamado “sexo frágil”, não foge à luta. A artista brasileira mais censurada consolidou uma car­reira marcada pela transgressão, sendo a primeira mulher a tocar guitarra em um palco no Brasil e escrevendo mais de 300 músicas. Vegetariana desde os anos 1970, depois vegana, foi grande defensora da causa animal e dizem que estava à frente do seu tempo.

Para não fechar a semana com vaias e pelo conjunto da obra, proponho um estrondoso aplauso para Rita Lee e todas as mulheres que compreende­ram a necessidade de sororidade, que se movimentam na luta por igualdade de direitos e possuem consciência de que o problema de uma é problema de todas e que as conquistas de uma, devem representar conquistas para todas.

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