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‘Coisa de Menino’ mostra como o machismo é passado a novas gerações

Por Matheus Mans

Brincar de boneca é coisa de menino? Homem chora? Se chorar, quer dizer que é uma pessoa frágil? E, se for uma pessoa frágil, pode ser homem “de verdade”? Esses são alguns dos questionamentos trazidos pela série brasileira Coisa de Menino, disponível no streaming HBO, com novos episódios semanais na plataforma.

Com produção executiva de Tatiana Issa e Guto Barra, que assinam a direção de Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez, e direção também de Issa e Paula Buarque, a produção mostra como o enraizado machismo brasileiro é passado às novas gerações, como o que é hoje reconhecido como “masculinidade tóxica”, em 11 famílias brasileiras.

“A gente sempre faz projetos que tenham algo a dizer, que possa transformar algo ou, pelo menos, ajudar a tocar em tópicos desconfortáveis”, conta Tati Issa ao Estadão. “Era inevitável ver que o machismo e a violência eram algo forte na nossa sociedade. Nos perguntamos de onde vinha isso. De onde vem isso de que o homem não pode chorar?”

Com isso, Coisa de Menino traz essas 11 histórias, bem distintas, buscando compreender não só as raízes desse problema, mas também como isso se apresenta ao longo das gerações. No primeiro episódio, por exemplo, são dois pais: um que não tolera “nada diferente”, e outro com criação difícil, mas que tenta não reproduzir os erros com os filhos.

ANOS 70

É um só o conflito que dita o ponto de partida da produção: de que maneira a criação dos anos 1970 ou 80 interfere na forma como pais e mães criam hoje seus meninos? Estariam eles replicando conceitos preconcebidos de como se cria “um homem de verdade”?

São diferentes realidades, em diferentes lugares do Brasil, em busca de entender a questão que atravessa a sociedade. “A gente teve um cuidado de tentar fazer um retrato de várias regiões”, comenta Guto. “Como é no Acre, em Roraima? É diferente da região Sul do Brasil? Era muito importante enxergar esses vários brasis Também não dividimos em famílias liberais ou conservadoras. Não tentamos fazer embates de duas maneiras de pensar. Focamos nos detalhes das histórias que nos ajudam a contar sobre essas questões.”

Uma coisa que chamou a atenção nos dois episódios já disponíveis foi como os personagens se abrem diante das câmeras – choram, refletem sobre o machismo, veem erros na criação de seus filhos e por aí vai. Não é simples, mas a série, certamente, é bem-sucedida nesse mergulho.

CONFIANÇA

“Quando a gente se envolve genuinamente com os personagens, quando não temos medo de mergulhar no que eles dizem, você consegue o melhor”, diz Tati. “Muitas vezes, a gente tem que deixar a pessoa se soltar, falar de outras coisas, ir por caminhos e depois trazer a pessoa de volta. É um processo de confiança. A gente também precisava cutucar algumas vezes pra mostrar que estávamos questionando comportamentos, não endossando.”

É interessante, também, a pluralidade de histórias. Não se concentram apenas na figura masculina tóxica, mas também nos efeitos que ela causa. No segundo episódio, por exemplo, acompanhamos duas mães com visões bem diferentes sobre a criação de seus filhos, com olhares bem distintos sobre o machismo. “A gente buscou trazer todos os tipos de personagens e não se concentrar em um tipo, uma verdade só”, explica Tati.

Com isso, a série consegue fazer algo rico: causar identificação O público consegue refletir, se enxergar naquele universo, compreender repetições de comportamentos. “É uma série muito importante”, avisa Tati. “A gente quer que ela chegue na pessoa que vai conseguir identificar comportamentos e talvez pensar de um jeito diferente. Se isso acontecer, a missão terá sido cumprida.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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