Luiz Paulo Tupynambá *
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O lado bom da moeda: novas oportunidades de investimento
Nessa semana que se encerra, dois fatos importantes relacionados à Inteligência Artificial aconteceram aqui no Brasil. O primeiro deles, positivo, foi a realização do Web Summit Rio, que como já está no nome, aconteceu no Rio de Janeiro. É a primeira vez desde 2009, quando o evento começou, que é realizado fora da Europa. Trata-se de uma conferência internacional sobre inovação e tecnologia voltada para a Internet. Não é uma apresentação de produtos como acontece em outros eventos como é a CES, “Consumer Eletronics Show, onde são apresentadas as novidades da indústria eletrônica, como ”smartphones” e novos aparelhos gigantes de tv. Na Web Summit se fala, conversa e respira, sobre novas tecnologias e os rumos da internet. É o principal palco mundial de apresentações das “startups” inovadoras que batalham um lugar ao sol no competitivo mundo digital. Também tem palestras com os principais nomes da área e debates temáticos. E como não podia deixar de ser, no evento carioca, a Inteligência Artificial é o assunto de noventa e nove por cento das apresentações e debates.
Qual é a importância desse evento para o Brasil? Simples: atrair muito investimento para o ecossistema tecnológico brasileiro, pois os participantes vindos de fora podem conhecer e informar-se melhor das condições para investir aqui e ter contato mais próximo com as “startups” brasileiras. Para se ter uma ideia de como isso possibilita aportar recursos para o país, cito um trecho do artigo publicado pela jornalista Louise Bragado em primeiro de maio de 2023, na Época Negócios: “Em 2022, as startups fundadas ou com sede em Lisboa valiam 21,4 bilhões de euros — 27 vezes mais do que em 2016, segundo pesquisa da consultoria global Dealroom.co. Não é coincidência: a partir de 2015, a capital portuguesa passou a ser a casa do Web Summit na Europa, e a chegada do evento naquele ano levou as atenções para a cidade. Aos poucos, Lisboa passou a atrair investidores e a fortalecer seu ecossistema. Hoje, é considerada um centro de referência em inovação e tecnologia”. O interesse dos brasileiros surpreendeu positivamente os organizadores do evento, pois nessa primeira edição inscreveram-se para participar presencialmente vinte mil pessoas, quando a primeira estimativa era de cinco mil. Para o ano que vem já se prevê um público de trinta mil participantes, o que mostra que nosso país tem tudo para crescer quando se fala de investimentos e empregos na Nova Economia. Pessoal criativo e competente, com vontade de empreender e crescer, não falta. Vale lembrar que a “Web Summit” tem contrato de seis anos com o município do Rio de Janeiro.
O lado ruim da moeda: interferência indevida
Depois de três anos de tramitação, no dia 25 de abril 2023 foi aprovado o Regime de Urgência para a votação do Projeto de Lei 2630/20, mais conhecido como Projeto de Lei das Fake News. Aprovado no Senado e encaminhado para a Câmara, teve seu relatório final apresentado pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). A votação foi marcada para o dia 2 de maio, mas acabou não acontecendo. A urgência da votação foi retirada a pedido do relator e o Projeto de Lei das Fake News voltou para a fila.
Os motivos do pedido de adiamento foram, segundo o relator, o grande número de emendas de última hora apresentadas por vários deputados, o descumprimento do acordo feito com bancadas que decidiram deixar de apoiar o projeto e, principalmente, pela indevida interferência do Google e do Twitter.
Nos dias anteriores à votação marcada na Câmara, o Google publicou anúncios próprios e de terceiros, desancando as propostas do Projeto de Lei e restringiu as opiniões favoráveis a ele. As opiniões desfavoráveis eram exibidas no topo da página de buscas, lugar nobre e caríssimo sem cobrança nenhuma, caracterizando um impulsionamento indevido. As opiniões favoráveis eram jogadas para o final da fila das páginas de pesquisas, o que praticamente inviabiliza a visualização. O Twitter, do já conhecido Elon Musk, nem publicou milhares de opiniões favoráveis, simplesmente ignorou. E colocou opiniões contrárias ao projeto nos chamados “trending tops”, mesmo com poucos leitores e compartilhamentos. Essa atitude das plataformas pressionou os deputados, que sabidamente são muito influenciados, pelas plataformas digitais e vários mudaram o voto no último minuto, carregando consigo bancadas inteiras.
Ninguém engole essa conversa de defesa da liberdade de opinião vendida pelos donos do Google e por Elon Musk. As “big-techs” hoje são mais poderosas e ricas que a maioria dos países do mundo e jogam pesado para manter sua situação atual. E não cedem um centavo para ninguém, nem mesmo em nome da defesa da vida ou do bem comum. China, Índia, Rússia e a maioria dos países árabes censuram e controlam o fluxo de informação nas redes. A Europa já aprovou e implantará logo uma política severa de controle sobre conteúdo e difusão, buscando um formato democrático e ético e coibindo as vertentes totalitárias, de esquerda ou direita. Sobraram dois gigantes no consumo de dados no mundo onde a legislação é fraca, justamente as duas maiores democracias ocidentais: Estados Unidos e Brasil. E as “big techs” parecem dispostas a tudo para impedir qualquer controle sobre elas nesses dois países. Pior para nós.
Semana que vem tem mais. Até lá.
* Ativista cultural, jornalista e fotógrafo de rua