Tribuna Ribeirão
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Sara e o Cura

Rui Flávio Chúfalo Guião *
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Basta começar o lusco-fusco, com a queda da luminosidade do dia e se estabelecer a quietude na casa, para que o casal de saracuras, a Sara e o Cura, venha em busca de sua lagoa particular, a nossa piscina. Vão chegando devagar, assuntando a área e param embaixo de um banco verde. Quando notam tudo quieto, estendem seus bicos e começam sua caminhada para o banho do dia. Protegidos por uma tela mosqueteira, que dificulta  sermos vistos,ficamos observando, fascinados, o balé das duas avezinhas. É nosso melhor programa daquela hora do dia.

Elas começam com um bailado de higienização das penas: estendem as asas e, com o bico, vão se lavando. Sacodem-se, torcem o pescoço, dão uns pulinhos, até que o banho esteja completo. Então, lançam-se na piscina, onde nadam em giros na beira d’água. Saciados com o programa, pulam para a borda e se movimentam para jogar fora a água excedente.

Depois, a passos firmes e regulares, afastam-se da piscina para se esconder no emaranhado da trepadeira perto, onde passam a noite.

Há muitos anos convivemos com estes nossos amigos. Algumas vezes, logo de manhãzinha, quando abro a porta da frente da casa, elas estão caçando pequenos insetos no gramado. Fogem em desabalada carreira quando nos vêm e desaparecem sem deixar vestígio.

Várias vezes no horário do almoço, que fazemos na ampla varanda da casa, elas aparecem devagar, mas, não passam do banco verde.Ao menor sinal de movimento, saem correndo.

As saracuras não voam. Dão saltos voadores, como as galinhas, quando precisam escapar de um perigo. Nestas horas, quando batem as asas, podemos observar a delicadeza de suas cores, principalmente quando expostas ao sol.

Existem mais de trinta espécies de saracuras, em todos os continentes, várias delas encontradas em nosso país. Com pernas altas, parecem um frango-d’água, porém mais coloridas. Dependem de brejos e locais com água e se alimentam de pequenos insetos, brotos de gramíneas e grãos. Gostam bastante de milho.

Temos um local onde colocamos diariamente quirera de milho e que atrai não só as saracuras, como rolinhas, canários-da-terra, sabiás, gaturamos e outras aves. Quando a saracura se aproxima, dá um chega-para-lá em todos, espantando-os para se alimentar sozinha. Satisfeita, arrisca se aproximar da piscina, mesmo com gente perto, para beber água, o que faz com  os pés na beira e com o bico buscam o líquido.

A Sara e o Cura originais já nidificaram e tiveram filhotes em nossa casa. Nunca conseguimos ver o ninho, escondido no meio das folhas da grande trepadeira. Ainda pequeno, o filhote, sempre único, acompanha as andanças e peripécias dos pais,  crescendo a olhos vistos.

Quando atinge o  tamanho dos adultos, aventura-se em novos destinos. Nem mesmo sabemos se a Sara e o Cura atuais são as originais ou se mudaram para novos ares e deixaram seus filhos no lugar.

Seu instinto de sobrevivência é grande. Morando numa chácara, recebemos a visita de gambás, que gostam de atacar as aves. Nunca vimos uma saracura morta em nosso quintal.

Gostam de se manter num determinado território, por onde passeiam bastante em grande área. No condomínio onde moramos, nossas saracuras não são as únicas, pois as encontro longe de casa em minhas caminhadas.

Algumas vezes, passamos um tempo sem vê-las, mas, ficamos contentes quando, no nascer do dia ouvimos seu canto estridente: “Três potes, três potes,três potes”, sinal de que teremos nosso espetáculo vespertino do dia.

* Chairman da Santa Emília Automóveis e secretário-geral da Academia Ribeirãopretana de Letras 

 

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