A vida humana é interessante devido aos comportamentos não cognitivos e às experiências angariadas ao longo da bela trajetória da vida. Fascinante como a inteligência, outras habilidades e outras emoções, como, por exemplo, criatividade, tomada de decisão, amor, dor, paixão, empatia, entre outras, são partes igualmente importantes da natureza humana. Devido a isso, um conceito que tem emergido nos últimos anos, alcançando grande impacto em diferentes áreas da vida, é a inteligência emocional. Dentre suas muitas definições, uma delas é a capacidade para raciocinar, entender e manejar emoções, acrescida da capacidade de estas últimas utilizar para enriquecer o pensamento ou a cognição. Obviamente, vários são os benefícios em teorizar acerca de mais um tipo de inteligência, mas o valor real da inteligência emocional depende dessa habilidade enquanto traço capaz de predizer, ou explicar, os desfechos na vida real.
Especialistas no assunto têm, invariavelmente, registrado que as medidas de inteligência emocional correlacionam-se, apenas modestamente, com as variáveis do mundo real, tais como, desempenho no emprego, suporte social e apego (correlações positivas), bem como, desvio social e agressão (correlações negativas). Por sua vez, a literatura publicada de boa qualidade não a favorece, mostrando que os testes que a medem e a mensuram são preditores frágeis do desempenho acadêmico quando comparados com os testes de QI sobre esses mesmos elementos. Por exemplo, inteligência emocional correlaciona-se em 0,23 com a posição acadêmica escolástica, e em 0,28 com o desempenho no trabalho. Ao passo que, escores de inteligência cognitiva se correlacionam de 0,50 a 0,70 com sucesso acadêmico e entre 0,25 a 0,50 com desempenho no emprego. Do mesmo modo, as relações entre inteligência emocional e desfechos interpessoais, tais como, evitar o divórcio, ter um grande círculo de amigos e criar crianças bem ajustadas, desfechos que são inquestionavelmente sociais por natureza, são, também, pouco correlacionados entre si, o que causa desapontamentos. Em outras palavras, onde mais se esperaria que inteligência emocional atuasse como preditora, esta, infelizmente, não alcança sucesso.
Entretanto, essas correlações fracas não necessariamente indicam que a relevância da inteligência emocional, persistindo em outros estudos bem designados envolvendo traços de personalidade, tais como aqueles incorporados na Teoria dos Cinco Grandes Fatores, alguns dos quais são importantes na vida diária. Por exemplo, estudos têm mostrado correlações positivas elevadas entre inteligência emocional e os traços de personalidade de agradabilidade, conscienciosidade e neuroticismo. Traços, estes, mensurados pelos testes que medem inteligência emocional. O papel dos traços de personalidade é potencializado por estudos que mostram correlações reduzidas, algumas vezes baixas como o zero, entre escores de inteligência emocional e desfechos práticos da vida real após controlar para traços de personalidade. Dito de outra maneira, os testes de inteligência emocional apenas incorporam medidas dos traços de personalidade. Nada de novo no mundo dos testes.
Importa que se afirme que um problema fundamental com inteligência emocional é que não há qualquer razão justificável pela qual inteligência geral e cognitiva não possam fazer o papel da inteligência emocional. Inúmeras pesquisas mostram que o constructo de inteligência geral já é usado para raciocinar sobre as emoções de outros e, também, sobre estados internos. Também há evidências de que inteligência geral permite tratar as emoções como uma fonte de informação que uma pessoa usa para tomar decisões. Logo, inteligência emocional seria apenas uma roupagem nova para o imperador, nos dominando há mais de um século, exatamente 120 anos.
Certamente, inteligência e emoções são conceitos importantes nas diferentes arenas da vida. Talvez, no mundo moderno, devendo ser valorizadas em suas múltiplas facetas.