Por: Adalberto Luque
A Polícia Civil e a Corregedoria da Polícia Militar realizaram, na manhã desta quinta-feira (27), a Operação Alcateia, com o objetivo de prender pessoas ligadas a um suposto grupo de extermínio que estaria agindo em Ribeirão Preto.
Dois policiais militares e uma terceira pessoa, que não é policial, acabaram presos no âmbito da operação. Eles podem ser integrantes de um grupo de extermínio e passaram a ser investigados após a prisão de um policial militar aposentado, em janeiro deste ano.
Os presos não tiveram suas identidades reveladas. De acordo com informações, o homem que não é policial militar seria testemunha de uma ocorrência, mas passou a ser investigado também como integrante do suposto grupo de extermínio. Os PMs são investigados por participação em execuções ocorridas nos últimos anos.
Primeira prisão
No dia 27 de janeiro, um homem foi baleado na porta de sua casa, na Rua Amparo, Vila Mariana, zona Norte de Ribeirão Preto. Ele estava no portão de sua casa com o filho no colo, quando um veículo passou e alguém em seu interior efetuou cinco disparos. O homem levou dois tiros e foi hospitalizado. A criança não se feriu.
No dia seguinte, 28 de janeiro, policiais da Divisão Especial de Investigações Criminais (DEIC), com apoio de PMs do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP), efetuaram a prisão do PM aposentado Yuri Vinícius de Almeida Malta, de 28 anos, no Parque Bandeirantes, zona Leste da cidade.
Ele teria sido afastado da Corporação por razões psicológicas e acabou aposentado. Na ocasião da prisão, o promotor de Justiça, Marcus Túlio Alves Nicolino, disse acreditar que o ex-PM tenha participado de, pelo menos, sete casos de homicídio na cidade. “Há aí suspeitas de que ele faça parte de um grupo de extermínio em Ribeirão Preto. Há também elementos de que ele não esteja agindo sozinho. A Polícia vai apurar isso, mas há possibilidade de outras pessoas estarem participando deste grupo de extermínio”, disse o promotor.
Nicolino explicou que a prisão é importante não só para o esclarecimento do caso da Vila Mariana, ocorrido na véspera da prisão do ex-PM. Para o promotor, desta forma será possível esclarecer outros casos que aconteceram. Ele adiantou também que o suspeito poderia estar se preparando para cometer mais um homicídio no dia 29 de janeiro.
“Há elementos nesse sentido”, disse o promotor, à época. Na Polícia Civil, o caso corre em segredo de Justiça. A defesa de Malta informou, na ocasião, que iria se manifestar somente no momento oportuno, o que ainda não ocorreu.
Grupo de extermínio
Entre o final do século passado e início do atual, dezenas de pessoas teriam sido executadas em Ribeirão Preto. O ex-policial civil Ricardo José Guimarães é apontado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) como chefe de um grupo de extermínio que atuou na cidade nas décadas de 1990 e 2000.
Ele tem várias condenações por outros oito homicídios – somadas as sentenças desfavoráveis, acumula 244 anos de cadeia e ainda vai responder por mais cinco assassinatos. Segundo o promotor Marcus Túlio Nicolino, o grupo de extermínio agiu em Ribeirão Preto entre 1994 e 2002 e pode ter executado 70 pessoas.
Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), em 1994 a cidade registrou 94 homicídios. Depois, de 1995 a 2002, o balanço sempre esteve na casa dos três dígitos – 119 (1995), 221 (1996), 209 (1997), 222 (1998), 251 (1999), 263 (2000), 202 (2001) e 190 (2002). Nos último três anos, foram 52 em 2022, 56 em 2021 e 49 em 2020.
As investigações, no âmbito da Operação Alcateia, prosseguem em segredo de Justiça. Os PMs presos devem ser transferidos para o presídio militar Romão Gomes, na Capital.