A mudança radical no mercado de trabalho na próxima década (2024- 2033), provocada pelo uso maciço da Inteligência Artificial, foi um dos principais temas debatidos no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça, no início do ano. Na visão do painel em que esse tema foi discutido, provavelmente um bilhão de empregos serão afetados com esse novo cenário. Mas esse número não é definitivo; outras instituições fazem estimativas menores e que variam também quanto aos tipos de empregos que serão erradicados ou substituídos por novas profissões que surgirão no futuro, baseadas na nova tecnologia dominante. Como toda previsão, ela se tornará fato quando ocorrer e só aí saberemos o tamanho exato de seu impacto no mercado de trabalho.
O século XX, cuja segunda metade o historiador britânico Eric Hobsbawm chamou de Era de Ouro do desenvolvimento humano, foi marcado pelo desenvolvimento da Sociedade Industrial, que abrigou em seu bojo a produção maciça de bens, o desenvolvimento das comunicações, do comércio, da prestação de serviços e da agricultura. A relação Capital-Trabalho observou um acirramento, causando o surgimento de um sindicalismo forte e reivindicativo. Vimos, após a Segunda Guerra Mundial, uma divisão ideológica entre o lado Capitalista, liderado pelos Estados Unidos e o lado Socialista, comandado pela União Soviética. Porém, de um lado ou do outro, a Economia do mundo industrial exigiu novos tipos de trabalhadores, com conhecimento mais específico e especializado. Por isso o ensino de nível universitário ganhou forte impulso já nos primeiros anos do século, preenchendo essa lacuna de trabalhadores especializados.
O mundo industrial produzia bens cada vez mais complexos, atendendo a uma massa crescente de consumidores, o que exigiu fábricas maiores e mais produtivas. A segmentação dos processos industriais precisou de supervisão qualificada em cada um de seus segmentos, coisa que foi suprida pelos profissionais formados nas novas universidades, em cursos especializados. Engenheiros-mecânicos gerenciavam as fábricas, administradores de empresas e contadores cuidavam da papelada e da área fiscal. Profissionais de vendas disputavam palmo a palmo o mercado com os concorrentes.
Da mesma forma, os relacionamentos trabalhistas exigiram o surgimento de advogados especializados e de assistentes sociais para cuidar das demandas sociais dos trabalhadores, empregados ou não. Esse mesmo modelo adaptou-se para as outras áreas de atividade econômica e aí apareceu o veterinário, o engenheiro agrônomo e o zootecnista, na área do agronegócio. Com novos produtos e consumidores, veio a necessidade de se diferenciar dos concorrentes, o que trouxe a propaganda. E com ela os publicitários e marqueteiros. Na área da saúde vieram os médicos especialistas, os dentistas, os nutricionistas e outros. A Educação ganhou novo “status”, não bastava mais apenas ler, escrever e decorar a tabuada. O novo profissional tinha que atender às demandas do mercado de trabalho da Economia Industrial.
Esses profissionais de formação universitária, na época, ampliaram de forma exponencial a massa da classe média no mundo todo. O profissional universitário, no mundo industrial e de prestação de serviços, sempre teve uma empregabilidade alta. Uma das características dessa empregabilidade era a que mostrava que o profissional universitário com mais experiência conseguia os melhores salários. Porém, hoje, esta é a classe de trabalhadores que tem suas vagas ameaçadas pela Inteligência Artificial na próxima década. Serão aqueles que não conseguirem desenvolver novas aptidões que respondam à tecnologia e à inovação no mundo da Inteligência Artificial. Existe o risco real de profissionais com vários anos de experiência perderem seu emprego e não terem mais como conseguir outro em nível semelhante.
A nova realidade pede profissionais, universitários ou não, que tenham habilidades, que os tornem capazes de direcionar a Inteligência Artificial para execução de tarefas cada vez mais complexas. Ao mesmo tempo devem ser criativos, receptivos às novas tecnologias e ainda conhecerem e exercerem liderança. Ou seja, as pessoas que não estiverem preparadas para desenvolver novas aptidões que respondam à tecnologia e à inovação, poderão enfrentar sérios problemas para ingressar ou se manter no mercado de trabalho. O tão falado ChatGpt é a interface mais conhecida disso. Mas existem centenas de outras interfaces que usam essa lógica, para executar trabalhos como programação, produção e correção de textos, criação de imagens, ilustrações, sons e vídeos. Outras são capazes de realizar e consolidar pesquisas, retornar análises sobre finanças, elaborar cenários a partir de dados desvinculados e fazer previsões climáticas.
Portanto se você já faz parte do mercado de trabalho, ou está buscando seu lugar ao sol, seja universitário ou não, é melhor dar uma boa olhada no que está acontecendo em sua área relacionado à Inteligência Artificial. Mas não se apavore, observe, peça a opinião de outros profissionais em sua área e, se for o caso, procure uma maneira de se preparar para as mudanças, com cursos e experiências práticas. Semana que vem falaremos mais sobre isso. Até lá.