A quarta e penúltima etapa para a separação definitiva das irmãs siamesas craniópagas Alana e Mariah, de pouco mais de dois anos de idade, será realizada neste sábado, 15 de abril, no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Elas são de Piquerobi, na região de Presidente Prudente, no interior paulista, e nasceram unidas pela cabeça. Hoje receberão expansores de pele.
A terceira intervenção cirúrgica, em 11 de março, terminou depois de sete horas. No dia 14, em entrevista coletiva, o professor Hélio Rubens Machado, chefe do setor de Neurologia Pediátrica do HC e líder da equipe que acompanha as gêmeas, explicou porque a cirurgia reparatória é importante.
“Nós temos que passar por um procedimento intermediário que vai preparar, então, a pele, para que se consiga ter um resultado estético bom”, disse. Além da estética, o procedimento também tem um efeito reparador das intervenções anteriores. A cirurgia terá início às 9h30 e deve terminar por volta de 13 horas.
Os expansores de pele, segundo o Hospital das Clínicas, são bolsas de silicone inflável que foram feitas especialmente para as meninas e já estão na unidade de saúde. O procedimento será realizado na Unidade Campus do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP).
Todo o processo foi minuciosamente planejado. A equipe médica é composta por cerca de 40 profissionais. As gêmeas responderam bem à terceira intervenção e estão sendo cuidadas no HC Criança acompanhadas pelos pais, Vinícius dos Santos e Talita Francisco Cestari. As irmãs estão se comunicando, movimentando-se e se alimentando bem.
Abril e julho
A intervenção foi realizada por equipe composta por profissionais de diversas áreas como Neurocirurgia Pediátrica, Cirurgia Plástica, Pediatria, Radiologia, Enfermagem e de apoio. De acordo com a previsão médica, no fim de julho as meninas devem passar pela cirurgia final e, no mesmo dia, por uma cranioplastia, onde a equipe de cirurgia plástica deve cobrir o cérebro das meninas.
Assim como nas cirurgias anteriores, o procedimento deste sábado foi minuciosamente planejado com exames clínicos, laboratoriais e de imagem de ressonância magnética e tomografia computadorizada. Tudo integrado a um sistema de realidade virtual que permite aos cirurgiões visualizar com óculos especiais a anatomia dos crânios, dos cérebros e dos vasos sanguíneos que serão abordados durante a cirurgia.
Técnica
A novidade nesta etapa foi a utilização de neuronavegador e realidade mista durante o procedimento cirúrgico. A técnica utilizada foi desenvolvida e aprimorada pelo médico norte-americano James Goodrich (1946-2020) e prevê a separação por etapas. A incidência de gêmeos unidos pela cabeça é extremamente rara, representando um caso em cada 2,5 milhões de nascimentos.
No Brasil, a primeira separação de siamesas craniópagas, as gêmeas Maria Ysadora e Maria Ysabelle, ocorreu em outubro de 2018, após cinco procedimentos cirúrgicos, pela equipe do HC de Ribeirão Preto e HC Criança. Elas voltaram para Patacas, distrito de Aquiraz, no Ceará, onde nasceram, no final de março de 2019, acompanhadas pelos pais, Diego Freitas Farias e Débora Freitas.
O processo de separação das duas, em 2018, no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, era inédito no Brasil até então. Receberam alta médica do HC Criança em 7 de dezembro de 2018. Todo o processo de separação das meninas foi custeado pelo Sistema Unificado de Saúde (SUS). Nos Estados Unidos, uma cirurgia de separação como a delas custa cerca de R$ 9 milhões.
Goodrich
O caso foi acompanhado pelo médico norte-americano James Goodrich, referência internacional em intervenções com gêmeos siameses e que faleceu por covid-19 em 2020. Com a terceira cirurgia, a equipe médica conquistou 75% de individualização das artérias e vasos sanguíneos. E avançou mais 25% para a separação dos cérebros.