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Fraternidade, fome e moradores de rua

Durante o período da quaresma, a Igreja Católica no Brasil realizou a tradicional Campanha da Fraternidade. Em 2023 seus fiéis foram convocados a refletir à luz da fé o impacto da fome no país. O tema “Fraternidade e Fome” e o lema bíblico “Dai-lhe vós mesmos de comer” (Mt 14,16), provocaram a reflexão sobre a importância de saciar a fome dos irmãos mais necessitados, estimados em mais de 33 milhões de pessoas em situação de pobreza e fome. Desse contingente, 192 mil pessoas vivem perambulando pelas ruas e calçadas das grandes cidades.

A cada mudança de governo são anunciados programas para resolver o problema, mas, geralmente, acabam sem provocar grandes mudanças. Segundo especialistas, uma das dificuldades encontradas para sensibilizar pessoas em situ­ação de rua para utilizar os serviços de acolhimento institu­cional é a rigidez das normas e estruturas onde o indivíduo perde sua autonomia, já que aspectos básicos como horário de banho, alimentação entradas e saídas são controlados pelas instituições. Sua origem, trajetória de vida, aspectos de saúde física e mental e relação com o grupo familiar tam­bém precisam ser considerados.

Segundo a prefeitura de São Paulo, baseado no CadÚnico a cidade tem mais de 52 mil pessoas vivendo nas ruas. En­quanto o governo municipal começou a remover as barracas armadas durante o dia em espaços públicos, o governo do estado ensaia lançar o programa “Saindo das Ruas”, que pre­tende enviar moradores de rua, da capital, para o campo, no interior do estado. Na proposta estariam incentivos para os produtores rurais contratarem pelo menos uma pessoa em situação de rua. A contrapartida do estado seria o custeio do transporte dos moradores e a compra da produção.

Visto como uma política higienista, antes mesmo de ser apresentado o programa encontra resistência. Como exem­plo a Defensora Pública e agentes sociais formularam vários questionamentos sobre como seria o convencimento das pessoas, a capacitação para o trabalho agrícola, a remunera­ção, as condições de trabalho e habitação e os mecanismos para evitar empregos precarizados e análogos à escravidão como já vem ocorrendo. O princípio constitucional da liber­dade também estaria sendo ofendido com a expulsão com­pulsória, inclusive, em 2017 a Política Estadual de Atenção Específica para a População em Situação de Rua estabeleceu entre outros, o “respeito às singularidades de cada pessoa em situação de rua, com observância do direito de livre cir­culação entre municípios e a permanência nos municípios que forem mais convenientes à manutenção de sua vida e dignidade, conforme opção de cada indivíduo”. Outra inda­gação necessária é o que está sendo feito ou pensado para os moradores de rua do interior?

No país onde 49% da população se dizem católicos e 26% evangélicos deveria ser tarefa mais natural viver de verdade o espírito fraterno das primeiras comunidades, que imita­vam Jesus na partilha do pão e no olhar amoroso e solidário aos irmãos e irmãs mais necessitados. Quanto ao poder público, tanto no executivo quanto no legislativo diversos políticos foram eleitos se auto declarando cristãos. Está aí uma grande oportunidade de também transformarem o dis­curso em prática. Já que uma das características do Cristo era ouvir, acolher e cuidar.

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