Tribuna Ribeirão
Justiça

Jair Bolsonaro vai depor à PF no dia 5

André Borges e Adriana
Fernandes (AE)

A Polícia Federal marcou para 5 de abril o depoimento de Jair Bolsonaro (PL) no inquéri­to que trata da entrada ilegal de joias no Brasil. Outro integran­te do governo que será ouvido é o ex-ajudante de ordens do ex-presidente, tenente-coronel Mauro Cid. A previsão é de que Bolsonaro, que está nos Estados Unidos, chegue em Brasília na manhã desta quinta-feira, 30 de março. A informação já foi con­firmada por sua assessoria.

O ex-presidente guardou presentes recebidos durante seu mandato em uma propriedade do ex-piloto de Fórmula 1 e seu amigo Nelson Piquet, em Bra­sília. Para a chamada Fazenda Piquet, localizada no Lago Sul – uma das regiões mais valoriza­das da capital federal –, foi enca­minhado um terceiro estojo de joias que ficou em posse de Bol­sonaro após o fim do mandato, conforme revelado na noite de segunda-feira (27) pelo Estadão.

O pacote com os presentes em ouro branco e diamantes também foi dado pela Arábia Saudita. O estojo inclui um reló­gio da marca Rolex – avaliado em R$ 364 mil – uma caneta da mar­ca Chopard, abotoaduras, um anel e uma masbaha – um tipo de rosário árabe. O valor de to­dos os bens passa de R$ 500 mil. Já são três presentes dados ao ex­-presidente pelo regime saudita.

Nesta quarta-feira (29), o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que Bolso­naro devolva, imediatamente, a terceira caixa de joias que ele recebeu do regime da Arábia Saudita e que ele guardou para si, em vez de ter enviado para o acervo do Estado Brasileiro. Ainda alertou o ex-presidente sobre a omissão de informações relacionadas aos presentes que recebeu do regime saudita.

O primeiro estojo de joias, como também revelou o Esta­dão, era destinado à primeira­-dama Michelle Bolsonaro. O governo tentou entrar ilegal­mente no país com colar, anel, relógio e par de brincos de dia­mantes avaliados em R$ 16,5 milhões, mas a caixa com as joias foi apreendida pela Receita.

O segundo presente – reló­gio, par de abotoaduras, cane­ta, anel e masbaha – todos da marca Chopard e avaliados em R$ 800 mil – foi devolvido pela defesa de Bolsonaro ao poder público, por ordem do Tribunal de Contas da União (TCU).

A reportagem apurou que o último conjunto, diferentemente das outras duas caixas, foi rece­bido em mãos pelo próprio ex­-presidente, quando esteve com sua comitiva em viagem oficial a Doha, no Catar, e em Riad, na Arábia Saudita, entre 28 e 30 de outubro de 2019. Como ocorreu com a segunda caixa, a terceira está entre os bens guardados na Fazenda Piquet.

Para lá, Bolsonaro mandou joias, enquanto itens como car­tas e livros foram despachados para o Arquivo Nacional e a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Esses pertences rece­beram o entendimento de que seriam do Estado brasileiro, ao passo que as joias foram tratadas como bens pessoais.

A propriedade de Piquet – escolhida para abrigar perten­ces que Bolsonaro não queria entregar para a União – rece­beu dezenas de caixas. O ma­terial alocado na propriedade do amigo e apoiador do ex­-presidente saiu pelas garagens privativas dos Palácios do Pla­nalto e da Alvorada – este re­sidência oficial da Presidência.

A reportagem procurou Piquet para questioná-lo sobre os motivos de guardar, em sua propriedade, os bens que Bol­sonaro alega que são dele, ape­sar deste entendimento con­trariar a lei e o que determinou o TCU em 2016. Não houve resposta. Piquet é um cabo eleitoral ativo de Bolsonaro.

Em novembro do ano pas­sado, um mês antes de alocar os presentes do então presi­dente, o ex-piloto brasileiro participou das manifestações contra a derrota Bolsonaro. O tricampeão de F1 chegou a fa­zer uma doação de R$ 501 mil para a campanha de Bolsona­ro, em agosto de 2022.

Na semana passada, Nel­son Piquet foi condenado a pa­gar uma indenização de R$ 5 milhões por falas racistas e ho­mofóbicas dirigidas ao piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton, da Mercedes, durante entre­vista a um canal do YouTube. Cabe recurso.

O terceiro estojo entrou na mira de parlamentares, que procuraram o TCU para cobrar que Bolsonaro entregue o con­junto. Parlamentares do PSOL pediram o confisco das joias. “Solicitamos que este Tribunal adote as medidas cabíveis para restituição dos bens ora citados e a eventual responsabilização do ex-presidente Jair Bolsona­ro”, diz o pedido de duas con­gressistas do partido.

Ao se manifestar sobre os presentes, o advogado do ex­-presidente Bolsonaro, Frede­rick Wassef, declarou que Bol­sonaro, “agindo dentro da lei, declarou oficialmente, os bens de caráter personalíssimo rece­bidos em viagens, não existindo qualquer irregularidade em suas condutas”. Procurada, a defesa do ex-presidente não respondeu sobre a terceira caixa.

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