Por: Adalberto Luque
As investigações sobre a nuvem tóxica, que levou cerca de 100 pessoas intoxicadas ao hospital, em 04 de outubro de 2022, ainda prosseguem. De acordo com o delegado que investiga o caso, Igor Franco Godoy Dorsa, a única vítima fatal, Alessandra Alves da Silva, pode não ter morrido em consequência direta da nuvem tóxica que causou a intoxicação coletiva.
Segundo ele, o Instituto Médico Legal (IML) concluiu, em laudo necroscópico, que a mulher morreu por intoxicação causada por entorpecentes. “O IML apontou que ela teve uma intoxicação por consumo de entorpecente. Porém, não descartou a associação de outro fator como causa da morte. A causa da morte vem descrita como intoxicação, porém com a possibilidade de interferência de outro agente externo”, explicou o delegado.
O Departamento de Química da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, que também participou das análises das substâncias encontradas em Pontal, identificou a presença de heptano, um agente que pode causar tosse, irritação e outras reações se inalado em grande quantidade. Existe a possibilidade do heptano ter contribuído com a morte de Alessandra.
Empresa multada
Em outra frente, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) multou uma indústria em R$ 68 mil. A empresa teria despejado produtos químicos diretamente na rede de esgoto que atende toda a cidade. Isso poderia ter causado a nuvem tóxica que gerou problemas de saúde a dezenas de moradores e desalojou milhares, para evitar mais casos de intoxicação.
Em nota, a Cetesb explicou: “Em razão da ocorrência registrada em outubro do ano passo, a empresa Bioclara Indústria Química Ltda. foi penalizada pela Cetesb em R$ 68.520,00, por lançamento de efluentes industriais, em desacordo com a legislação ambiental vigente. A Cetesb fez exigências técnicas quanto ao atendimento dos padrões legais de lançamento de efluentes e fará inspeções regulares na indústria.”
A advogada da empresa, Maria Cláudia Seixas, informou que os laudos da Cetesb foram encaminhados aos químicos da empresa.
Relembre o caso
Na noite de terça-feira, 04 de outubro de 2022, por volta de 19h30, dezenas de pessoas começaram a passar mal. Em pouco menos de duas horas a cidade viveu um grande caos. Na época, segundo o vice-prefeito e interventor da Santa Casa de Pontal, João Henrique Dias Pedro, 98 pessoas passaram por atendimento médico. Todas com sintomas de intoxicação.
O foco foi o bairro Campos Elíseos. Os casos mais graves foram encaminhados para hospitais de Sertãozinho e Ribeirão Preto. Uma das vítimas, Alessandra Alves da Silva, morreu enquanto era atendida na Santa Casa de Pontal.
Cerca de 1.000 pessoas passaram a noite em alojamentos ou casas de amigos e parentes. Bairros próximos também foram evacuados. Desde então, uma grande investigação envolvendo Polícia Civil e Cetesb, com apoio do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Departamento de Química da USP e IML, tem buscado estabelecer o que de fato causou o problema.
De acordo com o delegado responsável, 16 laudos periciais foram anexados ao inquérito. “A gente vai fazer a análise dessa documentação, ver a documentação que foi enviada também pela Vigilância Sanitária de Pontal, para ver se há ou não uma possível responsabilização criminal pelo descarte irregular na rede fluvial de Pontal”, conclui Dorsa. As investigações prosseguem.